O legado do Papa Francisco – por Leonardo da Rocha Botega
O pontífice que “escolheu a Ética da Acolhida em negação à moral da exclusão”

Estive em Buenos Aires alguns meses após a eleição de Jorge Mario Bergoglio como novo pontífice, em 2013. Em uma conversa com um motorista de táxi, perguntei sobre o novo Papa. O taxista sorriu e passou a me contar que seguidamente levava o então Arcebispo de Buenos Aires nas visitas surpresas que este fazia nas paróquias e, principalmente, nos jogos do San Lorenzo, time do coração do papa argentino.
O cardeal Bergoglio dispensava o uso do carro oficial da Arquidiocese para caminhar pelas ruas do centro da cidade, andar de metrô, de ônibus ou de táxi. Gostava de conversar e, segundo meu interlocutor, tinha um senso de humor peculiar. Foi este personagem que, em suas próprias palavras, foi “buscado no fim do mundo” para assumir o cargo mais importante da Igreja Católica e a chefia do Estado do Vaticano.
Jorge Bergoglio escolheu como nome Francisco, uma homenagem à São Francisco de Assis, descrito pelo escritor humanista Hermann Hesse como “o homem da pobreza, o homem da paz”, aquele que “nos traz essa paz”. Bergoglio foi o primeiro pontífice a adotar o nome Francisco. Também foi o primeiro Jesuíta a chegar ao pontificado, o que, por si só, já representava uma novidade e uma grande incógnita.
Após dois pontificados de fechamento dogmático e conservadorismo político, marcados por escândalos éticos e perseguição aos católicos que pensavam diferente, Francisco assumiu com um objetivo bem definido: abrir a Igreja para o mundo, construir uma “Igreja em saída”, como ele mesmo falava. Para cumprir esta tarefa, escolheu a Ética da Acolhida em negação à moral da exclusão.
Francisco acolheu as mulheres presas, os moradores de rua, os autistas, a comunidade LGBTQIA+, os refugiados, os palestinos e todas as vitimas das guerras e dos genocídios. Em síntese, Francisco acolheu todas as pessoas que de alguma forma sofrem e precisam ser abraçadas. Em tempos estranhos e sombrios, Francisco foi um antidoto à naturalização das barbáries e intolerâncias.
Em doze anos de pontificado em diferentes momentos, Francisco direcionou sua palavra contra os negacionismos. Em março de 2020, durante a pandemia da Covid-19, rezou sozinho em uma Praça São Pedro completamente vazia. Enquanto governos negacionistas sabotavam o combate a pior pandemia mundial em cento e doze anos, conclamou o apoio aos profissionais de saúde e a solidariedade com os mais necessitados.
Francisco também direcionou sua principal arma contra o negacionismo climático. Em sua encíclica “Laudato si”, publicada em 18 de junho de 2015, fez um apelo ao “urgente desafio de proteger a nossa casa comum” e a união de “toda família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”, lançando “um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta”.
Para além das palavras, Francisco também foi um homem de ação. Sua luta por um outro modelo econômico, social e ecológico deu forma ao movimento “Economia de Francisco e Clara”, lançado em 2019. O movimento global convocou (e convoca) o compromisso, sobretudo dos mais jovens, “de tornar a economia de hoje e de amanhã justa, sustentável e inclusiva, sem deixar ninguém para trás”.
Francisco chamou o mundo a direcionar seu “apoio ao desenvolvimento de novas economias: solidária, popular, criativa, circular, ecológica, de comunhão”. Além disso, ao colocar lado a lado, como protagonistas, Francisco de Assis e Clara, flexibilizou o próprio patriarcalismo católico, ao sinalizar que o masculino e o feminino não são hierárquicos, mas andam juntos.
A “Economia de Francisco e Clara” pode ser vista como o grande legado e síntese do pontificado de Francisco: a luta por um outro mundo. Em tempos de imposição do pensamento único neoliberal, Francisco provou que há formas de construir alternativas e que estas não são apenas proposições utópicas, mas necessidades para a nossa própria sobrevivência. Seu chamado não pode ser esquecido, seja quem for o próximo Papa.
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Resumo da ópera. Só mais um texto em que vermelhos tentam propagandear que ‘o Papa Francisco era um dos nossos’. Pois bem, e daí?
O resto do texto são exemplos onde a opinião papal foi solenemente ignorada.
Mesma entrevista. ‘Na teologia argentina da libertação não se usa a análise social marxista, mas se usa preferentemente uma análise histórico-cultural, sem desprezar o sócio-estrutural e sem ter como base a luta de classes como princípio determinante de interpretação da sociedade e da história.’
2017. Entrevista ao El Pais. ‘A teologia da libertação foi uma coisa positiva na América Latina. Foi condenada pelo Vaticano a parte que optou pela análise marxista da realidade. O Cardeal (Joseph) Ratzinger escreveu duas instruções quando era Prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé. Uma muito clara sobre a análise marxista e a outra olhando para os aspectos positivos. A teologia da libertação teve aspectos positivos e desvios, especialmente na análise marxista da realidade.’
Papa Francisco? Fazer aborto é o mesmo que contratar um assassino profissional para matar alguém.
Igreja Católica tem uma hierarquia. Bem definida. Além disto a adesão é voluntária. Terceiro, é uma instituição religiosa. Traz espanto que alguns digam ‘tem que se adaptar aos novos tempos e fazer estas e aquelas modificações’. ‘Alguns’, melhor dizendo, agnósticos ou ateus. Muitos vermelhos.
Kuakuakuakuakua! Não dá para acusar os vermelhos de ‘originais’. Depois de Tonho Aideti (provavelmente algum aspone escreveu) e do Doutor Panfleteiro outro artigo sobre ‘legado’ do futuro santo católico. Só isto ja diz muito.