Ao se deparar com Haddad, oposição foge dele e dos números – por Valdeci Oliveira
“Tiro saiu pela culatra, pois o tom belicoso e o desrespeito é que foram notícia”

A ida do ministro da Fazenda Fernando Haddad à Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados dias atrás, como aconteceu com a ministra Marina Silva, foi mais uma demonstração do modus operandi da oposição ao governo do presidente Lula, que aposta no confronto e no grito para tumultuar e chamar a atenção.
Na ocasião, dois deputados da direita radical (apoiadores do ex-presidente hoje indiciado e investigado em diversos crimes – da tentativa de Golpe de estado à prevaricação com joias presenteadas ao governo brasileiro) despejaram informações falsas sobre o déficit das contas públicas como se fossem questionamentos, gravaram para suas redes sociais sua “coragem” de enfrentar o ministro e deixaram a reunião tão logo a “confusão” ficou instalada, sem ouvir as respostas, sem ouvir a verdade. Até porque isso não os interessava, pois se tratava de um gesto calculado, como muitos outros no seu estilo muito particular de fazer política.
Não os interessava qualquer explicação, uma vez que, traduzindo em fatos o que tinham dito falseando a verdade, Haddad incluiu na sua retórica o caso do calote dado nos governadores pelo governo anterior, quando da isenção de impostos federais sobre combustíveis no período da eleição de 2022, o que custou a bagatela de R$ 30 bilhões, pago por Lula tão logo assumiu. Ou outro calote, o dos precatórios, dado pela gestão passada, na ordem de 141,7 bilhões, conforme dados não da ‘tia do zap’, mas do Tesouro Nacional. Ao assumir, Lula também pagou esta herança, foram mais R$ 93 bilhões.
Ao fugirem do debate – um eufemismo, neste caso – também não ouviram sobre o prejuízo deixado pelo governo do qual fizeram parte quando do fatiamento da Petrobrás, que entregou toda sua rede de distribuição e postos – um dos ‘filés’ do negócio de combustível – à iniciativa privada ou do preço “cobrado” pela privatização da Eletrobrás, maior empresa de energia elétrica da América Latina, cujo controle acionário foi vendido por R$ 33,7 bilhões, sendo que que o TCU diz que o valor correto seria pelo menos R$ 140 bi.
Se alguém precisa se explicar ao povo brasileiro são aqueles que ‘enfrentaram’ o ministro Haddad, pois votaram contra a isenção de impostos dos produtos da cesta básica na Reforma Tributária. E com dezenas de outros e outras que integram o mesmo campo político-ideológico são contra isentar da cobrança de imposto de renda que ganha até R$ 5 mil mensais se para isso for cobrado um imposto mínimo de cerca de 140 mil pessoas que recebem mais de R$ 50 mil mensais – sendo que muitos superam facilmente R$ 1 milhão anual em renda com pouca ou nenhuma tributação, que como disse Haddad, um tratamento que não existe em nenhum país do mundo. Não é por nada que esta parcela de políticos está sendo chamada de “Sindicato dos Ricos”.
A dupla parlamentar está entre aqueles que tentam emparedar o governo federal para que este corte ‘gastos’ – que em bom português significa retirar investimentos da saúde, educação, assistência social, previdenciária e manutenção de ganho real do salário mínimo – enquanto protegem o “andar de cima”, defendem R$ 158 bilhões por ano em renúncia fiscal para grandes empresários do agro e são contra cobrar IOF de ‘bets’, de investidores de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e investimentos financeiros hoje isentos. E escondem de seus seguidores e eleitores que a inflação média anual no tempo deles foi de 6,17% e, com Lula, tem ficado em 4,73%.
Fora isso, fazem parte do grupo que, nesta semana, derrubou vetos do presidente Lula a pontos de um projeto de exploração de energia eólica no mar que fará com que haja aumento no preço da energia elétrica para a população. E, neste caso, seguem a lógica dos “dois coelhos com uma só cajadada”: ajudam empresários amigos e colocam a culpa sobre o presidente Lula.
E para eles pouco importa estarmos inseridos numa região do mundo – América Latina e Caribe – onde, segundo a organização Oxfan, existe a maior polarização entre a riqueza dos 1% mais ricos e dos 50% mais pobres.
Mas o tiro saiu pela culatra, pois o tom belicoso – como em todas as vezes que algum ministro foi convidado a comparecer em alguma Comissão daquela Casa – e o desrespeito é que foram notícia, junto com a fala de Haddad esclarecendo vários e importantes pontos que talvez muita gente ainda ignore.
Ilustrativo, isso aconteceu na mesma semana em que bilionários apareceram na imprensa e nas redes sociais reclamando da dificuldade de contratar mão-de-obra e culpando o Bolsa Família por isso. Apenas esconderam o fato que pagam salários escorchantes e as pessoas se negam a se submeter a essa exploração. Somente quem nunca precisou lutar por um prato de comida é capaz de achar que alguém prefere um auxílio governamental do que um emprego e salário dignos.
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.
Falando com a propria bolha. Cortina de fumaça. Polarização porque é a boia de salvação da proxima eleição. Governo gasta o que não tem e tenta aumentar tributos mesmo com a carga tributaria nas alturas. Vão colher o que plantaram, com um pouco de sorte.