É tarefa da imprensa explicar aos turistas que os perigos não tiram férias – por Carlos Wagner
Educar, alertar e explicar: funções da imprensa “desde que o mundo é mundo”

Dei-me conta no último sábado (21) que nós jornalistas esquecemos de reforçar o aviso aos turistas de aventura de que, nas viagens de férias, continua existindo o perigo de sair alguma coisa errada que pode terminar em tragédia. Como aconteceu com os 20 passageiros de um balão de ar quente nos céus de Praia Grande, cidade catarinense famosa pelos seus cânions.
Pilotado por Elvez de Bem Crescêncio, o balão fazia um voo programado para durar 45 minutos sob condições climáticas ideais, céu limpo, ausência de ventos e temperatura de 13ºC. Um acidente a bordo com um maçarico acabou provocando um incêndio que resultou em oito mortos e 13 feridos, segundo relato da Polícia Civil.
No mesmo dia, a turista brasileira Juliana Marins, 24 anos, fazia parte de um grupo que subia a perigosa encosta do vulcão Rinjani, na Indonésia, país formado por dezenas de ilhas vulcânicas no Sudeste Asiático. Ela despencou de uma altura de 400 metros. Houve problemas no resgate e Juliana agonizou três dias sem água, comida e roupa adequada para o frio. O seu corpo foi resgatado na quarta-feira (26).
Sobre os dois acidentes há uma enormidade de matérias disponíveis na internet. E a cobertura da imprensa diária tem sido intensa e muito completa. Por isso vou focar a nossa conversa na questão da especialização das redações.
Para começo de conversa, julgo necessário dizer o seguinte. Sempre defendi que o repórter deve se especializar em algum assunto para se tornar referência naquele tema. Em 1979, quando entrei na redação, tratei de me especializar em três assuntos: conflitos agrários, povoamento das fronteiras agrícolas e crime organizado nas regiões fronteiriças do Brasil com países vizinhos. Mas também sempre defendi que o jornalista tem o dever de entender de tudo um pouco para evitar surpresas.
Trocando em miúdos, devemos estar atentos a tudo que acontece ao nosso redor. Lembro aos colegas que na década de 90, em várias partes do mundo, principalmente no Egito e região, era comum terroristas tomarem turistas como reféns. E também colocar bombas em ônibus de turismo. Sobre esse assunto, podem ser encontradas dezenas de reportagens na internet.
Nos dias atuais são raros os casos envolvendo turistas como vítimas de terrorismo. Em todos os cantos do mundo, em particular no Brasil, a indústria do turismo evoluiu e profissionalizou-se. Esta profissionalização se refletiu nas redações dos jornais, que começaram a montar estruturas especiais para cuidar do setor. Hoje há repórteres, editores e outros profissionais nos jornais que entendem do assunto.
A cobertura é focada em fiscalizar se as operadoras de turismo cumprem o que foi acordado com o cliente, na qualidade dos serviços prestados pelos hotéis, restaurantes, transporte e comércios especializados e na questão da segurança, alertando, por exemplo, os turistas a evitarem áreas das cidades com problemas de assalto. A indústria do turismo pode ser dividida em aventura, consumo, cultural, eventos, estudos, esportiva, ecoturismo e gastronômica. Cada uma tem as suas particularidades.
Os assuntos de turismo nas redações dos jornais hoje são tratados pela editoria especializada. O resto da redação não se envolve. Antes de seguir a nossa conversa, vou contar uma história por julgá-la relevante para o que estamos tratando. Alguns anos atrás, comprei um pacote de turismo para visitar uma região no Mato Grosso do Sul. Lá, descobri que estava incluída no pacote uma atividade que exigia ficar flutuando na água vestindo um traje especial para visualizar os cardumes de peixe.
Antes, houve um treinamento de meia hora em uma piscina. Fiz o treinamento e me pareceu ser fácil. Porém, na hora de fazer a flutuação no rio, a correnteza começou a me arrastar. Eu não sei nadar e nunca fiz questão de aprender. Entrei em pânico, mas consegui voltar para o barco, onde fui acalmado pelo guia turístico.
Retornando a nossa conversa, eu pergunto. O cara que vendeu o pacote não tinha obrigação de me avisar que o treinamento para a flutuação seria feito em uma piscina, onde não existe a correnteza do rio? Não me disseram nada sobre a história da correnteza. Contaram da segurança que teria para fazer a atividade. Da seriedade da empresa contratada. Das belezas do local. Se tivessem falado da correnteza não teria entrado no pacote.
O fato de a empresa não ter informado faz parte do jogo. Quem deveria ter me alertado eram os noticiários. Pergunto o seguinte: as 20 pessoas que entraram no balão de ar quente foram avisadas de que, apesar de todo o sistema de segurança, permanecia o risco de alguma coisa sair errada? Duvido.
Sou repórter e tenho um currículo bem nutrido. Fiquei surpreso ao saber que existia balão de ar quente que transportava 20 pessoas. Até então pensava que eram no máximo meia dúzia. Nesses voos recreativos, os balões sobem de 300 a 900 metros. Se acontecer algum imprevisto lá em cima, como faz? Sobre Juliana, a turista brasileira que despencou de uma trilha subindo a encosta do vulcão Rinjani, alguém a avisou que o turismo de aventura fora do Brasil exige que se tome algumas providências antes de viajar para o caso de ocorrer alguma emergência?
Fiz uma pesquisa sobre os tipos de matérias que publicamos a respeito de turismo. São basicamente reportagens de prestação de serviço e descrição das belezas, da culinária e das festas nos locais visitados.
Arrematando a nossa conversa. A indústria do turismo tem um tremendo peso na economia mundial. Tornou-se uma atividade muito importante para ser tratada nas redações apenas pelos jornalistas especializados no setor. Todos os setores da redação precisam começar a pensar no assunto, especialmente o pessoal das editoras de economia, segurança e saúde.
Recomendação semelhante fiz sobre a cobertura do futebol no post da última dia 22, “Papo reto” entre Ancelotti e os jogadores coloca o Brasil com a mão na taça?, Temos que começar a pautar matérias que expliquem aos turistas que o fato deles estarem em férias não significa que tenham se tornado imortais. Muito pelo contrário. Os riscos que cercam os seus passeios permanecem ativos.
Apesar de toda a parafernália de segurança que as empresas erguem ao redor dos seus clientes, imprevistos acontecem. A tarefa de educar, alertar e explicar as coisas é da imprensa desde que o mundo é mundo.
Sou um velho repórter estradeiro, 75 anos, não sou inocente e sei que as redações foram desmontadas para as empresas sobreviverem à nova realidade econômica imposta ao setor pelas redes sociais e outras plataformas de comunicação. Especialistas têm recomendado que uma das maneiras da imprensa tradicional enfrentar esta nova realidade é continuar relevante. Esta questão é relevante.
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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 75 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.Educar, alertar e explicar: funções da imprensa “desde que o mundo é mundo”
Resumo da opera II, a missão. Para melhores informaçoes o negocio é ouvir os especialistas de verdade. Canal Alta Montanha no Youtube. Karina Oliani medica que ja escalou o Everest um par de vezes e também o K2. Não é necessario intermediários(as).
Resumo da opera. Mentalidade no Brasil é ‘mundo de algodão’. Nada pode dar errado porque ‘tudo é previsivel e evitavel’. Se der errado é sempre ‘culpa dos outros’. Deve ter ‘vazado’ do mundo juridico onde rendem processos e dimdim.
‘[…] alguém a avisou que o turismo de aventura fora do Brasil exige que se tome algumas providências antes de viajar para o caso de ocorrer alguma emergência?’ Precisa avisar? Uma foto mostra 5 pessoas acompanhando-a seguindo o mesmo guia. Outras tres mulheres. Aparentemente todos com mochila. Os outros cinco estão vivos. Em 2007 um grupo subiu o vulcão ilegalmente, estava proibido, morreram sete. Em 2018 aconteceu um terremoto e passou o rodo, turistas e guias.
‘Se acontecer algum imprevisto lá em cima, como faz?’ Se lembro bem num dos festivais de balonismo da aldeia um balão se enganchou no edificio Guanabara ou algum outro.
O Hindenburg funcionou mais ou menos um ano. Transportou mais de mil passageiros durante este periodo. Viagens transatlanticas.
‘Pergunto o seguinte: as 20 pessoas que entraram no balão de ar quente foram avisadas de que, apesar de todo o sistema de segurança, permanecia o risco de alguma coisa sair errada?’ Cultura. As pessoas, principalmente os mais jovens, acham que ‘coisas ruins’ só acontecem com os outros. Segundo, nunca aconteceu logo ‘nunca vai acontecer’. Prevençãom dado tudo isto, é coisa da Globo.
‘O cara que vendeu o pacote não tinha obrigação de me avisar que o treinamento para a flutuação seria feito em uma piscina, onde não existe a correnteza do rio?’ Obvio que na piscina não tem correnteza. Mas se esta, se não oferecia risco, não era problema. Se era para ver peixes não deveria ser exatamente uma ‘corredeira’.
‘Lembro aos colegas que na década de 90, em várias partes do mundo, principalmente no Egito e região, era comum terroristas tomarem turistas como reféns.’ Recomendações para turismo no Egito continuam as mesmas. Manter-se no circuito turistico. Não se aventurar sozinho. Sempre ter o guia a vista. Mulheres tem que cobrir o corpo conforme o costume daquele pais. Há outros relativos a meios de pagamento.
‘ Houve problemas no resgate e Juliana agonizou três dias sem água, comida e roupa adequada para o frio.’ Controversias. Ela caiu duas ou tres vezes. Numa destas quedas sofreu trauma consideravel, teve diversas fraturas e hemorragia interna.
Por partes como diria Elize Matsunaga. PIB per capita da Indonesia é menos da metade do que o tupiniquim. Pessoal do ar condicionado começa com ‘tinha que ter isto, tinha que ter aquilo’. Não tem e não vai ter porque não existem recursos.