As duas tragédias no Caso Both – por Giorgio Forgiarini
"Antecipar o veredito é pôr em cheque a própria credibilidade das apurações"

Valdemar Both foi morto durante operação policial. Eis aí uma tragédia por si só, cuja repercussão foi potencializada pelo vídeo que circulou nas redes sociais da região. Impossível ficar alheio ao desespero expressado pelos gritos ali contidos. Essa, porém, é apenas a primeira tragédia que percebemos em todo esse contexto.
Antecipo que não é o caso de aqui apontarmos dedos e desfilarmos acusações. Não vou achacar os policiais envolvidos com conjecturas descabidas. Porém, não posso deixar de manifestar preocupação com o modo como a questão tem sido enfrentada pelos órgãos de segurança pública.
Se ele, o Sr. Both, deu ou não causa aos tiros que lhe tiraram a vida, isso é algo que só pode ser dito após isenta e criteriosa apuração. Repito: Após isenta e criteriosa apuração. Ao mesmo tempo em que não podemos acusar, também não podemos, de antemão, desconsiderar a mínima possibilidade de algum dos policiais ter agido em erro, com emprego de força excessiva, por impulso, imperícia ou quem sabe até com alguma perversidade. Mais uma vez, não antes de uma apuração minuciosa acerca do que aconteceu de fato.
E aí reside a segunda tragédia do caso Both. Logo após o ocorrido, na mesma “nota” em que informa a instauração de processo de apuração, o Comando Ambiental da Brigada Militar “esclarece” sem qualquer receio de precipitação que foi o Sr. Both quem deu causa ao incidente, que houve a necessidade do uso da arma de fogo para preservar a vida dos policiais e que aquele cidadão representava “risco iminente à integridade física da equipe”.
A Polícia Civil tem ajudado nisso. O Delegado responsável pelo inquérito já se pronunciou no sentido de não ter havido excesso na ação dos policiais, que os agentes apenas reagiram após o produtor investir contra si e que trabalha apenas com a hipótese de legítima defesa. Ressalto: Apenas com a hipótese de legítima defesa. Todas as outras foram descartadas. Sumariamente.
Aqui quem morreu foi a presunção de inocência. O julgamento já foi feito e Valdemar Both foi sentenciado pública e instantaneamente pelos órgãos de segurança pública do Estado como culpado por tentativa de homicídio de autoridade policial, crime considerado hediondo pelo Código Penal brasileiro.
Investigações e apurações daqui por diante perdem qualquer sentido. Só se investiga quando se tem dúvida. Ora, por que perder tempo apurando um caso, cujo deslinde já está posto? Pra que fazer acareações, reconstituições, interrogatórios ou coleta de quaisquer outros elementos se, desde antes, já não há quaisquer dúvidas quanto ao que efetivamente ocorreu?
Antecipar o veredito é pôr em cheque a própria credibilidade das apurações. Na melhor das hipóteses, surge o receio de contaminação pelo viés de confirmação. Aquela tendência inata ao ser humano de procurar, relevar e interpretar preferencialmente informações que confirmem crenças ou hipóteses pré-concebidas. Na pior, surge o medo de pipocarem por aí outras vítimas de “legítima defesa”. Principalmente nas periferias.
(*) Giorgio Forgiarini é advogado militante, com curso de Direito pela Universidade Franciscana, é Mestre em Ciências Sociais e Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Maria. Ele escreve nas madrugadas de sábado.
Em tempo. Sebo da Acampamento. Ao lado do Circulo Italiano (não sei se é o nome ainda). Exemplar do ‘O apito do trem’. Dedicatorias de varios autores e autografos. Um deles já não se consegue mais, Adelmo Simas Genro. Já esta mais para documento historico do que livro usado.
Resumo da opera II. Mundo não sera ‘perfeito’ porque é tocado pelos seres humanos que nunca serão perfeitos. Se a cada barbaridade, real ou aparente, as pessoas começarem a se jogar no chão e terem xiliques terão o tempo de vida bastante prejudicado.
Resumo da opera. Estão fazendo um circo da situação, como costume. Interesse zero. O que decidirem para mim está bom.
Video mostra uma pessoa alterada e uma mulher argumentando com ele. Não é possivel ver o que tinha nas mãos. Ultimas palavras do agricultor/madeireiro foram algo como ‘mas podem atirar’. Não fica claro se quem estava em risco eram os policiais ou a mulher que argumentava.
‘ Ao mesmo tempo em que não podemos acusar, também não podemos, de antemão, desconsiderar a mínima possibilidade de algum dos policiais ter agido […] com alguma perversidade’. Pois então. ‘Perversidade’ é a qualidade do que é perverso, vide amansa-burro. Se existe qualificação, existe juizo de valor.