FSP E O “DOSSIÊ”. Entenda como se arma uma situação, sem que fontes existam
Estou ficando cada vez mais decepcionado. Já tive a Veja como uma referência, do mesmo modo que a Folha de São Paulo. Jornal e revista conservadores, mas honestos. Marcos Rolim, outro dia, escreveu em seu Twitter, que a Veja não é mais uma revista, mas “um partido político de extrema direita”. É. Pode ser. Para mim, prefiro dizer que é simplesmente uma ex-revista.
Vai pelo mesmo inexorável caminho a Folha. Um ex-jornal. Ou, conceda-se, então, um “partido político de extrema direita”. Não por ser conservador, que isso é importante que se tenha (e O Estado de São Paulo é exemplo, do qual gosto – inclusive de ler). Mas por ter jogado por terra um patrimônio de dignidade e qualidade.
Agora, temos os tais “dossiês”. O último deles envolvendo uma figura ilustre do tucanato. Quem desmonta tudo, e muito bem, é o aclamado (e honesto) jornalista Luis Nassif – que, aliás, trabalhou na FSP no melhor tempo dela. Confira o que ele escreveu no portal de internet que dirige e que, este sim, virou igualmente uma referência. A seguir:
“Para entender o caso Eduardo Jorge
A excessiva politização da cobertura política produziu uma miscelânea nessa história de supostos dossiês divulgados pela mídia – particularmente pela Folha. É incrível o contorcionismo do jornal para dar voltas em cima de um episódio relativamente simples de ser contado.
Começaram com a história do livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr – que, de repente, sumiu do noticiário -, passaram para as conversas com o tal do Onézimo até chegar na declaração de renda de Eduardo Jorge.
São histórias totalmente distintas.
O livro do Amaury levanta histórias da privatização e dos sistemas off-shore supostamente utilizados para lavagem de dinheiro por pessoas próximas a José Serra. Pelas informações que circularam, termina em 2002. A do Onézimo, até agora, não passou de uma reunião que não resultou em nada de concreto.
Já a história do Eduardo Jorge é recente, do ano passado. Passa pelos órgãos oficiais de combate à lavagem de dinheiro – não por dossiês apócrifos. Não sei a razão do repórter Leonardo de Souza não divulgar a informação principal da história.
No ano passado, o COAF (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) foi informada por um gerente de banco de uma movimentação extraordinária na conta de Eduardo Jorge – que havia sido indicado coordenador de campanha de José Serra. Houve movimentação de R$ 3,9 milhões – em três depósitos de R$ 1,3 milhão.
Pelas normas do COAF, todo gerente é obrigado a se informar sobre a origem de depósitos extraordinários e a comunicar ao órgão quando não houve explicações satisfatórias. Foi feito.
O passo seguinte foi o COAF solicitar ao Ministério Público Federal inquérito contra Eduardo Jorge por lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Isso foi feito pelo procurador Lauro Pinto Cardoso.
A notícia vazou para o Correio Braziliense. Eduardo Jorge se valeu do vazamento para denunciar o procurador ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e solicitar o trancamento da ação. Não se entrou no mérito das acusações nem do crime do qual era acusado: obteve-se o trancamento exclusivamente demonstrando que houve vazamento do inquérito.
Ocorre que objetivamente ficou pendente uma acusação de crime de lavagem de dinheiro. O MP conseguiu destrancar a ação e partiu novamente para cima de Eduardo Jorge – a esta altura com Lauro, em sua ascensão na carreira, promovido a segundo homem do órgão.
A explicação de Eduardo Jorge é que o dinheiro tinha sido fruto de uma herança que recebeu com o falecimento do sogro, que tinha terras em Maricá. O MP constatou que o sogro morreu há 40 anos. E que não haveria terreno em Maricá valendo isso tudo. É questão que caberá ao inquérito apurar…”
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José Serra, ontem no Roda Viva
repórter (não sei o nome): “´sobre o livro que está sendo escrito pelo repórter ??? (tb não guardei o nome) sobre irregularidades …”
Serra: “ele não é repórter”
repórter: “ele é repórter investigativo. trabalhei com ele.”
Serra: “então é um repórter que aceita dinheiro para ficar distribuindo dossiês”
repórter: “então, o livro é outro dossiê?”
Serra: “não sei. não lí”
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