A novidade – por Bianca Zasso
Todos queremos o novo. Para ir em busca de um mistério, deixamos de lado a preguiça, os prazos, os defeitos que enxergamos em nós mesmos. Por que tudo isso? Porque descobrir é sempre uma tarefa assustadora e excitante e essas sensações faz com que nos sintamos vivos.
Mas nada é novo para sempre. A ideia perpetuada pelas propagandas do dia dos namorados, que devemos nos apaixonar todos os dias pela mesma pessoa, é uma ilusão que ajuda a vender bombons e flores, mas não garante felicidade. Newness, filme do jovem diretor Drake Doremus, é sobre um casal viciado em novidades. Assim como eu e você.
Martin e Gabi, interpretados com bastante talento pelos atores Nicholas Hoult e Laia Costa, gastam a ponta dos dedos em aplicativos de encontros que parecem transbordar sinceridade. Um toque e quem está no outro aparelho já sabe se o que você quer é apenas sexo ou algo “mais sério” (as aspas foram usadas porque é preciso entender que sim, sexo é uma coisa séria).
Num desses esbarrões da vida, eles dão match e resolvem se encontrar. E o clichê do romance surge pela primeira vez em Newness. Antes de irem para a cama, eles conversam, comem, riem juntos e descobrem coisas insólitas um sobre o outro. Primeiro encontro, todos inspirados em mostrarem as suas melhores versões. A noite acaba, vem o dia e uma suposta máscara cai.
A ideia de intimidade se instaura no ar e o casal se descobre apaixonado. E como acontece com todas as paixões (pelo menos as que envolvem essas coisinhas complexas chamadas seres humanos), a novidade deixa de existir e o que antes fazia os olhos brilharem, agora é mais um gesto comum.
Newness é um bom filme sobre relacionamentos. Doremus tem criatividade para filmar os corpos em situações comuns e sua câmera não se importa de perder um pouco o foco ou tremer para dar mais vivacidade numa cena de briga, por exemplo. A tarefa de aproximar o espectador é cumprida por estas escolhas estéticas e também pelo carisma do elenco.
O que frustra são os elementos que vão sendo agregados no roteiro que transformam aquilo que poderia ser uma história sobre a experiência de um relacionamento aberto em um melodrama bobo. Quando descobrimos as questões mal resolvidas de Martin com a ex-mulher, é quase um capítulo crucial de novela das oito e um personagem que poderia explorar questões da fragilidade masculina se torna mais um lamento de um garoto frustrado com a vida adulta. Mesmo Gabi, que inicia a história demonstrando ter mais camadas que Martin, logo começa a se portar como uma menina birrenta.
Muitos irão defender que no plano do amor, nada tem explicação lógica. Porém, não é nos momentos de amor que perdemos a cabeça. É na raiva por perder um amor, no medo de se arrepender, na ânsia de querer tudo sem sofrer consequências. É possível amor e liberdade andarem juntos? É. Entre duas pessoas? Sim. Entre três? Sim! Mas também pode ser não, porque se há um outro clichê perpetuado ao longo dos séculos, é que amor não tem regras.
Experiências são bem-vindas e querer a rotina eterna também. O que não pode é abrir uma porta e impedir que o que está lá fora entre sem bater. A liberdade também tem seus percalços. Newness peca por, em seu último ato, se render à ideia do amor que se renova, do arrependimento de ter dado uma chance ao novo e da rendição ao que é chamado de relacionamento perfeito.
Tem gente que é feliz por 50 anos com uma única pessoa. Tem quem case oito vezes e não se importe de tentar mais oito. Tudo bem. Agora, se quer experimentar, que aguente o tranco. Sem romantismo barato.
Se é para tirar uma lição de Newness, é que não devemos desejar o felizes para sempre. Precisamos cobiçar o felizes enquanto houver verdade e diálogo. Senão, é hora do The End.
Ano: 2017
Direção: Drake Doremus
Disponível na plataforma Netflix
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