Por AMANDA SOUZA (com foto de Divulgação), Especial para o Site
Em um movimento de resistência e pertencimento identitário, a Juventude Negra Feminina de Santa Maria foi criada em 2013, primeiramente em um grupo no Facebook, pela militante Geanine Escobar, mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural. O primeiro encontro das mulheres foi no Museu Treze de Maio (hoje interditado por falta de assistência da Prefeitura Municipal da cidade). Foi um momento de todas se conheceram pessoalmente, trocarem suas experiências e iniciarem um grupo de resistência do movimento feminista negro em Santa Maria. Criou-se o coletivo Juventude Negra Feminina de Santa Maria (JUNF)
Alice Carvalho, acadêmica de psicologia na UFN (Universidade Franciscana), entrou no coletivo quando já militava em espaços feministas mistos – com homens e mulheres – e participava de manifestações, rodas de conversa.
– Teve uma Marcha das Vadias em 2013, onde a Geanine Escobar declarou o poema Cabelos que Negros, do Oliveira Silveira. Eu estava em processo de embranquecimento ainda, alisava meu cabelo e não me colocava politicamente como mulher negra.
O poema, que em um dos seus trechos traz “(…) cabelo puro que dizem que é duro, cabelo belo que eu não corto à zero, não nego, não anulo, assumo, assino pixaim, cabelo bom que dizem que é ruim e que normal ao natural fica bem em mim, fica até o fim(…)” chamou a atenção da estudante. Alice chegou em casa e procurou o perfil virtual da Geanine, entrou no grupo da JUNF no Facebook e começou a ir nas reuniões.
– Foi muito importante pra mim porque parei de me embranquecer e me enxerguei como mulher negra, passei a me colocar nos espaços e entender como o racismo interferia na minha vida – conta.
No grupo, ela conheceu outras mulheres negras que foram essenciais para sua construção enquanto militante e enxergar como os outros espaços políticos (compostos por pessoas brancas) anulavam a sua existência enquanto mulher negra e deixavam suas pautas em segundo lugar ou nem chegavam a reconhecê-las.
Andressa Teixeira, mestranda em Ciências Sociais entrou para a JUNF em 2014. Ela participava de coletivos do Movimento Negro em Pelotas (RS), onde morava, e veio para Santa Maria participar de uma reunião da Juventude, onde conheceu algumas referências da luta feminista negra. Sua construção de identidade foi um pouco anterior à entrada na JUNF, Andressa fazia parte do grupo Negada, com estudantes negros, e desde então esse processo foi importante para ela.
A partir disso, o grupo aumentava e os encontros também, que aconteciam no Museu Treze de Maio, onde havia uma parceria para promover atividades em conjunto.
– Não cheguei a passar por processo de branqueamento, porque sempre foi uma questão discutida em casa, mas também eu não usava meu cabelo solto. Mas eu aprendi a reconhecer o racismo e as violências. Quando você é violentado o tempo todo, você naturaliza aquilo, você adoece e não sabe porque tá doente e não identifica a violência – relata Andressa.
O processo dos movimentos sociais negros e a convivência com o grupo é imprescindível para agir quando eles identificam o racismo, eles acolhem uns aos outros, mas principalmente auxiliam no momento da violência, promovem ações legais, discutem sobre como agir diante das opressões.
Na JUNF, sempre teve uma discussão muito interdisciplinar, vários estudantes de diversos cursos da faculdade participam do coletivo e movimento, então há colaboração de diversos assuntos. Psicologia, direito, jornalismo, ciências sociais, artes, entre outros. Há muitos complementos, além da experiência de vida, de levar isso pra dentro do coletivo a partir de vivências com o racismo, as reações. A não reação diante do racismo dá uma sensação de impotência absurda, por isso, Andressa conta que é uma ajuda mútua, para contribuir com o crescimento de cada um.
Espaços ocupados e o racismo enfrentado
– É preciso questionar a inserção de pessoas negras em espaços brancos, de militância do feminismo branco, onde não se respeita toda a trajetória de vida, política, acadêmica, negra, enquanto algo que deveria somar no movimento e não ser desconsiderado – ressalta Andressa.
Para a cientista social, a JUNF tem um cunho organizativo político. Mas também vale ressaltar que os grupos do Movimento Negro tem a característica de não ser somente institucional, político, ele se torna um espaço de convivência, possível de construir relações de afeto para além das discussões puramente políticas.
A Juventude passa por vários momentos, como outros coletivos. Desde organização de protesto até para promover acolhimento para mulheres negras, de segurança, onde se pode conversar sobre coisas íntimas, conversar sobre coisas que não vão sair daquele limite. Como forma somar no processo de identidade, empoderamento, representatividade, e discutir questões “nossas para nós mesmos”.
– Não adianta promover grandes atividades para o público enquanto não nos compreendemos enquanto indivíduos, pessoas negras. Teve vários momentos, de atividades e manifestações abertas, outras com reuniões, encontros em casa, só para conversar e nos acolher – conta Andressa.
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