ELEIÇÕES 2022. Partidos de esquerda, unidos, se articulam para lançar Manuela para o Senado
PT, PC do B e PV, após a Federação, agem para fechar chapa majoritária
Reproduzido do Site do Correio do Povo / Reportagem assinada por Flavia Bemfica
A partir da formação da federação partidária nacional entre PT, PCdoB e PV, lideranças das três siglas trabalham no RS para convencer a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) a disputar o Senado. As tratativas ainda são descritas como informais, mas o movimento é forte dentro do PCdoB e no entorno da ex-deputada em particular. O entendimento é de que, na corrida pelo Senado, Manuela reforça no Estado tanto a candidatura do ex-presidente Lula à presidência como a do escolhido do bloco para ser o candidato ao governo.
Além disto, nos cálculos feitos pelos articuladores das siglas, a corrida ao Senado no RS neste ano, para apenas uma vaga, tende a se apresentar bastante pulverizada, o que aumenta as chances de que um candidato que alcance entre 25% e 30% dos votos acabe vitorioso. Por outro lado, há a avaliação de que esta posição na chapa tem a vantagem de evitar uma eleição de dois turnos.
Defensores do nome da ex-deputada para o Senado lembram que, ao longo de sua trajetória, ficou evidente o desgaste que ela acaba sofrendo entre o primeiro e o segundo turnos do pleito, alavancado pela intensificação de ataques de campanhas adversárias.
Oficialmente, nem PCdoB e nem PT confirmam a negociação. O secretário-geral do PT/RS, Carlos Pestana, afirma que o PT mantém a indicação do deputado estadual Edegar Pretto para o governo e que o PCdoB deverá compor a majoritária, mas nega qualquer interferência do partido na escolha do nome.
O presidente estadual do PCdoB, Juliano Roso, desconversa. “Precisamos aguardar e deixar a Manuela a vontade para decidir qual será sua opção. O que importa é que a federação aconteceu e que ainda não perdemos a esperança de que o PSB venha a fazer parte dela.”
O prazo limite para a formação das federações partidárias é 31 de maio, mas a participação do PSB no bloco formado por PT, PCdoB e PV hoje é dada como liquidada. No RS, tornou-se concreta a possibilidade de PT e PSB terem candidaturas distintas ao governo no primeiro turno, ou seja, além de o PSB não integrar a federação, também não haver entendimento para uma aliança local, mesmo que, nacionalmente, esteja definida a ida do ex-governador Geraldo Alckmin para o PSB para ser candidato a vice de Lula, selando e a coalizão dos dois partidos na disputa nacional.
Em solo gaúcho, interlocutores do ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) asseguram que está encaminhado o acordo nacional para que o PT abra mão de ter candidato ao governo no RS e o apoie. Confidenciam ainda que lideranças nacionais petistas entendem que Beto tem melhores chances de conquistar parcelas do eleitorado ao centro. E garantem que não há chance de que o ex-deputado ceda em favor de Edegar. “Ele vai até o fim”, resume um dos negociadores socialistas.
Na outra ponta, os petistas sustentam que seu candidato será Edegar, sem possibilidade de que ele desista para que o PSB fique com a cabeça de chapa. “O Beto sabe disso, tanto que já começou a ensaiar uma aproximação com o PDT. Sem federação, vai ficar estranho, mas ele pode fechar uma aliança com o PDT e dar palanque para o Ciro (Gomes). Da nossa parte, garantiremos um palanque forte para Lula”, declara um dos articuladores petistas. O caminho, contudo, atrapalharia a participação de Alckmin na campanha de Beto. Por isto, tanto no PT como no PSB também é considerada a alternativa de que, se não conseguirem se entender, os dois partidos tenham duas candidaturas no Estado, mas que ambas deem palanque para Lula.
Criação do bloco terá impacto na Assembleia Legislativa
Sem alarde, e para além do fim da ameaça que pairava sobre PCdoB e PV em função da dificuldade de alcançarem a cláusula de barreira, as duas siglas e o PT já começaram a calcular o impacto da formação da federação partidária sobre o tamanho das bancadas (únicas) que terão na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa. No caso do Legislativo, o acordo foi considerado positivo principalmente em relação ao incremento na bancada estadual. As projeções feitas internamente até aqui indicam que o PT poderá fazer entre 10 e 11 deputados estaduais.
Caso se concretize, será uma recuperação após um período de mais de 10 anos de perdas. O PT chegou a obter 14 cadeiras no Legislativo gaúcho em 2010, caiu para 11 em 2014 e depois, em nova queda, para oito em 2018. Com a cassação do deputado Augusto Lara (PTB), obteve na semana passada a nona vaga. A sigla não arrisca, porém, uma alteração significativa na Câmara Federal, fazendo estimativas modestas, de obtenção de mais uma vaga (foram oito federais eleitos em 2010, sete em 2014 e cinco em 2018).
O PCdoB gaúcho projeta recuperar uma cadeira na Assembleia e uma na Câmara dos Deputados, após não ter conseguido obter nenhuma vaga nas duas Casas em 2018. Em 2010 o partido havia eleito dois federais e um estadual. E, em 2014, um federal e dois estaduais. Em ambas, a performance de Manuela D’Ávila foi considerada fundamental. Agora, contudo, se Manuela concordar, o partido vai insistir na ocupação da vaga do Senado pela ex-deputada e apostar na federação para conquistar cadeiras na Câmara e na Assembleia.
Apesar da formação do bloco, a disputa é considerada acirrada. Para a Assembleia, os partidos integrantes estão estimando uma linha de corte na faixa dos 30 mil votos. Isso significa que, para garantir sua eleição, sem depender das sobras, o candidato precisa fazer pelo menos 30 mil votos. Mas não está descartado que a linha seja superior, alcançando os 34 mil votos. Para fazer crescerem as chances do bloco, o PT adotou a estratégia de uma nominata com um número significativo de lideranças regionais que já exerceram mandatos, com potencial de voto na faixa dos 25 mil. Eles dificilmente serão eleitos, mas o objetivo é outro: engordar o somatório dos votos. Porque, na prática, a soma acaba por possibilitar a conquista de mais cadeiras.
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Se rejeição fosse voto já estaria eleita.