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E tu? – por Marcelo Arigony

‘Sim, quem é professor de verdade se preocupa com os alunos’

Um ex-aluno me procurou na delegacia. Precisava de uma orientação jurídica para um caso em que está trabalhando como advogado criminal. Disse que veio aqui porque não tem experiência, está meio sozinho, e que não achou outra porta onde bater.

Conversamos um pouco, e eu procurei ajudar com o que sabia. Ele saiu agradecido com as coisas simples que compartilhei. Eu também fiquei feliz por ter podido indicar um caminho.

Depois fiz um esforço mental para lembrar dele durante o curso de Direito. Era um rapaz humilde, curioso, e muito perspicaz. Mas lembrei de uma passagem que me preocupou, por ele…

Sim, quem é professor de verdade se preocupa com os alunos. Não digo que sejam como filhos, mas são assim tipo… sobrinhos…. e sobrinhas, claro. Principalmente aqueles em quem a gente identifica respeito e responsabilidade. E têm aqueles que não se dedicam tanto porque não conseguem, porque trabalham, porque cuidam de suas famílias e outros afazeres. Esses têm o meu maior respeito e admiração.

Mas revenouns à nous moutons, aquele rapaz chamava todos de tu. Chamava a mim, aos professores, a direção, a capelania, enfim… Eu nunca me importei que me chamassem de tu. Sou razoavelmente bem resolvido. Tu não nunca me ofendeu. Mas sempre me chocou ver uma criança ou um adolescente chamar um tio, pai ou avô, um padrinho ou madrinha, um vizinho ou professor de tu.

Naquela feita, nos tempos de faculdade, eu cheguei a perguntar a ele se ele chamaria os juízes, promotores, defensores, delegados e todos os profissionais jurídicos de tu, quando estivesse trabalhando como advogado. Ele disse que sim, que “não curtia” essa “parada vocativa”, que a bandeira dele era a bandeira da igualdade, e que todos são iguais. Na época não encontrei campo fértil para discutir aquelas ideias, e deixei assim.

Mas hoje, vendo o rumo que as coisas estão tomando, com filhos que não respeitam pais, mães, tios e avôs; alunos que agridem professores; “cidadãos” que desdenham e agridem policiais; descrédito em institutos e instituições; tenho me perguntado se tu é o culpado.

Esse tu representa muita coisa. Se tu não respeita nada. Ninguém te respeita…

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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9 Comentários

  1. Na iniciativa privada funciona assim. Tudo tem que ter um ‘pai da criança’, um responsavel. Porque cachorro que tem dois donos morre de fome. Se tudo der certo o chefe do ‘pai da criança’ é elogiado. Se der errado formam uma fila para enr@b@r o ‘pai da criança’. Simples assim. Existe um video no Youtube. Treinamento de uma unidade de elite da marinha ianque. Depois de muito se ralar as equipes tem que apostar uma corrida de bote. 100 m mar adentro, agua fria. Instrutor ‘primeira equipe que voltar não precisará fazer a corrida de 15Km depois deste evento’. Acontece a corrida. Os primeiros a voltar comemoram e deitam na areia para descansar. Esperam até a ultima equipe voltar. Instrutor coloca pessoal em forma e os vencedores deitados. Saem os perdedores a correr. Instrutor volta e fala com os vencedores: ‘posso saber porque vcs estão deitados aí e não estão correndo também?’. Espanto. ‘Nos chegamos primeiro na corrida de bote, o senhor disse que….’. Instrutor: ‘não interessa o que eu disse, vcs tem que correr também. Instrutor: ‘e não tem “mas”, isto é para os senhores aprenderem que o mundo não é justo!’.

  2. Deixando o jogo de palavras infantil de lado (responsabilidade não é de todos, ‘socializar’ a culpa é parte do problema; quem deu diploma para a criatura não foi a ‘sociedade’). Antigamente respeito era bom e conservava os dentes. Antigamente ensinavam que na vida profissional deparando-se com um problema a saida era estudar. Não conseguindo achar a solução negocio era estudar mais ainda. Não correr para a barra da calça do ‘pai’.

  3. Aspecto geracional também é importante. Hoje em dia ‘tudo se resolve conversando’. Antigamente chamar alguém mais velho de ‘tu’ era falta de respeito, caminho certo para um ‘pedala Robinho’. Instancia unica, sem apelação. Alas, lembra os ataques as escolas. De um lado o filho introvertido, arredio, que passa o dia isolado fazendo não se sabe o que. Muito bom para os pais. Ai a criatura esta no Discord ou no Omegle fazendo m. (Twitter, Instagram e FB é coisa dos vermelhos para calarem a oposição). Alas, uma enquete interessante para fazer entre os pais que tem filhos/filhas nas escolas. Preferem um bando de teoricos querendo debater (‘discurso de odio’, empatia, amor, blábláblá), esfregando a barriga numa mesa no ar condicionado? Ou preferem dois Brigadianos em cada escola? O que parece trazer mais segurança?

  4. Deixando a evidente deficiencia de formação academica do personagem. A pergunta é ‘se todos são iguais por que tu tá na minha frente perguntando seu animal?’. Alas, queria ver chamar um(a) juiz(a) de ‘tu’. Sim, porque esta historia de ‘advogado(a)’ no mesmo nível de magistrado(a) é coisa da Globo. Obvio.

  5. No que se chega ao caso do dito aluno (real ou hipotetico). ““não curtia” essa “parada vocativa”” esta ‘declaração unilateral de vontade’ revela um certo narcisismo (muito comum entre os vermelhos). ” [,,,] a bandeira dele era a bandeira da igualdade, e que todos são iguais.’ Bingo! Como diz o Glenio Estrepe. Confunde uma utopia, um platonismo, com a realidade. Ninguém é igual a ninguém nem no nivel biologico. Se fosse o pessoal da medicina não precisaria utilizar estatistica (remédio para muitos ‘não se sabe’ que dá uma aparencia ‘cientifica’).

  6. Uma das deficiencias dos cursos de direito (ao menos era, pode ter mudado) é não ensinar como tocar um escritorio. Até como cobrar (tabela da Voz Constitucional do Vacilão é muito barata em alguns casos e muito cara em outras; sem referencia perder cliente é fácil; cobrar consulta é coisa da Globo, ao menos em muitos lugares). Criaturas acabam tendo que trabalhar de reco (ou seja, ganhando pouco) num escritorio já estabelecido para aprender.

  7. Lecionar é uma mão de duas vias. Quem está la na frente (a menos que seja um vadio, um arrogante auto-suficiente, um prevalecido ou uma nulidade) aprende tanto ou mais do que os(as) alunos(as). Alas, ‘moutons’ é um tanto deselegante no contexto, mas é bom lembrar para quem acha o aprendizado de linguas puramente instrumental que o aspecto cultural tem que vir junto. Caso contrário ‘não rola’.

  8. Um programa da NatGeo (ou BBC) analisa a evolução da arte na Roma Antiga. Conforme aumenta a decadencia do império é visivel (se um(a) especialista de verdade não mostrar maioria não nota) a diminuição da qualidade nas esculturas. Os detalhes somem, as feições vão ficando mais toscas. Conjecturas são feitas a respeito das causas. Pressa. Falta de mão de obra qualificada. Crescimento do cristianismo. Apontam para a decadencia também (no auge o imperio tinha um culto ao imperador, mas era politeista; perto do final o cristianismo ainda competiu com o mitraismo, mas é outra historia).

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