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Governo Lula tem um plano para lidar com o crescimento da intolerância religiosa? – por Carlos Wagner

No Brasil, “há uma lenda de que não existe. É conversa fiada. Ela existe”

Religiosos intolerantes pregam contra as religiões afrodescendentes que existem no Brasil (Foto EBC)

É um fato que preocupa a intensificação dos ataques, por todos os cantos do país, de intolerantes travestidos de pastores evangélicos contra as religiões afro-brasileiras, em especial o candomblé e a umbanda. A ação dos intolerantes tem sido mais intensa entre os neopentecostais, um ramo dos evangélicos que se estabeleceu na periferia das grandes cidades brasileiras na década de 70 e desde então tem crescido e se expandido.

Um dos motivos dessa intransigência contra as religiões de matriz africana foi a ascensão de pastores comprometidos com a intolerância religiosa à máquina administrativa federal durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Um exemplo dessa situação é a pastora Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, que se elegeu senadora pelo Distrito Federal. Durante os seus quatro anos no ministério, ela espalhou intolerância contra o candomblé e a umbanda – há abundância de material na internet.

No final do governo Bolsonaro a imprensa já manifestava preocupação com o crescimento, entre os evangélicos, da intolerância contra as religiões afro-brasileiras. Em 16 de setembro de 2022 fiz o post Esperam o novo presidente famintos, intolerância religiosa e civis armados.

No mês passado, a TV Bandeirantes apresentou uma série de reportagens muito minuciosa e completa chamada Crime e Fé. Uma das denúncias da reportagem foi sobre os traficantes do Morro do Dendê, no Rio de Janeiro, que proibiram a prática das religiões de matriz africana. Toda a série está disponível na internet.

Acompanho e faço reportagens desde a década de 70 sobre as desavenças entre as igrejas evangélicas e o candomblé e a umbanda. Lembro que, logo que se estabeleceram nas periferias das regiões metropolitanas, os neopentecostais colocaram em prática campanhas contra os pais de santo, que até então eram figuras respeitadas nas comunidades.

Uma das matérias que fiz foi sobre um ajudante de obra que virou pastor em uma igrejinha no meio de uma vila popular em Santa Rosa, interior do Rio Grande do Sul. Ele tinha dificuldades para ler a Bíblia. Mas era um bom orador e se fazia entender pelos seus fiéis. Em parte, o crescimento dos pentecostais nas periferias deveu-se ao fato de usarem as rádios locais e outros meios de comunicação para popularizar a sua fé.

A coluna dorsal do discurso evangélico era a destruição da imagem dos pais de santo, em um primeiro momento, e depois dos padres da Igreja Católica, em especial daqueles ligados à Teologia da Libertação, que fazem parte de organizações sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

No final de semana, conversei com lideranças sociais ligadas aos movimentos populares que trabalham nas favelas da Região Metropolitana de Porto Alegre. Em uma das conversas fui lembrado por uma fonte, um senhor dos seus 80 anos, que por muito tempo os evangélicos e os umbandistas conviveram tranquilamente na comunidade.

“Hoje a maioria sequer se fala”, explicou o líder comunitário, acrescentando: “O que dificulta uni-los na defesa dos interesses das comunidades”. Perguntei como o problema poderia ser resolvido. Recebi várias respostas, a que considerei mais relevante foi a de uma senhora ligada a organizações não governamentais de proteção às mulheres. Ela disse que deveriam ser feitas campanhas públicas explicando que a Constituição assegura o direito de cada um escolher a sua religião.

Pregar contra esse direito é crime e dá cadeia. Resumi a conversa que tive com essa liderança para facilitar o entendimento do leitor. Fui alertado por um pesquisador que a intolerância religiosa vem crescendo em comunidades nas periferias que lidam com todo tipo de problema, como a fome e o desemprego.

Nessa situação, qualquer discussão pode virar a faísca de uma tragédia. Há muitas histórias sobre intolerância religiosa circulando entre a população das periferias dos grandes centros à espera de serem descobertas pelos repórteres. Nesse tipo de assunto, quando mais reportagens forem feitas e publicadas, é melhor para todos.

Ainda não temos um quadro geral dessa história do crescimento da intolerância contra as religiões afrodescendentes. Temos noticiado casos isolados que mostram que vêm crescendo os ataques. Mas é necessário ter as informações completas para saber o tamanho do problema. Andei vasculhando a internet em busca de pesquisas sobre o assunto. Não encontrei nada importante.

Também andei ligando para pesquisadores sobre o assunto que conheço, mas que não me ajudaram a esclarecer o problema. Há muitas perguntas sem resposta, como, por exemplo, saber se o crescimento da intolerância religiosa também está acontecendo fora das vilas populares. Há uma lenda de que no Brasil não existe intolerância religiosa. É conversa fiada. Ela existe.

E é fato que o governo do ex-presidente Bolsonaro ajudou no crescimento da intolerância contra as religiões afro-brasileiras. Inclusive, lideranças evangélicas têm se manifestado preocupadas como esses acontecimentos. Para arrematar a nossa conversa. Lembro que no ano que vem haverá eleições municipais, que muitos analistas políticos consideram as mais disputadas de todas, por envolverem os interesses locais dos moradores das comunidades.

Nessas ocasiões, todas as rivalidades existentes costumam se exacerbar. Portanto, se nada for feito, será uma oportunidade de ouro para os intolerantes travestidos de pastores evangélicos pregarem contra as religiões afrodescendentes. O que resultará dessa situação? Difícil de avaliar. Mas uma coisa podemos afirmar: a intolerância contra o candomblé e a umbanda será turbinada.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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Um Comentário

  1. Vai fazer nada. É um problema, mas atinge uma minoria dentro de uma minoria. Complexo de Israel no RJ. Estado já não controla o território, como em muitos lugares no Brasil. Onde o voto ainda é a cabresto. Simples assim. Alas, politico nenhum está preocupado em resolver problemas. Negocio é grana, fotos, anuncios e eleições. Resolver problemas dá trabalho. Vide Gnomo. Suspendou aulas na rede estadual até onde não precisava.

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