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A era medieval do trote – por Michael Almeida Di Giacomo

“Quase sempre é um ato vexatório; em muitos casos, sim, uma violência”

No mês de abril, uma partida de vôlei feminino, entre alunas da Universidade Santo Amaro e alunas do Centro Universitário São Camilo, ambas do Estado de São Paulo durante a Copa Galo, somente há poucos dias protagonizou enorme repercussão na mídia on-line.

E não foi pelo resultado da partida, mas pelo fato de que um grupo de estudantes de medicina, todos homens, com os calções abaixados, realizar uma volta olímpica na quadra do ginásio onde ocorria o jogo.

A divulgação do ato – em imagens de poucos segundos – trouxe à baila toda uma discussão sobre o ambiente universitário e a violência de gênero, especialmente, contra estudantes do sexo feminino.

A universidade, instada a se manifestar, tanto pelo youtuber Felipe Neto, que divulgou as imagens, quanto pelo Ministério da Educação, promoveu – até o momento – a expulsão sumária de seis estudantes.

O interessante sobre o episódio é o fato de que os próprios alunos, em depoimento ao veículo de comunicação on-line “Metrópoles”, afirmaram ser uma prática comum entre alunos de universidades, no caso, especificamente, nos cursos de medicina.

Pedro Doria, jornalista e proprietário do Canal “O Meio”, recolheu em suas leituras que um dos trotes aplicados aos novatos da Universidade Santo Amaro é a obrigação, sim – obrigação, de percorrer determinado trecho da faculdade sem estar vestindo roupas.

E, só quem se disponha a praticar tal ato poderá ser aceito nas esquipes esportivas, e por consequência, poderá participar de jogos universitários.

O autor da obra, “O Trote na Universidade: Passagens de um Rito de Iniciação”, professor Antônio Zuin, da Universidade Federal de São Carlos, aponta que esse tipo de ritual remonta a uma tradição medieval de iniciação no ambiente acadêmico.

E, quase sempre, é um ato vexatório; em muitos casos, sim, uma violência.

No caso específico dos alunos da Santo Amaro, a policial civil, entre suas linhas de investigação, trabalha com a hipótese de que os calouros foram obrigados a realizar o ato.

É um acontecimento que ano após ano ganha evidência. Ou seja, a pratica de atos medievais de iniciação em pleno século XXI.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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4 Comentários

  1. Deixando de lado os absurdos, a geração Z (definida pelo marketing) é composta de ‘flocos de neve’. Pessoas sem resiliencia, sem condições de enfrentar adversidades (obvio que é generalização). Vão pagar o preço, mundo esta muito longe de ficar ‘mais facil’. Vermelhos? Uns treinam a prole para virar parasitas (burocratas, politicos, servidores publicos). Outros enviarao os(as) sucessores(as) para a guerra armados com um penico. Pagarão o preço.

  2. O professor Antônio Zuin é ‘cumpanhero’. Basta ler o curriculo. Titulo da dissertação de mestrado ‘SEDUÇÕES E SIMULACROS: REFLEXÕES SOBRE INDÚSTRIA CULTURAL, REPRODUÇÃO E RESISTÊNCIA EM EDUCAÇÃO’. Palavras chave, algumas, teoria critica, teoria da resistencia, Escola de Frankfurt. A tese de doutorado começa com ‘A INDÚSTRIA CULTURAL E A FORMAÇÃO DISSIMULADA[…]’. Academia foi aparelhada para ‘esquentar’ a ideologia. Quem criticar é ‘negacionista’, ‘anti-ciencia’, etc. Obvio.

  3. Caso tem importancia nenhuma. Foi amplificado (pinçado antes) para virar propaganda dos vermelhos. Felipe Neto não é alguém que se perca tempo seguindo, além de absurdamente rico é absurdamente arrogante. Chega ao nivel do patetico. O depoimento dos acusados ‘[…]afirmaram ser uma prática comum entre alunos de universidades, no caso, especificamente, nos cursos de medicina’. Em quantas universidades eles presenciaram trotes? Alguem já viu alunos de medicina da UFSM ou da UFN correndo pelados por aí? Não. Obvio.

  4. Até pouco tempo atras a recepção dos novos alunos em algumas faculdades da Belgica seguiam regras medievais. Professores e alunos confraternizavam utilizando mantos e bebendo cerveja. Civilizadamente. Não seria problema chamar de ‘medieval’, problema é reforçar uma imagem da idade media que, no minimo, é debativel. Por quem estudou historia. Nas pequenas coisas se dissemina a ignorancia.

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