Nem-Nem: vidas nulas! – por Marcelo Arigony
“Basta de formar para mercados que não existem. É estelionato educacional”
Na wikipedia, o termo “nem-nem” é atribuído à população jovem fora da escola, fora de formações profissionais, fora da faculdade, e fora do mercado de trabalho. Os norte-americanos chamam de “NEET” para a expressão “not in education, employment, or training”.
Uma publicação recente da revista Carta Capital, com base em dados do IBGE, relata um universo absurdo de 10,9 milhões de brasileiros jovens entre 15 e 29 anos que não estuda nem trabalha. Isso representa 22,3% do universo pesquisado, que é detalhado nos resultados da pesquisa.
Há outros dados relevantes, mas destaca-se que 4,7 milhões de jovens do universo pesquisado não gostariam de trabalhar, nem estão procurando emprego. Eita!
Aí a gente fica pensando na quantidade de oportunidades que existem nesse Brasilzão continental, que tem vocação para ser celeiro do mundo, mas segue exportando navios de grãos a preço de banana, e importando eletrônicos a peso de ouro.
A gente precisa olhar a política educacional sem viés ideológico e sem interesse eleitoreiro. Por falta de investimento de base, estamos jogando analfabetos funcionais para dentro das universidades. Estudos nulos, horas-aula nulas. Vão perder tempo e dinheiro – público e privado -, e depois engrossar hordas de desempregados em vidas profissionais nulas.
Precisamos considerar as reais necessidades do mercado de trabalho. E antes de criar vagas e vagas em faculdades investir em acompanhamento familiar, educação básica e profissionalizante.
Insta combater primeiro a hipocefalia. Aí sim, só depois, pensar em um ensino superior especificamente voltado às necessidades do mercado de trabalho.
Basta de formar gente para mercados que não existem. Isso é um estelionato educacional. Grassa a falta de aptidão para o trabalho, enquanto sobram vagas em atividades ligadas a novas tecnologias, ao novo tempo. E para estas atividades nem há necessidade de anos e anos nos bancos acadêmicos. Acordemos que ainda dá tempo.
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Ideologia neste assunto fica entre dois extremos. O mercado ‘decide tudo’. Ou ‘vamos implementar o desenvolvimentismo (que nunca deu certo), gastar sem pensar muito, o Estado arrecada e arruma a vida de todos’. Resumo da opera: fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes é insanidade já dizia o tio Alberto.
‘ Acordemos que ainda dá tempo.’ Não vai rolar. Burocratas só preocupam-se com problemas quando bate no bureau. Politicos quando bate na urna e só fazem ajustar o ‘discurso’ e as mentiras.
‘Precisamos considerar as reais necessidades do mercado de trabalho.’ Precisamos? Não vai rolar. Ou vai acontecer algo para ingles ver. Alas, mercado de trabalho em transformação. Noutro dia uma pessoa estava assistindo Nat Geo no streaming. Parei para ver do que se tratava e de repente notei algo estranho, Morgan Freeman estava falando portugues.
‘Estudos nulos, horas-aula nulas.’ No meu tempo era ‘professores que fingem que ensinam, alunos que fingem que aprendem’. Por isto a ‘exportação de cerebros’ de SM é uma falacia. Recem formados, dependendo do curso, saem com um conhecimento teorico que pode ou não ser util (ou atualizado) dependendo do caso. Gente muito ‘crua’, sem experiencia. Para o mercado de trabalho é ‘um filtro a mais’.
‘[…] a política educacional sem viés ideológico e sem interesse eleitoreiro.’ Bueno, sempre que alguém começa a falar/escrever com ‘[…] A gente precisa […]’ ou ‘temos que’ ou ‘devemos’ significa que não vai rolar. Utopias que preenchem espaço no discurso e nada mais.
‘[…] segue exportando navios de grãos a preço de banana, e importando eletrônicos a peso de ouro.’ Também isto. Economia na China arrefeceu. Aço chines esta inundando a Terra Brasilis. Baixo custo. Prejuizo das metalurgicas. Por isto o ‘precisamos reindustrializar o pais’ não é barbada, não é ‘vou no buteco da esquina tomar um martelinho’. Alas, monta-se industrias para produzir bens para alguém. Se outros fazem o mesmo estabelece-se a competição. Que está muito longe de ser um jogo limpo.
‘[…] quantidade de oportunidades que existem nesse Brasilzão continental […]’. Não são tantas assim. Como a educação tem nivel sofrivel, a produtividade e o valor agregado são baixos. Resulta em valor baixo para a hora trabalhada. Sem falar nos aspectos culturais, a ‘hora trabalhada’ não é muito ‘trabalhada’. Muito bate papo, muito ‘vou dar um perdido’ e por ai vai. Coissa que a estatistica não mostra.