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Nomeação de Pimenta encurta o espaço das fake news na tragédia gaúcha – por Carlos Wagner

Há, pelo menos, uma dezena de ângulos, como diziam os editores na época das máquinas de escrever nas redações, para abordar a nomeação do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), 59 anos, no recém-criado Ministério Extraordinário da Reconstrução do Rio Grande do Sul, popularmente conhecido como representante do governo federal no Estado. O território gaúcho foi devastado por enchentes do novo normal do clima que causaram 151 mortes, 104 desaparecidos e mais de meio milhão de pessoas atingidas em 320 dos 497 municípios. Esta é terceira enchente nos últimos nove meses e, desta vez, a Região Metropolitana de Porto Alegre, formada por 32 cidades, foi a mais atingida. A maioria dos noticiários fez a análise política da indicação de Pimenta. O PSDB, partido do governador gaúcho Eduardo Leite, manifestou-se contra a nomeação. Lembro o fato de que Pimenta pretende concorrer ao governo do Estado nas eleições de 2026. E que o atual governador gaúcho pode disputar a Presidência da República. É do jogo. É assim que a democracia caminha.

Sou um velho repórter estradeiro que aprendeu que especular sobre o futuro, ainda mais em um assunto tão volátil como a política, é complicado e enfadonho para o leitor. Portanto, o ângulo que escolhi para a nossa conversa é falar sobre o maior problema que os governos federal, estadual e municipal estão enfrentando perante a opinião pública: as fake news, principalmente as disparadas por parlamentares bolsonaristas. Elas estão tumultuando o enorme esforço que os governos estão fazendo para atender os atingidos pelas enchentes. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma campanha publicitária contra as fakes. O governador Leite e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), sempre que têm oportunidade, advertem a opinião pública sobre o perigo das notícias mentirosas. Portanto, o inimigo comum dos governos federal, estadual e municipal são as fake news. É como ensina a história: nada une mais os adversários do que ter um inimigo comum. E neste particular o fato de Pimenta ser o representante de Lula presente no dia a dia do atendimento às necessidades dos desalojados acelera o tempo para repor a verdade dos fatos distorcida pelas notícias falsas. E reduz o espaço de manobras dos criadores de fake news. Antes de seguir, vamos contextualizar a nossa conversa, sempre repito essa observação por considerar ser uma das regras que sustentam o bom jornalismo. O repórter não pode partir do princípio de que os leitores sabem tudo sobre um assunto. Vamos lá. Pimenta foi empossado na quarta-feira (15) pelo presidente Lula durante visita, em que esteve acompanhado por 10 ministros e por Luís Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), às 1,5 mil pessoas desabrigadas pelas enchentes que estão alojadas no campus da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, Região Metropolitana de Porto Alegre. Em duas semanas, essa foi a terceira visita do presidente ao governador Leite. Os entendimentos políticos e econômicos entre Lula e Leite para atender os desalojados estão disponíveis na internet. Voltando a nossa conversa. A nomeação de Pimenta como ministro da Reconstrução do Estado tem como objetivo acelerar o cumprimento do que foi acordado entre os governos, incluindo os prefeitos. A atual enchente é inédita, e por consequência, uma notícia internacional por dois motivos: o primeiro é que foi provocada pelo novo normal do clima, palavras usadas pela imprensa para descrever as mudanças causadas pela deterioração do meio ambiente pela ação do homem, um assunto que está na pauta de todos os países. O segundo motivo é que superou a enchente de 1941, quando o Lago Guaíba, ou Rio Guaíba como é chamado pelo povo, subiu 4m73cm e invadiu o centro de Porto Alegre. Passados 83 anos, no domingo (5) ele subiu 5m31cm, passado por cima do sistema contra as cheias da Capital (muros, diques e casas de bombas) que foi construído na década de 70 e invadiu o Centro Histórico e vários outros bairros, inclusive o Aeroporto Internacional Salgado Filho e a Estação Rodoviária.

O fato da noticia ter se tornado globalizada aumentou o apetite dos criadores de fake news. Ao ponto dos governos (federal, estadual e municipal) precisarem colocar recursos (pessoas, equipamentos e observadores) para impedir que as notícias mentirosas espalhassem o pânico entre uma população já traumatizada pelos acontecimentos. O fato é o seguinte: para se manter no cenário político, os bolsonaristas precisam se envolver com o maior número de polêmicas possível. Pelo simples motivo delas renderem manchetes de jornais. Esta é uma das maneiras que têm de alimentar o prestígio político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele está concentrando todos os seus esforços em conseguir a anistia para os participantes da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, quando quebraram tudo que encontraram pela frente no Congresso, no Palácio do Planalto e no STF, na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF). E também tentar derrubar a sentença do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o declarou inelegível por oito anos. Pimenta era chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) e a sua principal dor de cabeça era com os fabricantes de notícias falsas. Ocupou o cargo de 2023 até a quarta-feira (15). O último episódio em que se envolveu com os produtores de fake news foi logo depois da primeira visita de Lula ao Estado. Na ocasião, Fabiano Feltrin (PL), prefeito de Farroupilha, cidade industrial da Serra gaúcha, fez um vídeo e colocou nas redes respondendo a um telefonema de Pimenta. Fez uma teatro, tentando comprometer o governo federal com os prefeitos gaúchos. Pimenta também fez um vídeo ligando para o prefeito e o colocou nas redes – disponível na internet. O tiro do prefeito saiu pela culatra.

O episódio com o prefeito de Farroupilha mostrou que Pimenta aprendeu durante o tempo que esteve na Secom a lidar com os fabricantes de fake news. Mas Feltrin é um amador comparado com os filhos parlamentares do ex-presidente, Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo. Eles são profissionais e têm ligações com grupos de extrema direita americanos e europeus envolvidos com fake news. O fato de Lula ter colocado Pimenta como ministro da Reconstrução atrairá os filhos do presidente para a história das enchentes. Além das notícias mentirosas, o ex-presidente tem apostado na reunião de multidões, como aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro, para manter a militância na ativa. Mas esses encontros custam caro, e até agora têm sido financiados pelo pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo. O atrativo do uso da fake news é o seu baixo custo e a enorme repercussão que dão. O fabricante de fake news é um inimigo poderoso. Pimenta, Leite e Melo sabem com quem estão lidando?

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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 73 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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