Artigos

As autoras, as leitoras e as fãs – por Elen Biguelini

Inspirado na temática da semana anterior, levantamos uma questão que apesar de parecer ser ultrapassada, continua a ser presente na literatura. Muito mais mulheres escrevem hoje do que o fizeram no passado, mas a grande maioria das autoras ainda se volta ao romance. E, devido a isso, a autoria feminina ainda é considerada inferior, porque tudo aquilo que é relacionado ao sentimento é visto por uma sociedade machista como inferior.

Logo, se as mulheres escrevem sobre o amor, ou sobre temáticas vistas como femininas, seu texto é visto como menor. Suas leitoras são vistas como meras leitoras de romances e não leitoras ávidas de conteúdo e histórias. A autora de romances ainda é julgada perante outros autores.

Enquanto uma fã de Nora Roberts é desconsiderada, um fã de J R R Tolkien se vê como parte de um grupo de elite. Mas nada impede que ambos sejam igualmente percebidos.
Bons livros são bons livros, e merecem ser lidos independentemente do gênero de seus autores.

A ideia de que uma mulher que gosta de um determinado livro, série ou filme é menos fã do que um homem precisa terminar. Todos temos direito a gostarmos do que quisermos, colecionarmos o que quisermos.

Cada vez mais mulheres escrevem e consumem de tudo. Mas ainda encontram impedimentos causados por grupos machistas que desconsideram o seu valor.

A articulista acredita piamente no lema “Leia Mulheres”, mas não no sentido de ler apenas textos femininos, mas sim valorizar os textos das mulheres que escrevem e escreveram no passado e que tem ou tiveram seus textos diminuídos por um cânone machista. É preciso ler os clássicos, Machado de Assis, José de Alencar, etc, mas também Maria Firmina dos Reis, Clarisse Lispector, etc.

Como a História já tem percebido ao longo do tempo, nada pode ser visto apenas por um lado. O mesmo evento pode ter os mais diversos pontos de vista. As mulheres foram um ponto de vista inexplorado durante muitos anos. Felizmente, as poucas autoras que escreveram ao longo da história nos permitem perceber outros universos que não aquele que era exclusivo aos homens. Textos de autores homens e mulheres mostram mundos diferentes, que precisam ser conhecidos por ambos os lados.

E são as leitoras do presente que farão as autoras do futuro. É preciso, então, valorizar e aceitar seus gostos literários, para que novas autoras surjam mais fortes, ancoradas em bases fortes.

Não somos mais Virginia Woolf em Oxbridge, proibidas de entrar em bibliotecas e procurando as poucas mulheres que nos precederam. E isto nos deixa mais livres, mais criativas e menos temerosas.

(*)Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

4 Comentários

  1. Estamos na era do TikTok. O audiovisual tem muito mais valor que a palavra escrita (com exceção dos nichos). Simples assim. Dificilmente vai volta atras. IA vai mudar muita coisa. Não adianta querer o futuro como uma versão melhorada do passado. Futuro sera diferente.

  2. Noutro dia assistindo um russo falando sobre a literatura daquele pais fiquei sabendo de um detalhe importante. Os classicos russos Tolstoi, Dostoievsky, Chekhov são todos vistos nas escolas. E 99,9999% (palavras dele) odeia a experiencia. Imagino um adolescente lendo Guerra e Paz. Alguns na vida adulta releem as obras, a maioria não. Machado de Assis é uma chatice (grande maioria não leu mas diz que o fez para bancar intelectual, le só o resumo), José de Alencar idem (escreveu ‘O Gaucho’ sem nunca ter pisado o RS). Clarice Lispector outra chatice. Maria dos Reis não conheço e não interessa. Vida é curta e as pessoas tem o direito de ter outros interesses que não a literatura. Alguém tem que fazer o serviço ‘sujo’.

  3. Outro exemplo. Mary Shelley. Frankenstein. Influenciou muita gente. Atualmente nas discussões sobre IA é lembrada. Donde se chega na questão, é merito, não ‘pinto ou perrseguida’.

  4. Sempre umas boas risadas! Kuakuakuakuakua! Obvio que se compararmos um Porsche com um picolé de abacaxi concluiremos que são diferentes. J. R. R. Tolkien era um filólogo, professor de Oxford. Não foi o criador, mas revolucionou o genero ‘fantasia’ na literatura. Juntando mitos e arquetipos criou uma especie de mitologia britanica. Inventou idiomas. Inventou ‘universos’. Influenciou inumeros outros trabalhos, exemplos não faltam. Desde a invenção do idioma Klingon em Jornada nas Estrelas até a série Harry Potter. RPG, Caverna do Dragão. Game of Thrones. Amplamente estudado na academia. Tudo isto porque era homem? Obvio que não. Pelo numero de livros? Também não. Tirando dois livros pouco conhecidos publicou o Hobbit e a trilogia do Senhor dos Anéis. O resto é postumo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo