A prisão de José Salamoni, em 64, e a indenização da Justiça, 42 anos depois
Há muitos episódios do tempo da ditadura militar que permanecem na obscuridade. E devem, aos poucos, vir à luz. Alguns já conseguiram. É o caso específico da prisão de José Salamoni, que foi para a cadeia em maio daquele tenebroso de 1964. Agora, passadas mais de quatro décadas, a justiça reconhece e manda pagar indenização por danos morais a ele como acabará fazendo com muita gente (e em Santa Maria não foram poucos) vítima da opressão daqueles tempos. Pena que Salamani não está vivo para saborear a sua vitória ele morreu em dezembro passado.
A história de José Salamoni e da ação judicial você fica sabendo, em detalhes, na reportagem de Alexandra Zanela e Mauren Rigo, que o Diário de Santa Maria publica em sua edição deste final de semana. Imperdível, aliás. Confira:
A voz da resistência
Família do jornalista José Salamoni, que foi preso por anunciar o golpe militar em 1964 para Santa Maria, luta para receber indenização
Bastou uma noite para que fosse costurada uma das manchas mais negras da história do Brasil. A madrugada de 31 de março de 1964 mergulhou o país em um período em que o silêncio era a melhor arma contra a prisão, a tortura e a morte.
O golpe militar também respingou em Santa Maria, cidade com o segundo maior contingente militar brasileiro. Aqui, assim como em grandes centros do país, a lei nas ruas era não quebrar o silêncio.
As principais vítimas do regime que durou mais de 20 anos foram jornalistas, políticos e advogados, gente que se impôs ao autoritarismo e não tolerou as tentativas de abafar a imprensa. Um dos grandes nomes que foi alvo de militares em Santa Maria na época veio à tona novamente nesta semana, 42 anos após o golpe.
O jornalista e um dos fundadores da Rádio Guarathan José Salamoni venceu a primeira batalha de um processo judicial na última quarta-feira. Sua família poderá receber uma indenização de R$ 100 mil por danos morais causados a Salamoni em uma de suas prisões, no dia 11 de maio de 1964.
Dono da Guarathan, o jornalista permitiu que os microfones da rádio – que funcionava no Calçadão, em cima da Eny Feminina – fossem abertos para anunciar o golpe militar. Em entrevista para um trabalho de conclusão de curso da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), um documentário feito em 2003, Salamoni voltou àquela noite de 64:
– Na Rádio Guarathan, participaram alguns políticos, meus amigos Adelmo Simas Genro, o doutor Vinícius Pitágoras Gomes e o prefeito Paulo Lauda. Eu franqueei os microfones da emissora com marchas marciais, com o Hino à Bandeira e falamos: “levanta-te santa-mariense, antes que o golpe te pegue na cama. Realmente, o golpe pegou na cama.”
Não precisou de mais nada para a emissora ser invadida. Um dos radialistas da Guarathan, Paulo Carús Juliani, 74 anos, que trabalhava na hora do golpe, afirma que a rádio foi cercada por militares.
– Era polícia por todos os lados. Eles chegaram invadindo mesmo – conta.
Pressão militar fez jornalista vender a Guarathan A partir das invasões na emissora, Salamoni esteve na mira do Exército sob o apelido de subversivo. Ele conta que foi perseguido, teve a casa invadida e foi preso sem saber o motivo. Embora muitos dos presos santa-marienses nunca admitirem ter sofrido outra tortura, se não a psicológica, Salamoni contou, na entrevista de 2003 , um episódio vivido por ele.
– Ninguém podia falar ou escrever nada, senão era carregado para a cela como eu e levava choque de magneto. Era um fiozinho que, quando se mexe a manivela, te dá um choque – disse.
Com a pressão em cima da Guarathan, os anunciantes sumiram. Juliani lembra que ninguém mais tinha coragem de anunciar na rádio. Foi o fim de Salamoni na rádio.
– Com medo de represália, as empresas suspenderam a publicidade. A rádio era o grande sonho de Salamoni, mas ele teve de vendê-la, pois não entrava mais dinheiro.
Salamoni morreu em dezembro do ano passado, sem a rádio e sem saber que um dia receberia uma indenização pelos anos cruéis da ditadura
SE DESEJAR ler a íntegra da reportagem, com vários outros textos complementares, pode fazê-lo acessando a página do jornal na internet, no endereço www.clicrbs.com.br/jornais/dsm/
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