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A sedução de Mrs. Robinson – por Bianca Zasso

O diretor alemão Mike Nichols ganhou um Oscar de melhor diretor com 27 anos, um dos mais jovens a levar o prêmio da Academia. Tão jovial quanto seu realizador, o filme que deu o prêmio a Nichols foi muito mais do que uma produção típica dos anos 60. Foi uma revolução em forma de película cinematográfica.  Isso porque A primeira noite de um homem toca em assuntos que, na época de seu lançamento, ainda eram novidade no cinema americano.

A trama é simples: um jovem recém-formado volta para a casa dos pais e acaba se envolvendo com uma mulher mais velha. Seria mais uma história de traição permeada pela passagem da juventude para a vida adulta. Mas A primeira noite de um homem vai além.  O jovem Benjamin, interpretado com perfeição por Dustin Hoffman, não é só mais um garoto rico que não sabe o que fazer da vida. Seus dilemas e perturbações fazem dele um corpo estranho dentro da própria família, que é um típico retrato do “american way of life”. Enquanto seus parentes caem na gargalhada por qualquer piada, fazem churrasco na beira da piscina e esbanjam felicidade, Benjamin passa seus dias sem saber para onde ir, andando de um lado para o outro, tal e qual o peixe de seu aquário. 

A rotina entediante ganha outro sabor quando Benjamin é seduzido por Mrs. Robinson, a bela mulher de um dos sócios de seu pai. No auge de sua beleza, a talentosa Anne Bancroft presenteia o público com uma personagem que equilibra charme e mistério. Para Benjamin, ela é a válvula de escape, a solução momentânea dos problemas. Mas Mrs Robinson, do alto de sua maturidade, está tão perdida quanto Benajmin. O affair puramente sexual que ela mantém com o garoto é dos seus poucos momentos de alegria. Uma alegria velada, já que ela é uma mulher que não demonstra por completo seus sentimentos.  A personagem de Bancroft é a sedução em pessoa, uma mulher liberal e solitária que vê em Benjamin a solução para seu chato cotidiano burguês.

Enquanto Mrs Robinson caminha para o lado da paixão fatal, Benjamin parece acordar para a vida. Essa mudança de estado de espírito do protagonista agradou em cheio com o público da época, que via nascer um Hollywood onde as histórias pueris de amor e os heróis implacáveis davam lugar a pessoas comuns, com problemas muito humanos.  Nichols, assim como seus companheiros de geração, trouxeram para a Hollywood dos anos 60 a mistura perfeita: um filme de apelo popular que tocava num assunto delicado se valendo de uma rebeldia bem dosada.  As cenas de sexo e nudez do filme hoje soam inocentes, mas foram um marco nas telas onde, até então, não era recomendado mostrar um jovem na cama ao lado de uma mulher madura.

A primeira noite de um homem seduziu o público e é responsável pelo cinema que vemos hoje, aberto a temas do cotidianos, mesmo os mais inconfessáveis segredos. Depois do longa, Hollywood passou por uma fase complicada, onde a liberação de cenas de sexo e violência levaram muitas produtoras a criar filmes onde tudo era motivo para tirar a roupa. Mas no fim da década, mais precisamente em 1969, uma nova era chegou com Sem destino, de Dennis Hooper.  Sai a revolução de costumes, e entra a revolução de idéias. Mais do que um filme sobre motoqueiros que levam uma vida de sexo, drogas e rock’n’roll, o filme plantou a semente da revolta nos jovens americanos, levados a pensar mais sobre o seu, até então, perfeito país.  As motos trouxeram a revolução. Mas antes, deram carona para a sedução cheia de significados de Mrs. Robinson.

A primeira noite de um homem (The Graduate)

Ano: 1967

Direção: Mike Nichols

Disponível em DVD

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