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Os idiotas do horário eleitoral – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira

O idiota, romance do russo Dostoiévski escrito em Florença em 1868, narra a história de um dos mais impressionantes personagens da literatura mundial, o Príncipe Míchkin. A obra conta-nos sobre um príncipe e a problemática do indivíduo puro, diante de uma sociedade corrompida, por isso um idiota, um inadaptado.

É verdade que ouvimos por aí muita coisa idiota, conhecemos pessoas idiotas. Acabamos, por vezes, também sendo idiotas. Ainda que não estejamos sob o manto da majestade, somos, não raramente, parecidos com as narrativas do Príncipe Míchkin.

Hoje inicia o horário eleitoral gratuito, propaganda dos candidatos, veiculada no rádio e na televisão, que encerra no dia 4 de outubro, três dias antes do pleito municipal. A lei determina, e nós como bons cidadãos, cumpridores de nossos deveres, lá estamos, sentados diante da televisão ou dos nossos rádios assistindo/ouvindo o horário eleitoral gratuito. Idiotas!

Por prudência, melhor eu explicar. Idiota, para que possamos (você também) identificarmos se somos um deles, é o sujeito que comete idiotices, bobo, tolo, burro, aquele que diz e faz bobagens… Acho que é suficiente, já é o bastante! Até aqui identificamos muitos idiotas. Acabamos sendo idiotas.

Um idiota a acreditar em promessas de candidatos e falas absurdas; um idiota na tentativa de completar um álbum de figurinhas, no descarte dos repetidos, na seleção das novidades, na busca pelas mais difíceis. Idiotas uns frente aos outros, eu em casa, bobo, tolo; e muitos deles lá, falando bobagens. Que sejam as bobagens limitadas às falas deles, não sejamos idiotas ao eleger quem possa fazer coisas idiotas.

É o trem do horror, ainda bem que a lei eleitoral me impede de citar alguns exemplos. Ao certo faltaria espaço, ou o texto viraria comédia. Parece-me, em especial a candidatura para vereança, que estamos diante de uma grande agência de emprego. Candidatos a enaltecer que são a novidade, quando a pouca idade lhes trazem juventude, mas a política é tão velha como no tempo de seus avós. Candidatos veteranos da política, sempre pedindo mais tempo, para fazer o que já deveriam ter feito. Somos meros idiotas, tal como o príncipe de Dostoiévski, inadaptados à idiotice generalizada.

Não podemos dar menos importância ao pleito para vereador, senão mais uma vez seremos idiotas. A vereança, ou a simples candidatura, ainda que idiota, é o que gera a política do Brasil. A nomeação de secretários e a construção da candidatura de deputados estaduais começa agora. Não sejamos idiotas em menosprezar este importante momento.

O horário eleitoral gratuito é importante para conhecermos as propostas (as que sejam viáveis), no mais ainda teremos minutos de descontração. A sorte está lançada, e ainda que a lição seja velha, recorrentemente a idiotice abanca-se na primeira fila para ser vista, enquanto a inteligência acomoda-se na retaguarda para ver, pois é melhor calar-se e permitir que pensem que você é um idiota, do que falar e passar a dar certeza. Eternizou Orson Welles “é preciso ter dúvidas, só os estúpidos têm uma confiança absoluta em si mesmos. Não sejamos, você leitor, nós eleitores, os idiotas do horário eleitoral.

Vitor Hugo do Amaral Ferreira

[email protected]

@vitorhugoaf

 

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