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50 tons de horror – por Bianca Zasso

Se o prezado leitor desta coluna leu o título acima e achou que ia se deparar com uma crítica ruim do best-seller 50 tons de cinza, perdeu a viagem. Até poderia falar do livro (que li e não gostei), mas o momento é de falar de um grande nome do cinema nacional e não de um livrinho picante americano. Este ano, o personagem Zé do Caixão, criado e interpretado pelo cineasta José Mojica Marins comemora 50 anos de existência. Mais do que isso: 50 anos de resistência.

Mojica surgiu no cinema na década de 50, fazendo pontas como ator e dirigindo alguns filmes que passam longe dos clássicos do horror que criaria alguns anos depois. A sina do aventureiro que ele dirigiu em 1958, é um faroeste com tempero brasileiro, a exemplo de Os Abas Largas, longa que teve locações em Santa Maria e que foi exibido no último Santa Maria Vídeo e Cinema numa sessão lotada.

Mojica, neste período, também fez romances e dramas. Mas o que estava por vir é que seria a melhor história. Em 1963, nosso cinema ganhou À meia noite levarei sua alma, primeira aparição do personagem Zé do Caixão na telonas e também o filme que dá início a uma trilogia que só viria a ser completada em 2008, com o lançamento de Encarnação do Demônio, que marca o fim da história do Zé, mas não o fim de um ícone. Digite Coffin Joe (como o Zé é conhecido lá fora) no Google e descubra do que eu estou falando.

Conheci Zé do Caixão por volta de 1995 quando, ainda adolescente, cabulava algumas aulas de educação física para assistir ao Cine Trash, programa apresentado pelo Zé que exibia filmes de terror. Mais do que dar a sinopse, Zé do Caixão era uma atração tão importante quanto os longas exibidos. Os fãs mandavam cartas (sim, eu vivi uma adolescência sem e-mail!) e Zé respondia com aquela sua voz inconfundível. Só anos depois é que fui descobrir o diretor José Mojica Marins, o homem por trás da capa e das unhas longas. Encantei-me com sua coragem, com seus temas e, mais que tudo, com a sua dedicação ao terror.

Num tempo onde o cinema nacional que atinge o grande público investe em comédias de gosto duvidoso e histórias bobas, Zé do Caixão enchia cinemas mostrando um homem comum e sem fé que apavora uma pacata cidade do interior. Ao contrário do que alguns desavisados podem pensar, o personagem Zé do Caixão não é um monstro, muito menos um vampiro. É um coveiro em busca de uma mulher que possa lhe dar o que ele chama de filho perfeito. Nada de superpoderes. Sem truques. Zé é como qualquer outro Zé desse mundo e é aí que mora a magia do personagem. Zé do Caixão, com pouco ou quase nenhum dinheiro, criou filmes que são idolatrados por fãs do cinema de horror no mundo inteiro.

Uma oportunidade para quem quiser conhecer e entender melhor a obra única criada por José Mojica Marins é o curso Zé do Caixão: 50 anos de terror, que será realizado no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa nos dias 29 e 30 de abril e 2 e 4 de maio. Realizado pela produtora Cena Um, o curso é ministrado por Carlos Primati, conhecedor da obra e amigo de Mojica, além de ser um dos idealizadores da premiada Coleção Zé do Caixão, caixa que contêm seis filmes do diretor, lançada em 2000.

Esta que vos escreve vai participar, é claro, como boa fã do Mojica que é e também para estar mais bem preparada para escrever sobre seus filmes aqui neste espaço. Enquanto eu vou estudar, deixo um pedido: assistam filmes de terror. Eles nos colocam diante de situações limites e cara a cara com a tão temida morte. E quer modo melhor para encarar a vida do que estando diante de um desafio. Dê uma chance ao horror. Dê uma chance ao Mojica, se você ainda não fez isso. Posso garantir que é bem mais emocionante que as noites insones narradas naquele livro famoso.

Bjus da Bia.

Curso Zé do Caixão: 50 anos de horror

Em Porto Alegre, no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

Mais informações: [email protected]

 

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Um Comentário

  1. É uma pena que o filme “A Encarnação do Demônio” foi mal nas bilheterias. Aquilo ali é o terror genuíno, made in brazil e com orgulho.

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