TRAGÉDIA. Associação elabora carta para defender bombeiros indiciados pela polícia, no inquérito da Kiss

Com escassa, para não dizer nula, repercussão na mídia tradicional (o texto foi visto no blogue de um bombeiro e no sítio da própria ENTIDADE), a Associação dos Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul, produziu e divulgou nota em defesa dos seus integrantes, indiciados no inquérito da Kiss. Aqui você tem a íntegra, a partir de um material assinado por Naiôn Curcino, que faz a assessoria da Abergs, e faz a própria avaliação. Confira:

“BOMBEIROS EMITEM CARTA EM RELAÇÃO AO INQUÉRITO DA TRAGÉDIA DA KISS

A Associação dos Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Abergs), manifestou-se por meio de uma carta aberta a população, em defesa dos bombeiros indiciados no inquérito feito pela Polícia Civil sobre os responsáveis pela tragédia da Kiss. Segundo a nota, o relatório acusa os bombeiros “como homens que mataram intencionalmente 241 pessoas”.

Ao longo do documento, há explicações que não ficaram claras no inquérito, conforme a Abergs. A nota argumenta que o indiciamento dos bombeiros que realizaram as vistorias da boate não se sustenta, pois a mesma foi feita em agosto de 2011, quase um ano e meio antes da tragédia, tempo suficiente para serem feitas alterações no local, como as barras de contenção nas rotas de saída e a dimensão não correta das portas. “Para comprovar que houve erro, é necessário mostrar imagens do local de agosto de 2011 que sejam idênticas as de janeiro de 2013, o que é impossível devido à reforma completa pela qual passou o estabelecimento”.

O segundo ponto em que a Abergs contesta o indiciamento é por parte dos bombeiros que atenderam a ocorrência. A Associação afirma que os bombeiros tinham de escolher entre salvar as pessoas que ainda estavam dentro do local e apagar o fogo ou conter os voluntários, o que seria ineficiente, devido ao enorme número de pessoas no local. “É leviano afirmar que os bombeiros não entraram no ambiente sinistrado.”

Quanto às falhas na estrutura de prevenção de incêndio e no atendimento das ocorrências, a Abergs concorda, mas ressalta que são deficiências estruturais do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar e não dos militares. A Associação luta pela desvinculação do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, o que daria mais autonomia à corporação. Há anos a sociedade, imprensa e governos são alertados sobre as deficiências do Corpo de Bombeiros, que não permitiram prevenir e evitar de forma mais eficaz a tragédia da Kiss.

Por isso, não só o poder público municipal deveria ter sido indiciado, mas também o governo do estado, pois as autoridades sabiam da precariedade da corporação no que diz respeito à falta de servidores militares e equipamentos, evidenciado por meio de reuniões com secretários de estado e relatórios entregues por meio de grupos de trabalho ao próprio governador Tarso Genro.

Para finalizar, a nota diz que esperou para se manifestar em respeito às famílias e autoridades, que buscavam responsabilizações. Porém, faz um desabafo: “Embora os Bombeiros de Santa Maria terem salvo centenas de pessoas que estava dentro da boate, este fato parece estar sendo ignorado. Não é justo! Esses profissionais estão suportando um linchamento moral e com as consequências físicas (inalação dos gases tóxicos) e psicológicas. Mas, reafirmamos ao povo gaúcho e especialmente à população de Santa Maria, que mesmo com todas as limitações, o nosso empenho em prestar serviço de bombeiro é, foi e sempre será o melhor possível. Afirmamos nossa fidelidade à sociedade gaúcha em socorrê0la, comprometendo-nos conforme nosso juramento, mesmo com o risco da nossa própria vida”.