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Sou contra – por Daiani Ferrari

Na sexta-feira foi publicada pelo jornal Diário de Santa Maria uma foto de um projeto de memorial para as vítimas da boate Kiss, que poderia ser construído no endereço da mesma, na rua dos Andradas. Conforme o jornal, o projeto é assinado pelo artista plástico Mauro Pozzobonelli e capitaneado pela Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia em Santa Maria (AVTSM).

Eu sou contra. Não gostaria de a cada vez que passar pela Andradas ver uma obra faraônica lembrando as vítimas. No meu ponto de vista, com a filosofia de que a vida tem que continuar, o imóvel deveria ser entregue ao proprietário para que o mesmo faça o que quiser com ele. Isso sem falar que acredito que as homenagens já deveriam ter sido retiradas do local, afinal mais de cem dias já se passaram desde aquela madrugada.

Minhas opiniões não são caso de falta de coração, acreditem, existe um coração batendo aqui dentro, são mais de ordem prática. Alguém já pensou em quanto de custo para o município, estado, ou sei lá para quem, essa obra vai representar? Desapropriar vai ter um custo alto, visto que é um imóvel muito bem localizado e por mais sensível que o proprietário seja, talvez não queira sair perdendo, afinal de contas, negócio é negócio. Tendo por base o projeto mostrado pelo Diário, não será apenas uma pracinha, com alguns bancos e um painel com os nomes dos jovens, mas “um prédio com três pavimentos, em forma de arco, com esculturas e elementos que lembram as vítimas”, ou algo do tipo. Ou seja, algo muito caro, tomando como base as grandes obras públicas que tanto criticamos quando abrimos o jornal.

Será que os recursos que serão dispensados para isso não seriam melhor aproveitados com a compra de equipamentos para os bombeiros ou qualificação para os profissionais que deixaram de fazer seu trabalho ou, ainda, para os serviços de saúde que viram-se sobrecarregados e sem estrutura para dar conta sem a ajuda de fora? Talvez a grande sacada de manter vivas as memórias das vítimas seja transformar as perdas em ganhos futuros.

Não sei, mas não consigo ficar confortável com a construção de um memorial. Vai ver é só um ensinamento que trago da infância, mas juro que venho trabalhando para melhorar. Minha mãe sempre dizia que roupas e sapatos eram presentes melhores que brinquedos, porque era do que eu precisava mais. “Mais importante que brinquedos para ir à escola, são as roupas e os calçados”, era o que ela dizia.

Porque, como já disse outro dia, o luto é eterno e não é um memorial que vai acalmar a dor.

Sou contra. Mas essa é só a minha opinião.

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3 Comentários

  1. Muito bom o texto. É isto aí! Não são as “obras faraônicas” que vão deixar-nos esquecer do ocorrido. Eu também sou contra. Não é um órgão de imprensa que vai definir o que será feito. Nem somente os familiares. O luto é de toda a cidade e, portanto, todos nós podemos e devemos opinar a respeito.

  2. Sou escultora,imagino o valor dessa mega obra…
    Nada pessoal,não conheço o escultor ,nem sei de onde ele é ,no entanto,devo expressar o que penso:
    “A beleza e a juventude de tantos, sucumbiu ali,ficando , se ainda recordam,um vazio ,um sileeeêncio,que ainda nos toma alma, sem que possamos fugir…Ali, ou em outro lugar,pode sim haver um memorial…,mas um lugar simples ,límpido nas suas formas ,tão simples e límpido que não perturbe o silêncio que suas ausências,nos deixaram”. Não tinha parentes,mas ainda choro,por que sou mãe,sou fliha,sou irmã de todos eles ,por que sou humana.

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