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Rappa – por Daiani Ferrari

A mudança continua. E a bobeira é a mesma de sempre.

– Tu tem pó pra vender?

–   Não.

–   Tu sabe onde consigo encontrar pó? Eu pago qualquer coisa, dou muita cerveja pra quem me conseguir pó.

–   Bah, cara, eu não sei.

–   Mesmo?

– Aham. Não sei mesmo.

***

Hoje fecho duas semanas envolvida com mudança. Mudar é bom, traz novos ares e novo ânimo, mas dá um trabalho do inferno. Tive problema com a ligação de luz, com a pedra da cozinha que ainda não veio, por isso estou jantando comida congelada, feita no microondas ou forno elétrico. Nem um ovo frito está sendo possível no momento. Hoje colocamos cabides no closet e entrada da casa e demos um destino digno para uma bancada de madeira e um armário que não teve sorte na reorganização da cozinha. Juntos, viraram alguma coisa no escritório.

Na outra sexta, fomos à Oktoberfest em Santa Cruz, tinha show d’O Rappa. Fui, embora tenha tido a prova cabal de que estou velha no momento em que vi a fila para entrar e ela dobrava na esquina. Quando entramos no espaço do show, a primeira coisa que fiz foi procurar uma cadeira que, obviamente, não encontrei. Foi nesse momento em que sentei no chão. Ali permaneci por mais de uma hora até que a banda começasse a tocar. Sentada, olhando para as saias curtas, os shorts cortados, as camisetas atadas na metade da barriga e as meninas que eu juro não tinham mais de 22 anos, algumas não mais que 15 até, percebi que deveria ter ficado em casa terminando a mudança. Aquilo não era para mim e havia tantas caixas ainda me esperando.

Quando começou o show, eu tinha duas opções, encontrar um canto e ficar sentada sem a chance de o povo me levar ou levantar e aproveitar. Eu optei pela segunda. “Tá no inferno, abraça o capeta” não é o que dizem? E foi, então, que me apareceram as duas criaturas que puxaram o diálogo ali de cima. Tudo bem que eu parecia meio alterada, mas era puro cansaço e uma tentativa talvez exagerada de espantar o sono, porque ainda teria que dirigir até Candelária às três da madrugada. Quem nunca deu uns pulos num show, fez uma rodinha punk e dançou estranho que atire a primeira pedra.

Eu já havia visto aqueles meninos ali próximos a nós. Mas sem nenhum interesse, como vi mais um monte de gente. Eles estavam bebendo, parados, cantavam uma música e outra, mas percebi que buscavam alguma coisa. Um amigo, talvez. Um caso, quem sabe. E pelo visto era pela droga que eles procuravam. Tenho 31 anos e essa é a primeira vez que isso me acontece, seja em festa ou não. Engraçadas as dependências do ser humano moderno, que até para se divertir precisa de um empurrão. E se para as coisas boas tem a droga, o que será que sobra para as ruins?

Depois que eles saíram, decepcionados com minha alegria natural, segui tomando minha água, porque eu era a motorista da rodada e no outro dia a mudança continuava. E ainda continua.

Por falar nisso, quando chegarão a pedra da cozinha e o box do banheiro?

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