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Uma primeira lição – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira

A tarefa de estar aqui é complexa, rodeada de grande compromisso e de um esforço tremendo para controlar o choro que a emoção carrega consigo. Afinal, fui convidado a proferir a última aula da graduação destes nobres formandos. O último recado, o último discurso.

Eis a minha missão! Que não seja a última aula, mas um recado à vida nova. Uma primeira lição! Eu quero falar não de leis e normas, tampouco de direitos e deveres. Hoje, estes jovens estão aqui por que estudaram todos os conteúdos do direito, os dogmas jurídicos, a norma hipotética fundamental, a Teoria Pura do Direito.

Pais, biológicos ou de afeto, peço licença aos senhores, os grandes responsáveis por tudo isso, para proferir algumas palavras aos atores da noite.

Meus queridos afilhados! Santa Maria, Cacequi, Jóia, Canoas, São Pedro, São Sepé, São Lourenço da Mata, Santana do Livramento, Pelotas, Dom Pedrito, Uruguaiana, Porto Xavier, Itaqui, Porto Alegre, Restinga Seca… do Rio Grande do Sul a Pernambuco hoje é dia de festa!

Grande a honraria que me concederam. E cá estou, com uma pretensão tamanha ao tentar falar de algo tão individual, pessoal. Minha pretensão não está no conteúdo dos bancos acadêmicos, certamente já são sabedores deles. Quero falar a vocês, de uma jovem senhora, que hoje vestida em traje de festa, preparou-se para estar aqui, sentada na primeira fila, esteve presente em todos os momentos da vida de vocês.

Às vezes, está certo! Ela falha. À vezes tarda, mas ela sempre volta, sempre está presente. Esta linda senhora, chegou cedo, trouxe os pais, os familiares, os amigos.

Ela nos confunde, faz a lágrima descer mansa pelo nosso rosto e contornar o nosso sorriso. Esta inesquecível senhora, hoje aqui presente, tem o poder de nos encantar, engasgar, sorrir, chorar. Confusão de sentimentos!

Por certo, acompanhando cada um de vocês, a senhora da noite, faz molhar a palma da mão, secar a garganta, a perna tremer, a barriga doer.  Tudo isso, por que vocês escolheram estar aqui, vocês trouxeram esta nobre senhora com vocês.

A tarefa de vocês não será fácil. O nosso tempo é cruel, meus afilhados! Hoje vivemos uma crise sem precedentes, que assola os três poderes do Estado; são as mazelas do executivo que desafiam o judiciário e corrompem o legislativo.

Nossos tempos são estes, a Revolução dos vinte centavos, bandeiras em prol da saúde, segurança. Este é o desafio de vocês!

E o que temos a ver com isso?

Ao contrário, nem tudo são escolhas, vocês não escolheram viver num universo caótico, em que o entendimento das pessoas não é a regra; Vocês não escolheram fazer da justiça um instrumento justiceiro.

Quem nunca ouviu dizer que o Direito é um Curso onde muito se lê? Por certo, mas mais do que leitura, precisamos escrever. Escrever um novo contexto, em que possamos falar a verdade e calar a mentira.

Opa, desculpem! Ia esquecendo da nossa convidada de honra. Acontece que neste mundo confuso, ela se esconde, disfarça-se, torna-se efêmera, passageira. Mas ela sempre volta, voltará. Sabem por quê? Por que ela não está onde a gente quer, e sim naquilo que a gente faz! Queiram, meus afilhados, honrar o sentimento de justiça;

Queiram, sem medo, tornarem-se discípulos da ética; Queiram, que as pessoas saibam que antes delas terem direitos, elas precisam conquistá-los; Queiram, que o dia de vocês seja o melhor dia a vocês e aos outros.

O meu tempo vai se acabando, e vocês já nos deixam saudades. Cada turma é única, cada turma carrega as suas diferenças. Mesmo que eu tivesse dias, não descreveria as particularidades de cada um de vocês, mas saberia dizer que a convidada ilustre dessa noite é quem faz os nossos olhos aguados.

Hoje vocês ultrapassam, mais uma vez, os muros da faculdade, talvez ainda lembrem do dia em que assistiram a primeira aula, e aos poucos aquele abismo foi encurtando-se, hoje ele nem existe mais.

Outros desafios virão, uns maiores, outros menores, a vida vai se encarregando disso. Ela se encarrega de nos tornar fortes, nos prega peças, leva dos nossos olhos entes queridos, mas também nos deixa com a beleza das melhores lembranças.

A vida é assim, como as ondas, tem uma maneira diferente de se repetir. De prometer descobertas e abrigar todos os tipos de sonhos e embarcações. O que nos faz grande é ser como o mar: incansável na sua busca pela onda perfeita, até descobrir que a perfeição está na própria busca.

Vocês cresceram, e a partir de agora se deparam com um mundo que espera muito mais de vocês, do que vocês possam esperar dele.

Meus queridos, existem coisas que são únicas, que não se repetem. A noite de hoje é exemplo disso. Por outro lado, existem coisas, que nos parecem banais, mas são essenciais: um abraço apertado, um sorriso sincero, uma pequena gentileza, um brinde com os amigos, a conversa jogada fora, por favor, obrigado, um chimarrão em família, o dia a dia com o irmão, a alegria de um pai, o olhar de uma mãe.

Tenham o compromisso de lembrar que a preocupação com o futuro é necessária, mas não o principal, o passado está lá atrás, o importante é aquilo que chamamos de presente. Este é o tempo, embrulhado em papel, amarrado em lindas fitas que cabe a vocês desvendar. Honrem o presente que é digno a cada um de vocês.

Hoje, vocês são os atores, e já tem algum tempo que são os protagonistas do mais importante papel, a vida de vocês.  Neste imenso espetáculo chamado vida, quando a cortina se abre podemos perceber o verdadeiro sentido pelo qual atuamos. E junto de vocês, de mãos dadas estará a nossa convidada, bem trajada, alinhada, disposta a percorrer uma vida ao lado de cada um de nós. A nossa jovem senhora FELICIDADE.

Pretensão a minha falar de felicidade. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz. Ao final, saibam que o bem mais precioso que carregam é o próprio nome, honrem o nome de vocês, mais tarde saberão que o bom homem é digno pelo que ele é, e não pelo que ele tem.

Ao que me cabe, posso dizer: feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. Hoje, somos felizes por vocês! Meu último recado: levem pela mão esta jovem senhora, a FELICIDADE.

Vitor Hugo do Amaral Ferreira

Facebook/vitorhugoaf

REFERÊNCIA: Parte do discurso proferido aos formandos da 20ª Turma de Direito, do Centro Universitário Franciscano

 

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