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As facetas da realidade – por Luciana Manica

Assistindo a um lance de televisão, o que é raro, chamou-me atenção a advertência do documentário que narrava a fuga da prisão de dois rapazes brancos na África do Sul, encarcerados como terroristas, pois lutavam pelo direito e liberdade dos negros. No recado mencionava que a obra era baseada em fatos reais, mas alguns detalhes haviam sido modificados para dar ênfase dramática.

Passei a me questionar, será que somos tão ingênuos para acreditar que tudo o que passa num documentário é a verdadeira representação da realidade? Mas o documentário não deveria ser a reprodução audiovisual de fatos reais? Afinal, trata-se de uma obra embasada em acontecimentos verídicos!

Documentário é um gênero cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso da exploração da realidade. Mas isso não significa que deva representar a realidade “tal como ela é”. O documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjetiva da realidade. E agora José, é ou não é?

Já a ficção é uma narrativa imaginária, irreal. Obras ficcionais podem ser parcialmente baseadas em fatos reais, mas sempre contêm algum conteúdo imaginário.

Segundo Mauro Pommer, professor de cinema, a distinção entre documentário e ficção tem um grande nível de artificialidade. O cineasta Luiz Carlos Lacerda entende que a ficção está impregnada de documentário, e a diferença entre eles começa a perder o limite. E mais, algumas ficções vão à realidade concreta do dia-a-dia para buscar elementos. Há os que pregam pelo uso das potencialidades de ambos, sem que os gêneros se misturem, mas permitindo que a ficção faça uso dos diversos enfoques do documentário, como imagens, pesquisas, fatos.

Esses que não pensam em separar os gêneros defendem o diálogo permanente, como ensina a professora Ramayna Lira: “O documentário, como arte, como fonte expressiva, ocorre quando ele deixa de tentar ter uma pontada de verdade”. Por falar em verdade, Mauro Pommer ensina que “a verdade é acima de tudo algo que cabe dentro de um debate filosófico, no sentido de que não significa o real apenas, mas o que é socialmente construído”.

Em suma, tudo depende do enfoque que o diretor vai dar. Os fatos podem ser os mesmos, a base histórica pode até não mudar, mas a nuance, o olhar, os personagens e a expressão do autor poderá dar ensejo a inúmeros finais, romântico, trágico, comédia-grega ou ficção científica, tudo dependerá da imaginação que irá guiar a obra e do envolvimento do espectador. Bora lá se ligar na telinha, bom filme!

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