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Menos cupcake, mais massa folhada – por Luciano Ribas

A massa folhada rosa da Copacabana faz parte de uma das minhas mais antigas memórias: ela, a minha mãe, um Minuano Limão de garrafinha pequena e o antigo balcão da confeitaria. Na minha cabeça, a cena é de antes do meu irmão preferido, o Leandro, existir. Ou seja, deve ser lá por 77 ou 78. Faz tempo, mas parece que foi ontem…

Na semana passada, voltei à Copacabana para reencontrar o doce. Fui ao novo balcão, pedi a massa folhada e uma Coca-Cola, já que o Minuano Limão de garrafinha pequena já não está mais entre nós. Como minha mãe não pode me levar, fui sozinho – com 42 anos, acho que já posso…

Antes de comê-la, fiz uma foto, escrevi “Massa folhada rosa da Copacabana. Os santa-marienses, natos ou “de coração”, entenderão… (E azar dos triglicerídeos!)” e mandei para o mundo via Facebook. E o “mundo” parece ter gostado, pois no momento em que escrevo este texto, a foto despretensiosa já teve 108 compartilhamentos e 398 curtidas.

Porém, o que mais me impressionou foram os comentários, cheios de associações emocionais (sobretudo de quem está longe de Santa Maria) mas também reveladores de aprovação, satisfação e, até mesmo, orgulho desse patrimônio identitário dos santa-marienses. Aliás, algo sobre o qual não sei se os proprietários da confeitaria têm plena consciência, da mesma forma que a maioria dos santa-marienses também não têm sobre tudo o que há de bom e de ruim na nossa cidade.

Digo isso não como novidade, mas como parte de uma reflexão onde a massa folhada rosa da Copacabana entra como alegoria. Diferentemente de outros lugares, inclusive aqui do RS, que construíram um desenvolvimento sustentado em “vocações” profundamente enraizadas e compartilhadas por grande parte dos seus habitantes, desde sempre Santa Maria busca milagres para o seu desenvolvimento – e eles, por duas vezes, até aconteceram, com a vinda da ferrovia e, mais tarde, da UFSM. Parecemos condenados a desejar a grande montadora, a fábrica mágica ou a solução redentora, paradigmas de um modelo de desenvolvimento que, geralmente, se revela bom para alguns e injusto para a maioria. Basta comparar a Gravataí da GM com os municípios da Serra Gaúcha para entender a grande diferença que há entre crescer coletivamente e “ganhar na loteria”.

Na verdade, um certo imediatismo presente no comércio e uma tendência à acomodação inerente ao serviço público, nos fazem ficar desejando cupcake e frango frito do KFC enquanto deveríamos estar vendendo massa folhada rosa e galeto para o mundo. Somos bons em algumas coisas e tendemos a menosprezá-las, buscando longe de nós os caminhos que nos levarão a um futuro melhor. E, sem resolver isso, ficaremos eternamente vendo nossos “líderes” aplaudirem qualquer aventureiro vindo de Hong Kong ou de outro canto do mundo como se fossem santos salvadores.

Menos cupcake e mais massa folhada. Para mim, a solução passa por aí.

Aqui o link para a foto:  http://migre.me/pfKr1

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5 Comentários

  1. Luciano quando cheguei em Santa Maria no ano de 1975 para a cursar Matemática na UFSM os primeiros lugares que frequentei foram o Restaurante Augusto e a Copacabana. Na minha avaliação não existe um galeto como do Augusto e não tem cupcake que se iguale a massa folhada e a panelinha de cocô da Copacabana. Vamos valorizar o que é nosso.

  2. Pode até encontrarmos galeto e massa folhada em outros recantos. Mas que o galeto do seu…..e a massa folhada Rosa são sucessos,são em qualquer época.

  3. Laranjinha também era muito bom.
    Rubem Braga, muitos anos atrás, andou se enroscando com a repressão e teve que deixar o RJ. Carlos Drummond entrou em contato com Mario Quintana, que conseguiu um emprego na Folha da Manhã. Estabelecido, Rubem escreve uma carta para Drummond agradecendo e comenta algo como: "Quintana foi me mostrar a cidade e, entre os pontos turísticos, me levou para ver o pôr do sol como se o sol só se pusesse aqui."
    Gravataí já tinha muitos problemas antes da GM, não seria a montadora que iria consertar. E a serra gaúcha em épocas de crise, coisa não incomum, é triste de se ver.
    Santa Maria ainda é uma cidade boa de se morar, mas a mentalidade está parada desde a década de 80. Santa Maria virou uma cidade comum. Galetos há tão bons ou melhores na Serra. E a pâte feuilletée também não é daqui.

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