Artigos

A balada dos sapatos azuis – por Márcio Grings

márcio esqTodas as noites, quando coloca a cabeça no travesseiro, mesmo sabendo que ela está a milhares de quilômetros de distância, de toda a maneira, acredita: sim, ainda consegue ouvir perfeitamente o som daqueles sapatos de salto alto percutindo no assoalho da sua casa. Sabe que não está louco, tem certeza, não são fantasmas!

Ele ouve claramente…

toc-toc.. toc-toc… toc-toc”.

É quando surge a imagem dela cruzando a sala num calçado azul brilhante. Panturrilhas salientes, firmes, pernas brancas envolvidas numa meia-calça cor da pele. #VestidoAzulEscamaDeSereia, cabelo preso, rosto levemente maquiado. Cílios pintados, olhos castanhos límpidos. Sorriso aberto como um sol nascente.

márcioOutras vezes ele se vê do antigo apê dela. Deitado no sofá, esperando o jantar com a mesa já posta. Naquela sala, o barulho dos sapatos azuis retumba como uma canção bonita vinda das sapatilhas de uma Ginger Rodgers. E nesse musical Off-Broadway exclusivo, como único expectador, lembra-se de assistir a diversos premières. Um privilégio só dele.

Por onde andarão aqueles sapatos? Por que ruas desenha-se aquela presença feminina? Por que salões de baile e com quem eles dialogam danças e cruzamentos de pernas? Será que alguém pisou nos teus dedos do pé? Será que a silhueta e os contornos do teu corpo estão sendo devidamente visualizados por “esses estranhos sujeitos” que povoam teus dias e noites?

Ele tem certeza, ninguém… NINGUÉM além dele tem a capacidade de admirá-la tão bem. Ele é dotado de uma espécie de tino que identifica o belo antes que o resto da humanidade o perceba. A complexidade, as nuanças que respiram dentro dessa curva sinuosa que leva a alma de alguém. Os anseios, desejos mais íntimos e aspirações.

Ah, ele ainda ouve o som daqueles sapatos de salto vazando dos elevadores, descendo e subindo escadas. Os dedos confortavelmente espremidos dentro daquele espaço que a sustenta. Há equilíbrio, força e garbo em cada gesto que desencadeia todos os movimentos. Elegância não se compra na esquina. Há poesia nas viradas de pescoço, a forma como olha e abre a boca e o som da voz dela se desdobrando até os ouvidos alheios.

Todas as noites, quando coloca a cabeça no travesseiro, imagina aquela imagem chispando no asfalto e nos paralelepípedos das capitais e cidadezinhas do mundo. Entrando e saindo de táxis e automóveis.  Vasculhando bares, restaurantes e boutiques. Embarcando em aeroportos e outras viagens.

Isso tudo por que, quando para e pensa em tudo que viveu, aquele som dos sapatos azuis brilhantes parece ser uma joia rara que ainda reluz intensamente em suas lembranças.

Ela, música favorita, a prata e o ouro. O sino de Belém que ressoa além do tempo.

 

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo