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Uma Rosa do Sertão – por Atílio Alencar

atílioRosa deixou o grande sertão mineiro para viver um amor impossível no sul. “Não pensava em mais nada, só queria ficar perto dele. Daí vim embora pra cá.”

Depois o amor acabou, mas Rosa tinha se afeiçoado ao sul. Fez amizades, constituiu família, criou laços com a terra. Por gostar de ajudar as pessoas, resolveu lutar ao lado dos que precisam. “A gente tem que se ajudar, só assim a coisa anda”.

Quando a conheci, ela estava reforçando a estrutura de um barracão de lona no acampamento sem-terra Gladiadores sem Fronteiras, em Livramento, fronteira com o Uruguai. Ofereci ajuda; ela sorriu e agradeceu, mas disse que dava conta. E seguiu conversando enquanto lidava com a taquara e a corda.

Na noite anterior, o vento infinito da Campanha havia levantado muitos barracões do chão. As crianças, assustadas, não conseguiram dormir. Rosa era uma das pessoas com a tarefa de dar manutenção ao acampamento. Enquanto trabalhava na restauração da barraca, uma mulher um pouco mais jovem lhe dava assistência e cuidava de três crianças, todas filhas de outras famílias de acampados.

“Gosto da luta, gosto do movimento. Acho que às vezes é muita reunião pra discutir tudo, tem coisa que podia ser mais simples. Mas a gente entende, é muita gente, muita necessidade, muita coisa pra organizar.” Rosa reflete enquanto trabalha, sorridente – um sorriso que nem sempre sugere alegria, mas compreensão dos mecanismos da vida.

Quanto termina o serviço, Rosa esfrega as mãos para devolver o pó chão. Ela me conta dos rapazes que mudam de vida ao entrar para o movimento, deixando de brigar e roubar para empregar a força nas tarefas elementares do acampamento: erguer barracas, cavar fossas, puxar a luz e fazer a vigília.

Quando a companheira de Rosa diz que sonha em conhecer o sertão, Rosa não diz, mas a imagino dizer – como o Rosa do Grande Sertão: “o sertão é dentro da gente.”

Depois nos despedimos, Rosa vaidosa ao vento como uma flor, uma lua de colheita.

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