Coluna

O vermelho e o verde – por Bianca Zasso

bianca seis mulheresÉ bater o olho e descobrir quem está comandando o espetáculo. Com alguns cineastas a coisa acontece assim. Basta um segundo, um detalhe, um movimento de câmera e já sabemos quem assina a obra. Alfred Hitchcock, Pedro Almodóvar, Billy Wilder e François Truffaut são apenas quatro dos muitos exemplos de artistas com assinatura cinematográfica.

Porém, houve um italianinho que deixou sua marca em um dos mais encantadores momentos do cinema de horror. Os gialli (amarelo, em italiano, numa referência as capas de livros baratos com histórias de suspense vendidos em bancas nos anos 50 e 60), foram um momento único para Mario Bava, um cineasta inventivo e ousado que deixou sua marca em vários ciclos de cinema popular de sua terra natal, mas nenhum com a força dos gialli, gênero vindo da literatura, mais precisamente dos livros de capas amarelas vendidos em bancas de jornal nas décadas de 50 e 60. Um dos melhores títulos de sua carreira, Seis mulheres para o assassino, é a porta de entrada da coleção Giallo, lançada no ano passado pela distribuidora Versátil Home Vídeo.

O estilo baviano é sentido desde os primeiros segundos de filme. Seis mulheres para o assassino é um fiapo de roteiro, com a velha e boa questão do misterioso matador de mulheres, mas a apresentação estilizada do elenco já prova que estamos diante de um exemplar único. Quem espera uma trama repleta de reviravoltas e bem amarrada terá que dar um tempo e deixar-se levar pelo deslumbre visual. Bava gosta das cores, em especial o vermelho e o verde, que surgem na cena em meio a cenários no melhor estilo rococó. Seus personagens, não importa a classe social, sempre vivem em casas antigas e com cômodos sinistros.

Seu estilo é a farsa, sem preocupação com uma reprodução fiel do real. Suas mulheres, e nesse filme são muitas, estão sempre impecáveis. Seus cadáveres podem até estar ensopados de sangue, mas o olho delineado, típico da década, está lá, intacto. O que na mão de um diretor medíocre seria um filme barato, sob a batuta de Bava torna-se uma seleção de mortes extravagantes e muito belas. Como esquecer o sangue vermelho ao extremo se espalhando pela banheira em um dos últimos assassinatos da história? E as luzes que piscam sem parar durante as perseguições? Os primeiros passos, e as primeiras regras que regiam o giallo surgiam para o público.

bianca gialloSeis mulheres para o assassino nos convida a espiar. Bava sabe como nos colocar na posição de voyer e atrapalha as ideias até do mais bem resolvido dos espectadores. Estamos diante de mortes sem nem um pingo de piedade e mesmo assim nos vemos inebriados pela construção cênica destes momentos. Essa receita de repulsa e prazer visual é criação do chef Bava, que não vê problema nenhum em transformar torturas em cenas belas, inteligentes e bem conduzidas. Em tempos como os de hoje, onde a matança é elevada a última potência pelos novos realizadores do horror, caí como uma luva uma revisão de Seis mulheres para o assassino. Bava dá aula de como fazer um filme lindo e arrepiante. Se a liberdade é azul, o medo, pelas suas mãos, é verde e vermelho.

Seis mulheres para o assassino (Sei donne per l’assassino)

Ano: 1964

Direção: Mario Bava

Disponível em DVD no box Giallo

Distribuição: Versátil Home Video

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