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Início feliz – por Bianca Zasso

biancaA prioridade de algumas histórias é nos dar esperança. Há quem diga que isso é inocência demais perante o mundo no qual nos encontramos. Só que acreditar continua sendo um verbo importante para que sigamos em frente. Mesmo se nada der certo, lançado em 2014, tem esperança de sobra.

O diretor do filme, John Carney, se vale mais uma vez da música para imprimir a atmosfera de recomeço, assim como já havia feito no ótimo Apenas uma vez, seu trabalho de 2007. A diferença é que, ao invés da melancolia de um amor que poderia ter sido e não foi, Mesmo se nada der certo fala daquele tempo entre uma felicidade e outra.

De um lado, temos a jovem Gretta (Keira Knightley), que embarca para Nova York ao lado do namorado (Adam Levine) aspirante a astro da música. Ela também compõe e o amor é o combustível de suas letras, ainda mais agora, diante de uma nova cidade, uma nova casa, um novo mundo. Só que aí aparece o sucesso e o que era o cara perfeito, parceiro de vida e música, encontra outra pessoa.

Na mesma cidade que nunca dorme está Dan (Mark Ruffalo), um produtor musical que não vive seus melhores dias. A glória de descobrir artistas deu lugar a bebedeiras, um apartamento bagunçado e uma demissão. E também tem o bar, o cenário onde Gretta encontra Dan. Ela cantando suas tristezas e ele avistando em sua canção a chance de voltar aos bons tempos.

A fotografia de Mesmo se nada der certo torna Nova York uma cidade ainda mais cativante, brilhante e livre, mas nada disso ficaria evidente se o elenco fosse outro. Keira Knightley, além de cantar, constrói uma Gretta ainda machucada pelo fim do relacionamento, mas nada caricata. O fora ainda dói, mas a música está em primeiro lugar.

Mark Ruffalo esbanja charme e talento e consegue ofuscar aquele que poderia ser o galã da trama, Adam Levine, vocalista do Maroon 5, numa interpretação tão sem graça quanto os sucessos de sua banda na vida real (desculpem, fãs do rapaz).

Mesmo se nada der certo foi vendido em sua campanha de divulgação como um romance com música boa. E o filme oferece isso. Só que há mais por trás da aparente água com açúcar. John Carney, além de atuações sinceras, conseguiu mostrar o poder do intervalo entre uma fase e outra das nossas vidas. O velho conselho de que depois da tempestade vem a bonança dita o ritmo do roteiro.

Só que a tal tempestade é suave. Gretta e Dan encaram a aventura de gravar um disco pelas ruas, contando com músicos movidos pela paixão, como forma de terapia. Cada composição é um fantasma a menos em suas vidas. Funciona quase como aquele tempo em que se gravava fitas cassete: a gente pode cansar de uma faixa, rebobinar, apertar o rec e gravar outra coisa naquela parte.

Óbvio que é possível apertar o pause também, mas já que estamos aparentemente perdidos, por que não fazer desse labirinto uma estrada nova? Clarice Lispector, uma das nossas melhores autoras, em seu livro A cidade sitiada, diz que “perder-se também é caminho”. Assistir Mesmo se nada der certo torna essa frase ainda mais intensa, pois vamos nos perder com uma boa música em nossos fones de ouvido. Não conheço melhor jeito de se encontrar.

Mesmo se nada der certo (Begin Again)

Ano: 2014

Direção: John Carney

Disponível em DVD, Blu-ray e na plataforma Netflix

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