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Milian vem para atuar – por Bianca Zasso

bianca aUma linha tênue separa um filme inspirador de um filme medíocre. Nem todos os que ostentam o título de clássicos são grandes produções de sua época e a lista de películas que passaram em branco na época de seus lançamentos e ganharam notoriedade décadas depois, aumenta a cada ano, muito em função das novas (e nem tão novas) plataformas de acesso.

Na turma de injustiçados há mais de um filme italiano que integrou os chamados ciclos da década de 60, onde um tema arrasava quarteirões em Hollywood e era copiado em esquema industrial pelos estúdios da terra da pizza com um objetivo bem definido: lotar as salas e pagar os salários dos técnicos e do elenco. Dos peplum até releituras de melodramas, muitos filmes italianos feitos pensando no lucro, hoje integram a prateleira de preferidos de muita gente.

O diretor Giulio Questi foi um dos fiéis colaboradores dos ciclos e dirigiu um spaghetti western que tinha tudo para ser um clássico, mas caiu na armadilha da picaretagem comum nas estratégias de marketing (se é que se pode chamar assim) dos filmes B daquela época.

Django vem para Matar foi o título pelo qual ficou conhecido o filme de Questi no Brasil, originalmente batizado de Se sei vivo spara. Porém, o protagonista não se chama Django e não há nenhuma ligação com o personagem imortalizado por Franco Nero no filme de Sergio Corbucci. Aliás, você pode encontrar o filme de Questi por aí sob o título de O pistoleiro das balas de ouro ou ainda o “poético” Matar para viver e viver para matar. Explicação: com o sucesso do longa de Corbucci, se valer do nome Django era mais uma das técnicas das distribuidoras para chamar público para as sessões.

bianca bQuem gostou do Django original, vai gostar do genérico, pensavam eles. O resultado era um filme com Django no cartaz e nenhum Django na tela. Django vem para matar poderia ter tido um outro destino se tivesse abandonado o santo nome do herói do oeste. Isso porque é um grande filme que passa despercebido por muitos cinéfilos por puro preconceito.

Tomas Milian, estrela de vários spaghetti westerns geniais como Tepepa e Face a Face, protagoniza Se sei vivo spara longe da figura que o tornou imortal dentro do subgênero. Ao invés do bonachão em apuros com a lei, Milian interpreta um forasteiro calado, de pontaria certeira e olhar sedutor, mais próximo do Blondie que deu fama ao americano Clint Eastwood na Trilogia dos Dólares, de Sergio Leone.

Mesmo com muitos críticos ainda desprezando a atuação em filme B, não podemos deixar passar em branco Milian e sua verdade diante das câmeras. Sem maneirismos e mesmo com a questão da dublagem (algo comum em todo e qualquer spaghetti western), o ator cubano se destaca e planta a sementinha da curiosidade na cabeça da plateia.

Quem é, afinal, aquele homem que é abandonado em uma cova no meio do deserto, sobrevive com a ajuda de dois indígenas e segue o rastro de seus antigos parceiros para alcançar a vingança? Mistérios que não são revelados, tornando a dubiedade que Milian imprime no personagem ainda mais cativante.

Não bastasse o talento do ator principal, Django vem para matar ainda presenteia os adoradores do spaghetti western com sequências ótimas. A perseguição com ares fantasmagóricos de Milian ao homem que roubou seu ouro dentro de um armazém é a primeira delas. Depois ainda tem a série de mãos cavando (literalmente) o peito do vilão para retirar as balas de ouro maciço e o banho de ouro derretido no falso homem de bem do roteiro no final valem a sessão. Exageros visuais que só a liberdade italiana permitiria. Se bem que aquele ano de 1967 teve os seus arroubos americanos também.

Se o nome Django no título prejudicou a vida de Se sei vivo spara no país tropical naqueles fervilhantes anos 60, é chegada a hora da redenção. Esqueça Django, o nome e o mito, pelo menos por umas duas horas. Tomas Milian não tem nome e não tem lei :dispara seu talento para matar. Prepare-se. E não desvie.

Django vem para Matar (Se sei vivo spara)

Ano: 1987

Direção: Giulio Questi

Disponível em DVD

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