Coluna

Gata nas sombras – por Bianca Zasso

Produtores costumam dividir opiniões e entram para a história ou como grandes carrascos dilaceradores de filmes ou como visionários. O ucraniano Val Lewton se encaixava no segundo perfil. Entre 1942 e 1946, ele lançou nove longas-metragens que se tornaram icônicos para o cinema de horror daquela década, onde um público adulto buscava no escurinho do cinema um pouco de medo e diversão. Lewton os presenteou com um sofisticado conto fantástico: Sangue de Pantera, lançado no início deste ano em DVD no mercado brasileiro, pela Obras-Primas do Cinema.

Para conduzir a história, protagonizada pela bela Simone Simon, Lewton chamou o francês Jacques Tourneur, dono de uma mise-en-scène criativa e que fugia dos padrões da época, onde a Universal era quem dominava o cenário do horror com os seus famosos monstros com o que de mais moderno havia nos efeitos especiais. O roteiro, apesar de bem estruturado, é simples. A jovem Irena estuda desenho de moda e alimenta uma obsessão por felinos devido a lenda que assombra sua terra natal. Ela cresceu com a ideia de que, quando se apaixona, ela se transforma em pantera e acaba colocando em risco a vida do seu amado. Uma metáfora para falar sobre a dificuldade de lidar com a própria sexualidade, necessária naqueles tempos onde o cinema não era tão explícito em Hollywood.

Sangue de Pantera avança em sua função, tornando-se mais que um filme sobre uma maldição. Aliás, a maldição é uma desculpa para Simone Simon construir o melhor personagem de sua carreira, repleto de nuances que, a cada sessão, ficam mais evidentes aos nossos olhos. Sua inquietação ao ouvir o som das panteras do zoológico e as sombras misteriosas que a perseguem são próximas da realidade, o que faz com que a origem do medo torne-se mais perturbadora.

Ninguém encontra um Frankenstein na ida para o trabalho, mas animais selvagens já foram vistos perambulando por metrópoles. Por mais fantástica que seja a trama de Sangue de Pantera, ela é mais plausível que qualquer outra do seu tempo e utiliza a atmosfera do filme noir, cheia de luz e sombra, para construir um dos melhores exemplares do cinema americano.

Quarenta anos depois do lançamento do filme de Lewton e Tourneur, o roteirista Paul Schrader inspirou-se na história para criar um filme psicodélico e belo (já comentado por esta colunista aqui). Os anos 80 permitiam mais nudez e menos simbologias e o resultado merece ser conferido. Porém, com a possibilidade de desfrutar de Sangue de Pantera com qualidade de imagem e som, fica difícil resistir aos olhos felinos de Simone Simon. A pantera da década de 40 ainda possui garras afiadas.

Sangue de Pantera (Cat People)
Ano: 1942
Direção: Jacques Tourneur
Disponível em DVD pela Obras-Primas do Cinema

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