Coluna

A melancolia da Terceirona Gaúcha – por Maurício Brum

Sejamos honestos: não há qualquer razão para existir uma Terceirona Gaúcha (que, hoje, é nomeada eufemisticamente de “Segunda Divisão”, pois a Segundona virou “Divisão de Acesso” alguns anos atrás). Os clubes da Segundona já são pobres o bastante, rodeados de dificuldades suficientes, para se criar um nível ainda mais baixo do que aquilo.

O tamanho do torneio não é explicação: a Segundona deste ano teve míseros 16 clubes. Em meados dos anos 2000, eram quase trinta. Bastava fazer grupos um pouco maiores, e algumas chaves a mais, e todas as equipes profissionais afastadas da elite do Gauchão poderiam estar a apenas um degrau do sonho de participar da disputa maior do Rio Grande do Sul – e não dois, como ocorre hoje.

A Terceirona tinha uma fórmula desinteressante, com a repetição de jogos e uma primeira fase inútil, e era tão deficitária que um clube como o Riograndense de Santa Maria acreditou ser mais negócio abandonar o torneio do que continuar a disputa – isso após ter iniciado uma arrancada épica para buscar a vaga na etapa seguinte.

Mas, além de tudo, a Terceirona de 2017 foi um espetáculo de desequilíbrio. A participação de Inter e Grêmio, com suas equipes de transição, transformou a competição inteira em uma grande farsa, uma disputa de mentirinha, um campeonato em que o verdadeiro determinante não era a qualidade dos times, mas quem cruzava mais tardiamente com a dupla Gre-Nal. Grêmio e Inter eliminaram a todos os que cruzaram por seus caminhos, como verdadeiras patrolas, e só não fizeram a final porque duelaram entre si nas semis.

Os dois times que subiram, Bagé e Igrejinha, foram os que vieram das chaves que não precisava cruzar com os gigantes da capital. Talvez o Gaúcho de Passo Fundo ou o Rio Grande tivessem sortes distintas se fizessem mata-matas interioranos, mas nunca saberemos. Gre e Nal, que vêm com a desculpa pífia de que atraem público (e não o fazem: ver o reserva do reserva do time da capital em campo já não é chamariz para ninguém), mas na realidade aproveitam o torneio para dar ritmo de jogo aos atletas sem chances na equipe principal, ao mesmo tempo em que estabelecem um abismo técnico e arruínam a disputa interiorana.

O Inter, que tirou o Grêmio em dois jogos equilibrados, acabou campeão invicto: em trinta jogos, venceu 27, fez 90 gols e levou só treze. Na final, aplicou 4×0 e 5×1 sobre o Bagé. E ergueu uma taça que nenhum colorado do mundo festejou, que o clube não ostentará em seu cartel de títulos, uma nota de rodapé entre as notas de rodapé de um dos maiores clubes da América do Sul. Para os interioranos, dizer-se campeão estadual (mesmo que da terceira divisão), seria razão de orgulho, carreatas e festejos para lembrar por anos. Na Segundona, o São Luiz de Ijuí teve duas festas enormes este ano: pelo acesso, contra o Inter-SM, e pelo título, contra o Avenida. São coisas que importam muito para clubes onde pleitear qualquer coisa maior é uma quimera.

Colocar a dupla na Terceirona, mesmo com atletas bem distantes do time titular, seria como chamar o Real Madrid para disputar o Brasileirão. Se a FGF quer mesmo dar colher de chá para os grandes do estado movimentarem seus jovens e reservas, que implementem novas regras: a dupla Gre-Nal pode participar das fases de grupo (é onde está o grosso dos jogos, afinal), mas está banida dos mata-matas. Deixem a disputa definitiva para quem realmente se emociona com ela.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que você vê aqui é reprodução da internet.

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