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Criada em galpão – por Luciana Manica

Um promotor de justiça publicou no Jornal de Tenente Portela uma manifestação contra as músicas gaúchas com temas sobre cavalos que, no seu entender, poderiam transmitir às crianças a cultura da “valentia” do gaúcho “na forma de violência contra animais”, uma verdadeira “covardia”.

Se pararmos para pensar, temos outros estilos de música fazendo apologia a tantas coisas que nenhuma tradição explica! O fato é que não só as tradições gaúchas vêm sendo adaptadas conforme o desenvolvimento de técnicas menos invasivas, como também a própria medicina, ortodontia, etc.

Ok, não temos mais espaço para letras de música que exaltam o trato mais rude aplicado na doma tradicional, assim como não cabe mais tratar a mulher como redomão, “com maneador nas patas e pelego na cara”. Mas não podemos apagar essa cultura que vem continuamente evoluindo.

Não podemos pensar que o fato da vestimenta gaúcha, ao permitir o uso da faca, faz do portador de uma arma branca um ofensor em potencial. Não podemos pensar que a espora faz do gaúcho um açougueiro. Hoje em dia, são meros enfeites, fazem parte da indumentária gaúcha e não cortam uma folha!

Essa censura citada pelo promotor me faz lembrar a tão falada exposição “Queermuseu” no Santander Cultural de Porto Alegre. Será que a liberdade de expressão tão propagada em defesa da citada exposição seria também aplicada nas letras de música gaúcha impugnadas por este cidadão?

Na cultura gaúcha temos hoje a doma racional, regras de tiro de laço, como o laço certeiro, que faz valer a armada apenas com as aspas (sem as orelhas), regra essa de origem santa-mariense! Essa técnica reduz o número de voltas do gado na pista, preservando o animal, pois retira o laçador mais facilmente da prova.

Afora isso, já temos lei (Lei 10.519/2002) que prevê a promoção e fiscalização da defesa sanitária animal quando da realização de rodeio, entre outras providências.

Ainda, ouso dizer que para o verdadeiro gaúcho não precisaria de lei, tampouco fiscalização em prol dos animais. Para o gaúcho o cavalo além de amigo é instrumento de trabalho, e também sinônimo de beleza e força.

De resto, com a devida vênia, o aprendizado da cultura gaúcha é motivo de exemplo. Assim, prefiro ser guria criada em galpão, que um haragano (vadio) patrão de apartamento.

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