24 quadros por segundo – por Bianca Zasso
Quando pequena, meu pais gostavam de me levar a museus e minha diversão naquelas salas cheias de quadros era imaginar quem eram aqueles rostos e onde ficavam aquelas paisagens emolduradas. Anos mais tarde, quando eu já não era mais uma garotinha, ao assistir Sonhos, do cineasta japonês Akira Kurosawa, não contive a emoção ao ver a cena em que um dos personagens, literalmente, passeia dentro das telas de Van Gogh e onde o próprio é interpretado pelo diretor Martin Scorsese. Agora, em pleno 2018, às vésperas de completar 31 primaveras, esta que vos escreve tem mais um encontro com a arte na tela grande para dividir com seus leitores.
Com amor, Van Gogh concorreu ao Oscar de melhor animação este ano e chega agora ao mercado de DVD e plataformas streaming. Antes de qualquer coisa, procure a maior tela que estiver ao seu alcance para assisti-lo. Isto porque o filme dirigido pela dupla Dorota Kobiela e Hugh Welchman é, antes de uma biografia, uma experiência visual. A trama gira em torno do jovem Armand Roulin, vivido pelo talentoso Douglas Booth, cuja tarefa de entregar a última carta de Van Gogh endereçada a seu irmão Theo o faz embarcar na montagem de um quebra-cabeças sobre a morte do pintor.
É um roteiro simples, onde o espectador vai tendo acesso, por meio de flashbacks, às várias versões do fatídico dia do suicídio de Van Gogh. Estes vários olhares também lembram Kurosawa e seu Rashomon, que apresenta vários ângulos de um mesmo acontecimento. Mas não é a história contada o que mais importa em Com amor, Van Gogh. É a forma.
Pintada à mão por mais de 100 artistas, a produção foi um desafio num mundo ande a tecnologia parece imperar nos filmes de animação. Não desmerecendo produtoras como Pixar ou Blue Sky, do brasileiro Carlos Saldanha, mas dedicar-se a reproduzir o estilo de um dos maiores pintores da história quadro à quadro é mais que trabalhoso, é uma provocação.
Se nas paredes do museu as obras de Van Gogh já nos faziam voar longe, vê-las em movimento é emocionante. Se as crianças brincam de dar vida à seus brinquedos, nós adultos vemos a arte que nos toca quando está imóvel ganhar um ritmo, um trejeito que só existia em nossa imaginação. E ainda é possível bancar o detetive junto com Roulin e as muitas versões da morte do artista. Uma hora e meia de deslumbramento e diversão.
Aos que ainda insistem na ideia que museus são lugares chatos, fica o convite para assistir Com amor, Van Gogh como se fosse uma espécie de convite. Na próxima vez que estiver diante de um quadro, seja do holandês que só começou a pintar com 28 anos ou de um artista novato, brinque de colocar os traços que estão diante dos seus olhos para dançar. Você nunca mais irá se chatear. Caso esta minha previsão não se concretize, procure um médico: sua sensibilidade pode estar adormecida. E, em tempos como os que vivemos, isso é uma doença grave.
Com amor, Van Gogh (Loving Vincent)
Ano: 2017
Direção: Dorota Kobiela e Hugh Welchman
Disponível em DVD pela Focus Filmes e na plataforma Netflix
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