Coluna

Madrugada Rara – por Bianca Zasso

Já aprontei muita coisa em nome da cinefilia. Gastei mesadas inteiras na única locadora da cidade (coisas que só Faxinal do Soturno proporciona!), quase repeti de ano por trocar a fórmula de Bhaskara pelos filmes de terror, comprei briga com meio mundo por causa de filmes baratos feitos em Hong Kong, encarei horas de estrada para assistir uma estreia ou uma sessão especial.

Mas nunca, nestes meus 31 anos neste planeta, havia deixado uma sala de cinema às seis e meia da manhã. Ver o sol nascer depois de uma noite inteira diante de uma tela gigante. Pois na última sexta-feira, dia 23 de março, organizei a minha vida para participar da edição de número 200 do Projeto Raros, que aconteceu na Cinemateca Capitólio, um dos lugares mais bonitos de Porto Alegre.

Criado em 2003 pelos críticos de cinema e cinéfilos Marcus Mello, Carlos Thomaz Albornoz e Cristian Verardi, o Raros teve inspiração nas sessões da meia-noite que movimentava Nova York no final da década de 60. A programação privilegiava filmes que nunca haviam sido exibidos nos circuitos comerciais brasileiros ou que passaram despercebidos pelos olhares em seus períodos de lançamento.

As primeira sessões aconteciam na Sala P.F. Gastal, na Usina do Gasômetro, um lugar com o aconchego necessário para sessões de cinema que não envolvem nem pipoca ou astros nos cartazes de divulgação. O cinema está acima de tudo no Raros. Se houve uma coisa que eu aprendi nesta sessões é que não se pode ter medo do desconhecido porque o mínimo que pode acontecer é você descobrir um filme bizarro para poder comentar na mesa do bar com os amigos. Cinema aproxima, antes de qualquer coisa.

Na sessão Raros 200, foram exibidos cinco filmes, a partir das 20 horas: Noite do Terror, de Curtis Harrington, Uma Mulher Chamada Sada Abe, de Noboru Tanaka, Mystics in Bali, de H. Tjut Djalil, Intruder, de Scott Spielgel e Purana Mandir, dos irmãos Shyam e Tulsi Ramsay.

É provável que poucos leitores desta coluna tenham assistido algumas destas pérolas e isso é compreensível. Ela são complicadas de encontrar e possuem tramas, fotografias, ritmo e efeitos especiais que não são para iniciantes no cinema obscuro. O Raros exige uma entrega que não permite o simples “gostei, não gostei” ou uma abordagem comum dos defeitos das produções. Não há lugar para adjetivos pouco usuais ou “exigências rebuscadas” no Raros. Não devia haver em nenhum outro lugar onde se vê e discute cinema, aliás.

Escrevi todas estas mal traçadas linhas para dizer que tive uma experiência no Raros 200 que desejaria a todos, inclusive aos que não são grandes amantes da Sétima Arte. Esquecer os compromissos por algumas horas e se deixar levar por linguagens e histórias que você não verá todos os dias.

Não posso dizer que durante as horas em que fiquei dentro da Cinemateca Capitólio esqueci o mundo lá fora. Ao contrário: ele estava vívido diante dos meus olhos, com todas as loucuras que a imaginação e a falta de grana são capazes de criar. Cinema é para repensar o mundo e a gente mesmo. O Raros é para repensar a chatice do mundo e da gente.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta nota é uma montagem sobre cartazes dos cinco filmes assistidos pela cronista.

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Um Comentário

  1. “Purana Mandir” foi um filme de pura iluminação cinéfila! Isso às 4h da madrugada, rs. Obrigado pelas palavras Bia.

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