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EDUCAÇÃO. Professora Dulce Rosa Cardoso Kirchhof completa 100 anos de idade nesta quarta-feira (2)

Em junho do ano passado, Dona Dulce participou da eleição que escolheu a nova direção do CPERS/Sindicato. Foto Maiquel Rosauro

Por Maiquel Rosauro

“A primeira vez que li um diário do meu pai cheguei a chorar, pois quando ele chegou a São Pedro do Sul não tinha nada, dormia em cima de umas caixas na própria escola no qual acabara de abrir. Era uma casa comum, mas ele recebia os alunos na sala da frente. Por coincidência, me emociono ao lembrar que, em 1937, lecionei no mesmo local”.

O relato é da professora Dulce Rosa Cardoso Kirchhof, que nesta quarta-feira (2) comemora 100 anos de idade. Natural de São Pedro do Sul, ela fixou residência em Santa Maria em 1958.

Dona Dulce foi destaque na imprensa em junho do ano passado, quando aos 99 anos exerceu seu direito voto na eleição do CPERS/Sindicato. O então Centro dos Professores Primários Estaduais foi fundado em 21 de abril de 1945. Naquele mesmo ano, em 4 de novembro, Dulce se sindicalizou sob a matrícula de número 286. Hoje, a entidade possui mais de 80 mil sócios.

O grande incentivador para ela se tornar professora foi seu pai, Firmino Cardoso, que deixou Montenegro para abrir uma escola em São Pedro do Sul. Foi na cidade que ele conheceu Francisca, sua esposa com quem teve quatro filhos, sendo três meninas e um rapaz.

“Meu pai sempre deu muito valor à educação. Sempre prestigiando e falando da necessidade da educação. Ele fez curso em Montenegro, onde havia uma Escola Complementar muito boa. No fim do curso, ele ganhou um prêmio do diretor da instituição. Era um livro: Os Sertões, de Euclides da Cunha”, relata Dulce.

O amor pelos estudos fez com que a jovem viesse estudar em Santa Maria em 1934, após concluir o Ensino Primário em São Pedro do Sul. Ela ficou interna no Colégio Franciscano Sant’Anna para realizar o Curso Complementar junto ao Ginásio. Porém, o curso foi extinto no fim daquele ano. Por consequência, nos dois anos seguintes, ela seguia morando no Sant’Anna, mas estudava no Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac.

“Me formei em 1936. Faz tempo, né?”, questiona com um sorriso no rosto.

No ano seguinte, ela voltava para São Pedro do Sul onde lecionou em um colégio de irmãs católicas. Em 1938, passou a trabalhar em uma escola estadual localizada na comunidade de Passo do Leonel, próximo ao Rio Toropi, no interior de São Pedro do Sul.

“Meu pai conseguiu uma escola estadual bem perto da minha casa, no interior, acho que com a ajuda do Cylon Rosa (Pompílio Cylon Fernandes Rosa, natural de Montenegro e, à época, diretor da Caixa Econômica Federal do Rio Grande do Sul. Em 1946, assumiria o Governo do Estado), pois eram meio parentes. Era um barracão, uma escola de madeira bem tosca no qual possuía só um salão”, relembra.

Apesar de pequena, a escola possuía 60 alunos do Curso Primário, que era composto pelos primeiros cinco anos de alfabetização.

Em 1944, Dulce se casou com Frederico Guilherme Kirchhof, um agricultor descendente de alemães, e mudou-se para Dilermando de Aguiar. Daquela época, ela tem diversas lembranças da 2º Guerra Mundial (1939-1945).

“Lembro que, em 1940, a Guerra era muito forte e havia muita rivalidade com os alemães. Uma pena que a gente não fala mais sobre esse assunto e depois vai esquecendo. Não tem mais ninguém daquela época para trocarmos uma ideia”, conforma-se.

Em 1958, o casal mudou-se para Santa Maria em uma cansativa viagem de trem. Ela imediatamente começou a trabalhar na Escola Estadual Cícero Barreto.

Na cidade, Dulce e Frederico sempre moraram na mesma residência, localizada na Rua Conde de Porto Alegre, pertinho da Rua dos Andradas. Os primeiros meses foram difíceis, já que, devido à distância da lavoura, Frederico deixou de trabalhar na agricultura. De início, o casal pagava aluguel, mas logo se desdobraram para comprar a casa.

“Vim trabalhar no Cícero Barreto e uma professora foi para Dilermando, para morar na casa que tínhamos lá. Era uma casa simples, mas bem feitinha. Aqui era horrível, tinham galinhas. O assoalho era alto do chão e as galinhas viviam embaixo da casa. A primeira coisa que fizemos foi tirar os bichos, imagina… só dando risada mesmo. Vizinhos das galinhas…”.

Resolvida a questão da casa, não demorou para Frederico encontrar uma nova profissão. Ele começou a trabalhar com tratamento hidroterápico, o qual aprendeu em livros trazidos da Alemanha pelos seus pais.

“Naquela época não havia médico e faziam tratamento com banhos frios e quentes. É um tratamento muito bom, mas é preciso saber fazer. Até hoje ainda batem na porta e perguntam se ainda trabalhamos com os banhos”.

O casal teve sete filhos: Luiz, Ana Maria, Gilberto, Julio, João Alberto, Vera e Ana Lúcia. São mais de 20 netos e outras duas dezenas de bisnetos.

Destaque para Julio, que entre 2008 e 2009 atuou como presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism).

“As pessoas muitas vezes pegam um cargo e acham muito bom ficar paradinho sentado, mas o Julio não é assim. Ele é muito empreendedor. Isso é algo que falta em Santa Maria, principalmente, no prefeito. Santa Maria é muito parada e, ultimamente, acho que está pior”, comenta.

Dona Dulce atuou no Cícero Barreto até 1969, ano em que se aposentou. Seu Frederico faleceu em 2010, aos 87 anos, mas segue vivo nas lembranças da centenária professora.

Família de educadores

Dona Dulce e seu filho mais velho, Luiz Kirchhof, 73 anos. Ele seguiu os passos da mãe e foi professor na UFSM. Foto Maiquel Rosauro

O mesmo senso crítico, bom humor e paixão pela educação que herdou do pai, dona Dulce transferiu, principalmente, para o filho mais velho, Luiz, 73 anos, engenheiro de formação e que durante 30 anos lecionou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

“Antigamente o professor era bem valorizado. Todos os países que valorizam seus professores estão bem, e não é apenas na questão salarial”, comenta Luiz.

Uma prova da importância do professor para uma comunidade está no legado deixado pelo pai de dona Dulce. A escola criada por ele, hoje, pertence ao Estado e leva o seu nome: Escola Estadual de Ensino Fundamental Firmino Cardoso Jr, localizada na Rua Prefeito Werner Doeller, 1540, em São Pedro do Sul.

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Um Comentário

  1. Parabéns Dona Dulce pelo aniversário, felicidades sempre pra Senhora. Eu tive o privilégio de conhecê-la, um beijo e um abraço forte!!!
    Parabéns Claudemir pela reportagem!

    NOTA DO SITE: o editor agradece o elogio (esse tipo de nota sempre é bem vindo nesse espaço), mas esclarece que o autor da reportagem é o colega Maiquel Rosauro.

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