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Diverticulites – por Orlando Fonseca

A literatura historiográfica e o jornalismo gostam de usar o termo “lutas intestinas” para figurar as tratativas subterrâneas do poder. Por se tratar – também metaforicamente – a sociedade como um corpo social, não é de se admirar que o tal trânsito por estes canais obscuros seja capaz não só de produzir gases e bolo fecal, mas também enfermidades.

Há 33 anos, o Brasil inteiro descobria que tem diverticulite, que sempre teve, e que ela veio para ficar. Se este apêndice patológico não dói nos intestinos do povo, e parece não feder nem cheirar, quando dá as caras na política é um rebuliço danado, pois se pensa que é uma coisa e é outra, e quando se acredita que se sabia tudo, ressurge com outro caráter.

Inflamação múltipla e mutante, porque tem parentesco com “diverso” (mas não com divertido), ou com “diversionismo”, especialmente quando se fala em informação, em manobra política. Agora, 2018, em plena campanha eleitoral, para confirmar que tem relação com as questões intestinas do poder central, manifesta-se em uma facada, e pode dar o que feder, falar e calar.

Neste “parece mas não é”, a diverticulite calou as ruas em 1985: a inflamação popular pelas Diretas foi interrompida por uma terapia de emergência do Colégio eleitoral. Febre e náusea, sintomas de um golpe já apareciam no prontuário do paciente povo brasileiro. Quando se falava em intervenção, não era nada cirúrgica, e o bloco já se preparava para uma “operação militar”.

A diverticulite já se espalhara pelo corpo, e a morte do eleito seria a desculpa para a defesa de um tratamento de choque. Pela televisão, a nação inteira foi vítima da diverticulite dos boletins médicos do Hospital de Base, em Brasília. Quando todo mundo achava que teríamos Tancredo para uma longa convalescença democrática, eis que assume Sarney, para uma prolongada recaída da diverticulite nacional.

Em vista da epidemia ter seus efeitos colaterais, a doença volta a se manifestar mais uma vez na desconjuntura nacional. É o caso das bacterianas fake news, para as quais não há antibióticos eficientes nem no STF – que prometeu uma terapia infalível, mas os testes deram em nada, e o que se vê é um placebo que só funciona em mentes fracas. Enquanto isso, acelera-se uma hidrofobia entre eleitores afetados com febre alta e delírios.

Como se sabe, a raiva é transmitida pela saliva, mesmo quando, na falta de argumentos, hás os que pretendem afirmar suas preferências no berro. E saem pelas ruas a contaminar o que podem, quando não atacar quem não tem como disparar. É um efeito danoso da diverticulite, ou seja, um diversionismo no modo de fazer política, de tentar conquistar votos ou virá-los, no caso, com o vírus da soberba ignorância.

Diverticulite – versão brasileira, informação diversa, doença que acomete a democracia, e só se apanha o seu sintoma, nunca se chega a suas causas e está difícil de criar uma vacina. Desde que o Vampirão assumiu o poder, infestando não só o Palácio da Alvorada, mas a alvorada inteira, o planalto e a planície, imaginava-se que o voto seria a solução definitiva, mas a diverticulite já é uma moléstia com o STF e com tudo.

Tem diverticulite na Previdência, no Judiciário, na PF, na Casa Civil, no Congresso, e enfim, na Casa da Mãe Joana, onde moram todos os que sofrem deste mal. Tanto os que têm o vírus quanto nós, que só sentimos a dor. E ainda vêm os médicos daquela equipe de 85 confirmar que tudo a respeito da diverticulite que levou o Tancredo a óbito não era nada daquilo, e nem diverticulite era.

Mas agora não adianta, porque a doença já pegou no país. Nem eles se deram conta de que, voltar atrás do que haviam afirmado, oficialmente, é sintoma de que, se não havia, hoje com certeza já é epidemia, nesta democracia que se pretende afirmar na ponta da faca.

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