Coluna

É ESPORTE. Riograndense terá que refazer o caminho de volta, 12 anos após. E o Inter, o Leicester e Lisete

Por RAMIRO GUIMARÃES

De volta a 2003

Treze anos. Esse é o tamanho do retrocesso do Riograndense Futebol Clube com o rebaixamento para a Terceirona, a última divisão do futebol gaúcho, sacramentado com a derrota por 3 a 0 para o Pelotas. O Periquito está de volta ao lugar de onde saiu em 2003. Com muito esforço e pela porta frente, já que a competição seria extinta já no ano seguinte para retornar apenas em 2012.

Hoje, analisando à distância, pode não parecer grande coisa um vice-campeonato da Série C, mas essa conquista representou um marco na história de 103 anos do clube de Santa Maria (que, aliás, “comemora” mais um aniversário no próximo sábado, dia 7 de maio). Sair da Terceirona significou tanto, pois, a partir dali, a agremiação começou a caminhar do amadorismo completo, estágio em que o Riograndense se encontrava logo após reabrir o departamento de futebol, para alguns lampejos de profissionalismo.

Há treze anos, José Soldati conduzia o Riograndense à segunda divisão. Um caminho que agora precisará ser refeit, depois da queda à Terceirona
Há treze anos, José Soldati conduzia o Riograndense à segunda divisão. Um caminho que agora precisará ser refeit, depois da queda à Terceirona

Sob o comando do saudoso José Soldati, o Periquito começou a atentar para aspectos importantes na preparação de uma equipe. Investimentos em preparação física, alimentação, transporte e acomodação de atletas deixaram de ser vistos como “luxo” e passaram a ser encarados como “necessidade”. Assim, o Riograndense subiu de divisão, cresceu, melhorou a estrutura do Estádio dos Eucaliptos (tanto quanto foi possível) e, não por acaso, montou times competitivos. Bateu na trave em 2009 e 2013. Quase subiu. E, agora, caiu. E o mais importante neste momento tão doloroso para a torcida esmeraldina é entender o porquê.

Ainda que alguns dirigentes prefiram vociferar contra a Justiça, o Ministério Público, e colocar a culpa da queda nas dificuldades enfrentadas para liberar o Estádio dos Eucaliptos, o fato é que a crise do Riograndense começou bem antes da Divisão de Acesso. Foram quatro mandatários em seis meses: Lisete Frohlich, Carlos Santana, José Luiz Coden e Dilson Siqueira.

Isso, além de não ser normal, prova como o clube se desestruturou nos últimos tempos. Contraiu dívidas, acumulou ações trabalhistas. Saiu dos trilhos, com o perdão do trocadilho ferroviário. O dano já está causado, mas o mais importante é que ninguém se engane: foi a crise administrativa que causou o rebaixamento. E essa não se esgota com o final do campeonato deste ano, assim, em um passe de mágica. Em 2003, o Riograndense descobriu o que precisava fazer para subir. Descobrirá agora?

Risco assumido

O Inter-SM deu um baita susto na sua torcida, escapou da Terceirona e garantiu permanência na Divisão de Acesso do ano que vem só na última rodada, domingo, com a vitória por 1 a 0, em casa, sobre o Santa Cruz. Foi bem sofrido, mas não foi inesperado. A diretoria alvirrubra já havia avisado, com bastante antecedência, que a temporada 2016 seria de cinto apertado na Baixada.

Marquetto priorizou pagar as contas em vez de investir no futebol. E deu certo
Marquetto priorizou pagar as contas em vez de investir no futebol. E deu certo

A prioridade absoluta do presidente Heriberto Marquetto e do vice João Carlos Côvolo sempre foi aproveitar o ano para tentar quitar todas as pendências judiciais, para as quais foram destinados R$ 35 mil mensais. A folha de pagamento do futebol, em compensação, ficou na casa dos R$ 25 mil por mês. E o presidente do Inter-SM não arredou o pé do seu plano, mesmo tendo perdido o técnico Paulo Henrique Marques para o Tupi, de Crissiumal, e afugentado alguns colaboradores do departamento de futebol. E, investindo menos, era de se imaginar que a equipe passaria trabalho na competição. O que, de fato, acabou ocorrendo.

Para não dizer que o Inter-SM acertou em cheio no seu plano de austeridade financeira, é preciso sublinhar que houve algumas mancadas também. A escolha do desconhecido técnico Neneca foi uma delas. Talvez a mais grave. E o que dizer da caravana de jogadores que passou pelo Estádio Presidente Vargas ao longo de dois meses? Alguém, por um acaso, sabe que fim levou o atacante César Júnior, o famoso irmão do deputado estadual Jardel, que chegou ao Inter-SM com status de grande contratação? Lições que ficam, e que não tiram o mérito do que foi feito por Marquetto e sua diretoria. Para tornar o clube viável outra vez e começar 2017 mais forte, o Inter-SM assumiu alguns riscos. E deu certo. Isso é o que importa, afinal.

Do clube para a feira

Lisete Frohlich teve uma passagem curta (não chegou a concluir o seu mandato de dois anos como presidente eleita…) e intensa pelo Estádio dos Eucaliptos. Ainda hoje ela divide opiniões entre os dirigentes esmeraldinos, mas não há como negar que a gestora agitou o clube com os seus projetos e o colocou em evidência no noticiário estadual e até nacional.

Pois essa experiência está contada no livro @PRASERFELIZ, que será lançado na próxima sexta-feira, dia 6 de maio, na Feira do Livro de Santa Maria. A sessão de autógrafos está marcada para as 17h. Para quem não conhece Lisete Frohlich ou não acompanhou de perto o seu trabalho no Riograndense, a chamada na capa já dá o tom do que poderá ser encontrado nas páginas da publicação: sob o domínio da felicidade, a história da mulher quer presidiu um clube de futebol e mostrou ao Brasil o que é gestão feminina de verdade. Grandioso demais? Pode ser, mas vale a pena conferir.

Prazer, Leicester

Leicester City Football Club. O clube que ficou conhecido aqui, no Rio Grande do Sul, por ter tentado contratar o ex-colorado Aránguiz (que preferiu ir jogar no Bayer Leverkusen-ALE) é a nova sensação do futebol mundial. E com justiça, diga-se de passagem. O time azul faturou, de forma inédita, o título da Premier League (que nada mais é do que o Campeonato Inglês) na tarde de segunda-feira, com duas rodadas de antecedência. Detalhe: sem entrar em campo, graças ao empate em 2 a 2 entre Chelsea e Tottenham, o segundo colocado.

Vardy, uma das estrelas de um time formado por (até então) ilustres desconhecidos
Vardy, uma das estrelas de um time formado por (até então) ilustres desconhecidos

O fato de o Leicester ter levantado a taça sentado “no sofá”, um dia depois de empatar em 1 a 1 com o Manchester United, gerou algumas críticas sobre a fórmula do campeonato. Mas o principal mérito da conquista é justamente este: o campeão venceu em uma disputa de pontos corridos. Ou seja, foi o mais regular. Geralmente, esse tipo de zebra aparece em um mata-mata, como a nossa Copa do Brasil aqui.

O Leicester, que entrou na Premier League com uma das menores folhas de pagamento e com o único objetivo de são ser rebaixado, reúne um bocado de personagens interessantíssimos, como o técnico italiano Claudio Ranieri e os craques do time, os atacantes Riyad Mahrez (argelino) e Jamie Vardy (inglês). Mas o mais legal neste conto de fadas da bola é que as raposas (mascote do clube) não jogam bonito.

Em tempos de valorização da posse de bola e de devoção ao Barcelona e aos ideais táticos de Pep Gaurdiola, o Leicester joga “feio”. Defende-se com toda a sua energia e ganha (quase sempre) em um único e letal contra-ataque. Uma eficiência que obrigou os cronistas esportivos a reverem os seus conceitos de futebol  moderno. O novo campeão na Terra da Rainha honra as tradições do velho esporte bretão, antes de ele ser “corrompido” pela ginga latina. Nunca tinha ouvido falar do Leicester? Pois é… Muito prazer, então.

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