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ARTIGO. Débora Dias e os dois golpes que crescem nesses tempos de pandemia: o ‘soldado’ e os ‘nudes’

Do soldado americano a nudes de menores de idade

Por DÉBORA DIAS (*)

Os crimes contra o patrimônio estão em “alta”, especialmente o estelionato. Todos estão sujeitos a serem vítimas de diversos golpes de criminosos que vêm se aperfeiçoando e usando a tecnologia para captar suas vítimas. Mas dentro do universo de vítimas possíveis, o idoso é o alvo com maior vulnerabilidade.

Hoje percebemos uma proliferação maléfica de estelionatários, e nós, como polícia judiciária, estamos atentos e sempre correndo atrás, investigando, tentando amenizar as consequências sofridas pelas vítimas, principalmente com a punição do estelionatário.

O estelionato é um crime de difícil elucidação em grande parte dos casos, isso porque, em regra, envolve mais de uma pessoa. Hoje, as modalidades de estelionatos são no mínimo associações criminosas ou até mesmo uma organização criminosa.

Os criminosos definem muito bem suas tarefas, agem em conjunto, tudo em prol de enganar a vítima. Referido crime está previsto no artigo 171 do Código Penal, o famoso 171, que dispõe: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos e multa.” Dessa forma, o estelionatário sempre vai ter uma boa conversa, ele vai usar de ardil, engodo, artifício, astúcia, para atrair e enganar a vítima.

Tudo isso é usado de forma muito sutil, ele vai tentar uma, duas, três, dez vezes, até conseguir sua vítima. Afinal, ele tem todo tempo, esse é o “trabalho dele”. Ele tem que enredar a vítima porque tem que contar com a participação dela para obtenção do lucro criminoso. Sem a participação/colaboração da vítima ele está fadado ao insucesso, por isso a paciência e a maneira ardilosa de agir.
Hoje constatamos inúmeros golpes: golpe do cartão “clonado”, do WhatsApp clonado, de compras em sites de vendas que nunca vão chegar, entre tantos outros. Nesse cenário, os idosos são grupo de pessoas mais vulneráveis, como já havia falado em outra oportunidade. Por estarem, na maioria das vezes, mais sozinhos, com mais tempo ocioso, por isso também com mais tempo para ouvir, escutar e aí reside o perigo.
Os dois golpes que estão crescendo são do “militar ou soldado americano” e dos supostos “nudes de menor de idade”, os quais têm destinatários certos. O primeiro, mulheres, e o segundo, homens, não necessariamente idosos, mas com mais de 40 anos. O do soldado americano: uma pessoa entra em contato com uma mulher, através de redes sociais, supostamente um soldado americano, que, em longas conversas, solicita dinheiro para enviar um pacote e por aí vai, faz declarações de amor para ela, promete que vai casar, etc. E, assim, há um lapso temporal bem grande até a mulher perceber o golpe e ver que já perdeu muito dinheiro. Algumas se dão por conta do golpe, mas não todas.

O golpe com destinatário homens, esse sim, quase cem por cento idosos, é realizado também através de redes sociais, em que uma jovem entra em contato com o homem, passa a conversar e mandar os famosos “nudes” e solicita que ele também envie, o que ele faz. Passado um tempo, supostamente entra em contato com a vítima a mãe ou o pai da jovem, diz que ela é menor e que vai registrar ocorrência na polícia. Ato contínuo, passa para extorsão, exige dinheiro para não realizar a denúncia na polícia.

Assim, olhos bem abertos, atenção redobrada. Não esquecer jamais que do outro lado da tela de um computador, em conversas em redes sociais, jamais se terá certeza com quem se está falando. Nada melhor que ligar para amigos e colocar a conversa em dia, em época de pandemia, de distanciamento social, não podemos fazer a roda de chimarrão ou tomar um drink e dar boas risadas, mas o telefone já pode ajudar. O cuidado com nós mesmos é nosso melhor carinho.

(*) Débora Dias é a Delegada da Delegacia de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância (DPICoi), após ter ocupado a Diretoria de Relações Institucionais, junto à Chefia de Polícia do RS. Antes, durante 18 anos, foi titular da DP da Mulher em Santa Maria. É formada em Direito pela Universidade de Passo Fundo, especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Ciências Criminais e Segurança Pública e Direitos Humanos e mestranda e doutoranda pela Antônoma de Lisboa (UAL), em Portugal.

Observação do editor: A foto (Reprodução do Facebook) que ilustra este artigo, é uma entre muitas enviadas a potenciais vítimas do golpe “do soldado americano”

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