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Uma reflexão após o desastre contra a Holanda – por Bruno Lima Rocha

02 de julho de 2010, menos de uma hora após a derrota dentro de campo, por Bruno Lima Rocha ([email protected]), cientista político

Esta página não se dedica a futebol embora exerça a análise sobre a economia política do esporte e os subterrâneos das estruturas políticas do jogo outrora bretão que é síntese da brasilidade, ou algo que o valha. Acaba de terminar a partida entre Brasil X Holanda (2 a 1 para eles), onde o time da Casa de Orange, família real do país que inventara o sistema hipotecário, venceu a seleção de Ricardo Teixeira, Nike, AmBev e Cia. O rigor desse texto, não é operar como um abutre em busca de cadáveres simbólicos ou tragédias futebolísticas. A intenção do artigo escrito às pressas logo após o desastre sul-africano é defender o rigor da crítica.

Dunga e Jorginho podem e devem ser criticados por suas escolhas e seus critérios de lealdade para além das quatro linhas. A espera deste que escreve é que não recaia sobre o gaúcho e o carioca respectivamente, a ira da Rede Globo em particular e das emissoras da mídia oligopolista em geral. Nunca nutri simpatia alguma pelo atual treinador da seleção brasileira e como a maioria dos rio-grandenses (nativos ou por adoção, como é o meu caso), eu divido as minhas emoções com os demais times e seleções latino-americanas em geral, com maior atenção para los vecinos do Rio da Prata em particular. Espero com toda sinceridade que los hermanos uruguayos ou argentinos ganhem esse torneio. Como este artigo é datado, com menos de 24 horas antes das duas partidas, não arrisco nenhuma futurologia de araque. É opinião de torcedor, nada mais.

Infelizmente o roteiro é previsível. Entendo que agora a fatura será cobrada em cima da carcaça do treinador inventado pelo operador da Bolsa de Valores e ex-genro do todo poderoso homem de confiança do general Médici, João Havelange. Em 1990, Sebastião Lazaroni “foi para a banha” como dizem ao sul do país. Carlos Alberto Parreira ganhou de forma européia, com retranca e murrinha nos EUA. Deu certo em 1994, mas a balbúrdia venceu qualquer esquema tático em 2006. Na Alemanha ocorrera o mesmo mercado persa da Itália, e era semelhante da crise do técnico Leão no ano anterior da Copa da Coréia e do Japão. A moral conservadora foi chamada para consertar a bagunça na virada de 2001 para 2002, e Luiz Felipe Scolari voltou com a taça e o penta campeonato do extremo oriente. O naufrágio tem seu ritual. A mídia corporativa queima o nome de treinadores medíocres (salvo raras exceções, como Scolari e Zagalo, que embora retranqueiro e chapa-branca é muito bom em seu ofício), a estrutura de poder se mantém, mesmo com o lenga-lenga empresarial como discurso de legitimação. O resultado da entidade mor do futebol brasileiro não é dentro de campo. Nos enganam a todo o tempo meus amigos.

A CBF como empresa dá lucro, e muito: oferecendo o retorno esperado na bebeiragem de cerveja; na venda de material esportivo produzido com mão de obra semi-escrava; transnacionalizando o patrimônio simbólico do “escrete canarinho” e negociando um calendário de amistosos realizados para aumentar a venda de camisas e chuteiras. Se fôssemos exigir a lenga-lenga de resultados empresariais como parâmetro do controle da Confederação Brasileira de Futebol, toda a sua diretoria dinástica deveria ser enxotada porta afora, solta na Rua da Alfândega no Centro do Rio, insuflada a massa de transeuntes e camelôs por algum ativista de direitos da cidadania aos gritos de: “Pega, Pega!”; “É esse! É esse!” (obs: não completo a frase para evitar processos judiciais).

Para não pipocar na crítica. Considero a escalação e o esquema de jogo de Dunga e Jorginho como o auge da mediocridade, o reinado dos carregadores de piano. Mas, são escolhas dos treinadores, sem segundas intenções e suspeitas mil, como na Era do genial Vanderlei Luxemburgo (lembremos sempre do “Te cuida Madureira!”). Dunga é responsável pelo desastre dentro de campo, mas não fora, e em especial não com a relação promíscua com as empresas de mídia. Nessa batalha, Carlos Caetano Bledorn Verri tem razão, e olha que o “gringo de Ijuí” é de direita, aliado das hostes de Perondis e Novelettos. Milhões de brasileiros se alinharam com o ex-volante tetracampeão (baita meio de campo, sejamos justos uma vez na vida) diante da peleia simbólica com os emissários da rede líder. Tomara que a torcida mantenha a postura, criticando a Dunga e Jorginho dentro do campo e se aliando contra a chantagem midiática fora dele.

Que venha a Copa do Brasil e olho vivo no superfaturamento de obras e cumprimento dos cadernos de encargo da FIFA. Até 2014, toda a vigilância sobre essa laia que comanda a maior paixão nacional será pouca!

Quem escreve: Bruno Lima Rocha ([email protected]) é doutor e mestre em ciência política pela UFRGS e jornalista graduado na UFRJ; é docente de comunicação social e pesquisador 1 da Unisinos, vinculado ao Grupo Cepos/PPG Com (www.grupocepos.net); concentra seus trabalhos analíticos no portal Estratégia & Análise (www.estrategiaeanalise.com.br) o qual é o editor.

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