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Duas moças criativas – Por Bianca Zasso

Num ‘Oscar’ de chatices, “a criatividade, definitivamente, tem rosto de mulher”

Não mais aquela madrugada quente de verão, mas uma noite amena do início do nosso outono. Não é apenas o clima que será diferente, mas toda a produção, cobertura e (oremos à Deusa!) as premiações. A entrega do prêmio mais comentado do mundo do cinema, o Oscar, está marcada para 25 de abril.

Quem acompanha a noite de gala de Hollywood sabe que é uma data tardia e compreensível em tempos pandêmicos. Além da grande maioria dos indicados não ter dado as caras nas tradicionais salas de cinema (apesar de alguns terem tido uma vida na temporada de grandes festivais como Cannes e Sundance), teremos uma cerimônia que deve levar em conta os protocolos sanitários.

Não nos livraremos das piadas nem sempre bem resolvidas, mas com certeza será uma apresentação mais enxuta e direta. Entre as muitas surpresas, a que mais parece que irá render pautas é o ineditismo da presença de duas mulheres concorrentes na categoria Melhor Direção.

Por mais que a esperança tenha que estar presente nos nossos dias, não podemos ser inocentes ao ponto de acreditar que o conservador Oscar enfim está entendendo a importância de olhar para mulheres atrás das câmeras como profissionais competentes e talentosas e não como algo “insólito”.

A única mulher a ganhar uma estatueta de Melhor Direção, Kathryn Bigelow, garantiu seu prêmio com um filme de essência e elenco predominantemente masculino. Era a guerra no Iraque sob o viés do homem em crise e isso deve ter pesado muito mais que o fato da direção estar nas mãos de uma mulher. Porém, em 2021, as duas diretoras indicadas têm em comum muito mais que a idade, ambas na casa dos 30.

Chloé Zhao (foto acima) e Emerald Fennell (foto lá embaixo) concorrem ao homenzinho dourado por filmes que falam de mulheres. A primeira, dotada de poesia agridoce e auxiliada por uma montagem incrível, faz de Nomadland uma das produções mais emocionantes e potentes da temporada. Já Bela Vingança, o filme de Fennell, é ácido e garante uma diversão diferente. Esqueça o estereótipo de mulher vingativa que o cinema clássico pregou durante décadas.

Aqui há espaço para planos mirabolantes e muito questionamento, mas sem discurso pronto ou que precise ser “explicado” em diálogos. Enfim, são dois exemplares que, com certeza, conseguem seus objetivos junto ao público por terem mulheres como condutoras. Na tela e no set.

Por conta do combo pandemia, maternidade, mestrado e outras cositas mas (ninguém precisa saber de todo o perrengue, né?), esta colunista ainda não conseguiu assistir a todos os filmes concorrentes. Ainda há um tempo que pode ser aproveitado para mudar essa situação.

Mas, até lá, estamos na torcida para que a mulherada que promete movimentar o Oscar 2021 não fique apenas exibindo seus vestidos no tapete vermelho e respondendo perguntas fúteis de entrevistadores nada preparados para a força das mulheres do cinema.

Queremos mais espaço para discutir personagens femininas, tramas ligadas ao verdadeiro universo feminino e a oportunidade de falarmos a nossa língua, sem precisar dos clichês de sempre.

Que Chloé e Emerald sejam as primeiras de uma lista longa. De concorrentes e vencedoras. E não por serem mulheres, mas por serem ótimas naquilo que fazem. Porém, não podemos negar que num ano em que chatices como Tenet e Os 7 de Chicago chegaram ao Oscar, a criatividade, definitivamente, tem rosto de mulher.

(*) Bianca Zasso, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009. Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.

Observação do editoras fotos que ilustram este texto são de Divulgação.

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2 Comentários

  1. ‘The Hurt Locker’ não é ‘guerra no Iraque sob o viés do homem em crise’. Personagem é um homem porque não seria crível uma mulher, não são muitas que desarmam bombas. É sobre o Transtorno do Stress Pós-Traumático (que vai gerar muitos filmes depois do Covid) e a inadequação dos veteranos à vida civil. Muita gente passou por aquelas guerras, ou seja, traumatismo cranioencefálico, alcoolismo, drogas, violência domestica, suicídio não faltam. Atendidos por um sistema de saúde militar preocupado em cortar custos. Filme custou 15 (barato) e faturou 45.
    Mais realista é ‘Generation Kill’ da HBO, um jornalista (história real) da Rolling Stones entre os marines. Abstraindo a guerra, é o espelho do que acontece numa empresa média/grande. Problemas de comunicação, visão diferente entre os níveis hierárquicos e até critica social.

  2. Resumo da ópera: filmes feitos para outas pessoas da indústria do cinema e para a critica.
    Nomadland custou 5 milhões e teve bilheteria de 3 milhões de dólares. Juntando mais alguns farelos não se pagou.
    ‘Promising Young Woman’ faturou 10 milhões. Orçamento de 5 a 17 milhões (valores estimados, não divulgaram). Resultado é o mesmo.
    Daí entra-se com banda de música na antiga dicotomia. “Cinema é obra de arte com critica social, a plebe intelectual enxerga como entretenimento e não deveria’. Obvio que só poderia sair de alguém que não tem que ficar apertando parafuso ou sentando tijolo 44 horas por semana. Ignorando a baboseira de ‘vanguarda’´.
    Outro aspecto, ideológico também, um bom roteiro e uma boa história levam gente para o cinema. Bem ‘tirados do papel’, óbvio.
    Implicitamente é ‘não importa a qualidade dos filmes, importa é que são feitos por mulheres e precisamos incentivar mais mulheres fazendo cinema porque a diversidade mimimi’. Ou seja, uma promessa prima facie não cumprida, filmes meia boca feitos por mulheres seguindo a premissa hegeliana que da quantidade sai a qualidade.

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