Se Bolsonaro tomar a vacina, ele perderá apoio da extrema direita e a reeleição? – por Carlos Wagner
O Presidente da República se vacinar será admitir que fez tudo errado até aqui
O capitão reformado do Exército e parlamentar por três décadas Jair Bolsonaro, 66 anos, ocupa o melhor emprego da sua vida: presidente da República do Brasil. Chegou ao cargo em 2018 por um somatório de fatos que tornaram o seu discurso, considerado exótico por nós jornalistas, como a defesa dos torturados do golpe militar de 1964, em bandeiras que lhe renderam milhões de votos entre a extrema direita, terraplanistas, nazistas, ocultistas e neoliberais.
Bolsonaro vai tentar a reeleição em 2022. O seu drama é o seguinte: para ser fiel às suas bases ele assumiu ser negacionista em relação ao poder de contaminação e letalidade da Covid-19. Um dos seus ex-ministros da Saúde, o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello, tornou o negacionismo uma política de governo. Uma política genocida, considerada responsável pela atual situação dos brasileiros: mais de 3 mil pessoas estão morrendo por dia, infectadas pelo vírus, e o total já somava, neste sábado (03/04) mais de 330 mil mortos.
Os sistemas de saúde público e privado de 25 dos 27 estados estão colapsados: faltam leitos, UTIs, remédios e pacientes estão morrendo nos corredores dos hospitais. Não é pouca coisa. É a maior tragédia sanitária da história do país. A vacinação é a solução. Mas ela acontece a conta-gotas graças às crenças do presidente. É sobre isso que vamos conversar. Vamos aos fatos.
As pesquisas mostram que os brasileiros querem se vacinar. O presidente Bolsonaro é contra a vacina. Mas agora pulou para cima do muro. No sábado (03/04), afirmou aos noticiários que abria mão da vacina a que tem direito pela sua idade para ser usada em outro brasileiro, porque já teve Covid e, portanto, estaria imunizado.
Conversa fiada. Os cientistas têm afirmado, com base em informações obtidas em pesquisas, que nada dá mais imunidade do que a vacina. Conversa fiada. Por quê? Simples. O núcleo de articulação de Bolsonaro com as bases é o Gabinete do Ódio, um círculo de pessoas que fazem parte do entorno do presidente no qual se incluem os seus três filhos parlamentares: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo.
Essas pessoas são as responsáveis pela imagem do presidente perante os seus eleitores. E o negacionismo em relação ao vírus é um dos esteios dessa imagem. Usando uma imagem do Rio do Grande do Sul. Se o presidente se vacinar será o mesmo que um torcedor de Internacional ou Grêmio trocar de time no meio de um Grenal (como é chamado o clássico entre as duas equipes).
Bolsonaro ainda não decidiu se vai trocar de time. Mas não poderá ficar no muro, acendendo uma vela para cada santo, como diz o dito popular para definir aqueles que querem agradar a todos. Os deputados do Centrão que aderiram ao governo federal em troca de cargos vão exigir que o presidente desça do muro no lado dos defensores da vacina.
Por quê? A emergência sanitária na qual vivem os brasileiros é a maior da história do país. Hoje (03/04), em 25 dos 27 estados, não há vagas nos hospitais. Pessoas estão morrendo nos corredores. Isso é um fato. E os principais adversários à reeleição de Bolsonaro, como o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), são adversários peso-pesado.
E além da questão sanitária Bolsonaro tem um grande problema com a economia do país mergulhada em um pantanal que não tem só a ver com a pandemia. Mas também pela falta de competência do ministro da Economia, Paulo Gudes.
Claro. A definição da economia passa pela vacinação em massa da população. Nisso todos concordam. Todos os países que optaram por essa saída, como os Estados Unidos, têm uma real chance de voltar à normalidade econômica.
Se o presidente do Brasil se vacinar será o mesmo que admitir que ele até agora fez tudo errado. E com isso deixará agarrados no pincel os seus seguidores da extrema direita. Qual será o caminho escolhido por Bolsonaro? Ninguém sabe. Nem ele.
E é aqui que nós repórteres entramos no jogo. Informando ao nosso leitor com clareza e exatidão a situação que o Brasil vive nos dias atuais. Há a real possibilidade de chegarmos aos 500 mil mortos por Covid. Isso é um fato. No futuro as autoridades serão responsabilizadas nos tribunais internacionais por esse genocídio.
Já disse e vou repetir. O presidente da República foi longe demais para recuar. Sobre se vacinar ou não, o presidente tentará implantar duas versões. Uma dizendo que se vacinou devido à pressão das autoridades. Outra, assumindo que é um negacionista.
Como o presidente navegará nesse mar? Essa é a pergunta que está martelando na cabeça dele. Se decidir assumir que a vacina é o caminho, ele pode perder o apoio da sua base eleitoral. Ou seja. O ato de tomar ou não a vacina vai definir muita coisa na vida política do presidente. E a imprensa ainda não se deu conta dessa realidade. Em tom de brincadeira, lembro que o presidente disse que quem tomar a vacina pode virar jacaré. Tempos interessantes os que estão vindo por aí.
(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.
E quando vocês chamarão a stalinista Manuela de EXTREMA Esquerda? Jornalismo seletivo esse..
Diria que a maioria da população está c4g4ndo para vacinação do Cavalão. As filas e os lobbies corporativos mostram isto. No mais a mesma catilinária de sempre.