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Seis por meia dúzia – por Marta Tocchetto

Demissão do ministro Salles não traz alívio, nem esperança. Articulista explica

A demissão de Salles não trouxe alívio, nem esperança. O sucessor, seu braço direito, certamente levará à frente os propósitos da “nova” política ambiental brasileira.

A semana política no Brasil alternou saltos e sobressaltos. Em meio a rumorosas suspeitas e denúncias com instauração de inquéritos pelo STF sobre a venda ilegal de madeira de desmatamento, Ricardo Salles deixou o Ministério do Meio Ambiente.

O rastro de destruição promovido pelo anti-ministro é o maior de todos os tempos – desmatamento e queimadas recordes, flexibilizações e descumprimento da legislação ambiental, desmonte dos órgãos de controle e de participação popular, incentivo à grilagem de terras, desqualificação do trabalho das ONGs, exploração de terras indígenas, apoio ao garimpo ilegal, para citar alguns desfeitos.

Salles foi o operador de um plano destruidor proposto para o Brasil. Salles foi mais um artífice da arquitetura destrutiva, basta acompanhar as políticas e estratégias para a educação, saúde, cultura, agricultura, infraestrutura, economia, energia e por aí vai.

O fosso se aprofunda em todas as áreas. Ações inescrupulosas foram propostas na fatídica e vergonhosa reunião ministerial de 22.04.2020 – “a hora é de aproveitar para passar a boiada, enquanto as preocupações estão voltadas à pandemia”.

O Brasil retrocedeu no cenário ambiental global. As narrativas conspiratórias e negacionistas são usadas para justificar os ataques à floresta, as ações de desmatamento e queimadas que a cada ano são superadas.

Desde o princípio do governo Bolsonaro, Salles dava sinais de que temas como aquecimento global e queimadas na Amazônia não seriam prioridades. Assim foi até o fim de seus dias frente ao ministério. Por estas e outras que a troca não trouxe alívio, nem esperança. A troca foi seis por meia dúzia. O sucessor, seu braço direito, certamente levará à frente os propósitos da “nova” política ambiental brasileira.

O Ministério do Meio Ambiente tem sido o abre alas para que avancem outros objetivos de destruição – liberação de agrotóxicos banidos em outros países atendendo aos interesses do agronegócio; dispensa de licenciamento e autodeclaração ambiental, uma clara intenção de investir sobre terras indígenas, as quais, segundo o governo, são extensas demais e guardam riquezas que precisam ser exploradas, um claro equívoco de entendimento de desenvolvimento sustentável.

O marco temporal do PL 490 é mais uma destas estratégias orquestradas para entregar as terras dos povos tradicionais à empresários que visam o lucro acima de tudo. Infelizmente, tudo indica que continuarão os ataques ao meio ambiente e seus defensores, aos povos originais, aos cientistas, aos órgãos e às instituições de controle e pesquisa, à ciência e a tantos outros que compreendem que não há economia, tampouco vida, sem meio ambiente saudável.

Os ambientalistas continuarão sendo vistos como inimigos por defenderem o desenvolvimento econômico em conexão com a natureza e por protegerem a maior riqueza do Brasil, nossa biodiversidade.

Tudo indica que os predadores e destruidores continuarão sendo tratados como articuladores da política de crescimento proposta para o país. Restam as pressões internacionais, pois a marcha vai no estilo do Joãozinho do passo certo e no sentido do retrocesso.

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.

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Um Comentário

  1. Por partes como diria Jack. Queimadas e desmatamento não mudam com ministro em BSB, mudam com mudança de cultura lá na ponta. Não, não é defesa do ministro que estava longe de ser uma das pessoas mais humildes do mundo.
    ONG deveria ser uma organização não-governamental. No Brasil quase virou sinonimo de um conjunto de vadios vivaldinos recebendo dinheiro público. Não interessa a ‘nobreza da causa’, dinheiro público não é para sustentar quem se pendura num cabide.
    Garimpo ilegal é dificil de combater, brasileiros já invadiram a Guiana Francesa, já entraram em choque com o exercito frances e já até emboscaram soldados por lá. Não se resolve ‘apertando um interruptor’ em BSB.
    Terras indigenas são para os indigenas decidir o que deve ser feito. Por lá acontece de tudo, desmatamento ilegal (rolando um por fora), pastores de religiões diversas, vermelhinhos querendo criar um Parque Jurássico (os indios se fantasiam de primitivos e recebem grana do governo, vermelhinhos ganhando a comissão de praxe).
    Ambientalistas existem sérios também. Há nesta tribo os militantes de esquerda. Fácil de identificar, classe média alta (estudante ou burocrata governamental), discursa como se fosse o repositario de tudo que é bom e certo, repositório moral da humanidade, digno de julgar os vivos e os mortos. Ou seja, um tremendo hipócrita. Remediável se não fosse o passatempo favorito: c4g4r regras para os outros.

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