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Os sete “azares” dos sete anos dos 7×1 – por Leonardo da Rocha Botega

Desde aquele 8 de julho, um punhado de desgraças. Mas que têm de acabar

Desde a Roma Antiga existe a crença popular de que quebrar um espelho traz sete anos de azar. A ideia partia do fato de os romanos acreditarem que ao quebrar o espelho a pessoa estaria quebrando a própria alma refletida. Acreditavam também que a vida era dividida em ciclos de sete anos e que, portanto, a alma quebrada somente seria restaurada sete anos após a quebra do espelho. Até lá, a vida do “quebrador” seria, ano após ano, cheia de mau agouro e azar.

A crença nos sete anos de azar após a quebra do espelho pode servir como metáfora para o entendimento do Brasil sete anos após o maior trauma em termos de resultado futebolístico de sua história. Os 7×1 sofridos para a Alemanha no jogo das semifinais da Copa do Mundo de 2014 são um daqueles eventos que, independente de gostar ou não de futebol, ficaram eternamente marcados no imaginário popular brasileiro. Desde então, a cada revelação de um problema em nossa sociedade, temos nos acostumado a ouvir: “é o nosso eterno 7×1”.

A realização da Copa do Mundo no Brasil, bem como, a realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro dois anos depois, dividiu opiniões, sobretudo, entre aqueles que consideravam o evento uma forma de mostrar para o mundo a realidade emergente do país e aqueles que afirmavam que um país carente de políticas públicas como o nosso deveria ter outras prioridades.

No bojo da preparação para o evento estouraram as difusas manifestações de junho de 2013 (heroicizadas por uns, demonizadas por outros e ainda pouco interpretadas por muitos), demonstrando que nem tudo era perfeito em um país que cresceu, promoveu inclusão social, mas manteve a precariedade de seus serviços.

Porém, nem mesmo os mais indignados em 2013 e os mais afetados com a quebra de nosso espelho futebolístico naquele 8 de julho de 2014, talvez pudessem esperar o que viria pela frente. Desde o dia em que a impiedosa seleção alemã (ou piedosa, afinal tiraram “o pé do acelerador” no segundo tempo) parecia ter o dobro do número de jogadores em campo do que a nossa seleção, o Brasil engatou uma marcha ré que já dura sete anos.

Em 2015, na tentativa de acalmar os ânimos dos engravatados financistas, que em 2014 demonstraram não quererem mais o lulismo no governo, o governo Dilma promoveu uma guinada rumo as políticas de austeridade. Não deu resultado! Em 2016, o engodo das peladas fiscais gerou um dos Golpes mais baixos de nossa história cheia de golpes. Um golpe que, ainda naquele ano, avançou sobre as parcas políticas sociais executadas pelo Estado Brasileiro com uma PEC que estabeleceu um teto para os gastos sociais, mas sequer olhou para os 43% do orçamento que vão para o setor financeiro.

Veio 2017 e um novo engodo! Uma Reforma Trabalhista que fez o país retroceder aos patamares pré-1930 com a promessa de diminuir o desemprego. Não só não diminuiu como criou novos personagens precarizados como o Engenheiro que virou Uber. Em 2018, a prisão política do líder em intenções de voto e a falácia da “escolha difícil” dos autointitulados liberais brasileiros resultou na eleição de uma figura bizarra com pouco apreço pela democracia.

Em 2019, vimos o sonho de aposentaria de muitos brasileiros e brasileiras ir para o ralo. O ano de 2020 demonstrou que uma catástrofe nunca vem sozinha em um país boicotado e que se boicota. A soma de uma política econômica pauta por “ganhar muito dinheiro salvando grandes empresas” com o negacionismo durante a pior Pandemia mundial desde 1918, resultou em um assustador número de óbitos e em um também assustador colapso social.

Por fim, em 2021, às vésperas dos setes anos dos 7×1, descobrimos que nossas vidas valem um dólar no mitológico mercado das propinas por vacina. Como diz o ditado: há quem lucre em meio a desgraça. E o que é pior: sem nenhum pudor em vender-se como honesto, “falando de Deus e agindo como satanás” como diz o rapper Emicida. Falando em liberdade, mas com a tesoura preparada para cortar a palavra democracia. Que o povo brasileiro não deixe esse corte acontecer. Que o povo brasileiro retire este último ano de azar de suas vidas e que o país inicie um novo ciclo com sua alma restaurada.

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

Observação do Editor: A imagem (sem autoria determinada) que ilustra este artigo é do jogo Brasil 1 x 7 Alemanhã, na semifinal da Copa do Mundo de Futebol, em 8 de julho de 2014, é uma reprodução da internet.

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2 Comentários

  1. Sonhar que uma legislação feita na década de 30 poderia regular as relações de trabalho 100 anos depois é rematada asneira. Obvio. Mundo é outro,economia é outra. Sem falar na hipocrisia. Sem falar na hipocrisia. PSOL da cidade do RJ tentou recrutar jornalista mes passado. Carga horaria semanal 20 horas, salario 2500 reais. CLT? Obvio que não. Pessoa juridica ou MEI.
    Democracia? Semana passada pessoal da agricultura estava protestando de novo na Argentina. Uruguai anda negociando acordos a margem do Mercosur. Cuba teve manifestações. Não é a calmaria que falam uns e nem a primavera que dizem outros. Capa do Clarin de ontem (ou anteontem) foi a prisão de uma cubana que dava entrevista ao vivo via internet. Bateram na porta e lá sumiu mais uma. Balela de embargo (vermelhinhos são useiros e vezeiros da mentira). Porto de Mariel inaugurado por Dilma, a humilde e capaz, custou algo entre meio bilhão e um bilhão de dolares. Dinheiro vai, dinheiro vem e vai parar no bolso de não se sabe quem.
    Nenhum engano, PT no poder federação brasileira vai ter 30 estados. Teremos que trabalhar para sustentar Cuba, Venezuela e Argentina. Quiça mais gente. E ‘humanitário’.

  2. Governo Dilma, a humilde e capaz, foi um desastre. Simples assim. Vide creches. Vide canetaço da redução da conta da luz que virou uma conta de 62 bilhões repassadas para a conta depois. A lista é interminável.
    Quando o governo federal pega emprestado tem que pagar com juros. Obvio. Se joga dinheiro fora (vide creches) problema dele, vai ter que pagar igual. É antecipação de receitas, o dinheiro que iria receber com tributos no futuro é adiantado pelo mercado financeiro com custo, óbvio.
    Dilma, a humilde e capaz, mandou um economista fazer curso no Senac/Pronatec. No mesmo modelo do ‘Mais Médicos’ estudou-se a possibilidade de importar engenheiros. Profissionais que já tinham virado suco (por conta de um engenheiro metalurgico que perdeu emprego e virou dono de lanchonete decadas atras) viram o mercado de trabalho inundado. Um tal Reuni. Campus de Cachoeira da UFSM tem cursos de engenharia eletrica, transporte e logistica, agricola e mecanica. Não foi a unica instituição que ampliou os cursos na área. Não tem nada a ver com reforma trabalhista, é pura incompetencia, formam muita gente sem mercado de trabalho. Dinheiro publico gasto a toa e frustação dos formados. Simples assim.

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