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’Caos aéreo’ (2). Como a mídia grandona (e a que se acha) não informa. Apenas discursa

Tenho procurado, aqui nesta (nem sempre) humilde página de internet, me diferenciar do usual. E aí, sem modéstia alguma, busco deixar claro que tenho opinião. Não sou amorfo. Aliás, ninguém é. Mas há os que fingem ser independentes e “isentos”.

 

Essa é a norma na mídia grandona (e também na que se acha). Defende seus interesses. O que é legítimo. Mas não confessa: o que beira o criminoso.  Prefere o argumento da neutralidade, essa bobagem disseminada indiscriminadamente para leitores, ouvintes e telespectadores. Ou a famosa “imparcialidade”. Como se quem produz notícia fosse um protozoário. E quem a recebe, uma ameba.

 

Às vezes, quando estou muuuito feliz (e isso é norma em mim, com certeza), e pretendo experimentar um pouco (ou muito) de irritação, basta ler a revista Veja. Que, não sei ainda por que, assino. É amolação garantida. Afinal, há quem duvide, mas tenho três neurônios, pelo menos.

 

Mas tem coisa pior do que isso. Isto é, como não sou bobo, e entendo (eventualmente até concordo) as entrelinhas, e inclusive as linhas – que elas existem também, já consigo discernir essa empulhação que querem me passar. Então, o mais grave é quando esquecem o fato. Este, sim, é importante. E o que está no entorno. E aí me sinto enganado meeeesmo quando sua excelência o fato é relegado a milésimo plano

 

Não entendeu? Sem problemas. Recorro a alguém melhor que eu, muito melhor. No caso, o jornalista veterano de redações e assessoria de comunicação, inclusive de políticos (Paulo Maluf já foi cliente dele, para não deixar dúvida), Carlos Brickmann. Confira:

 

“…A volta

Passou despercebido o retorno de um personagem político importante, que andava esquecido: o ex-deputado Sigmaringa Seixas, que foi tucano, virou petista, mas mantém boas relações com o velho partido. Sigmaringa Seixas foi o intermediário escolhido pelo presidente Lula para ver se, desta vez, Jobim aceitaria o Ministério da Defesa, já por ele recusado em outras ocasiões. Sigmaringa, político respeitado, amigo de Jobim e de José Serra (que é padrinho de casamento de Jobim e já dividiu apartamento com ele, em Brasília, na época da Constituinte), cumpriu a missão.

Desastre bipartidário

O debate sobre o acidente da TAM, com mais de 200 mortos, se partidarizou de tal forma na imprensa que tornou mais difícil encontrar suas causas. O fato é que, na cadeia de eventos que levou ao desastre (é quase impossível um acidente de aviação causado por um único erro), há responsabilidades a distribuir por diversos governos e diversos partidos. Não é questão de Lula, José Serra, Gilberto Kassab: é coisa que vem de longe, envolve partidos já extintos e políticos já falecidos.

Comecemos pelo óbvio: o aeroporto está no Campo das Congonhas há 70 anos, quando ali era um imenso descampado. De 1936 até agora, a prefeitura foi autorizando a ocupação urbana da região, até que o aeroporto ficasse totalmente cercado, sem área sequer para ampliar as pistas. A Aeronáutica autorizou prédios altos nas redondezas, dificultando as manobras.

Congonhas já esteve praticamente desativado, mas os governos de Collor para cá o reativaram. O governo Lula fez amplas reformas, mas a infra-estrutura foi esquecida, enquanto prédios, garagens e lojas recebiam investimentos. Lula achava que seu caminho estava certo – tanto que, num debate com Geraldo Alckmin, na campanha presidencial, disse que o tucano deveria agradecer pela reforma de Congonhas.

E a imprensa? Bom, quando houve desastres ou congestionamentos, houve também reportagens. Fora disso, nada. E, quando houve reportagens, preferiu-se o tom indignado à busca das causas do problema.

A altura do negócio

Um bom exemplo do tom indignado é o caso do hotel Oscar’s, do empresário Oscar Maroni, dono de um bar de garotas de programa, o Bahamas, que fica bem ao lado do aeroporto de Congonhas. O Oscar’s, ao que tudo indica, seria o destino natural de empresários e das garotas que conheceram no bar.

Pois bem, uma reportagem informou que o hotel, muito alto, atrapalha os pousos em Congonhas. Na manobra, o avião perde 130 metros de pista – que já é curta. Os meios de comunicação apuraram que o hotel foi inicialmente embargado pela Aeronáutica e depois liberado, porque o proprietário mudou sua destinação para “edifício comercial”. A imprensa publicou isto – e não perguntou se a transformação em “edifício comercial” deixaria de atrapalhar os vôos. Terá o prédio ficado mais baixo? Terá mudado de local? Então, que é que mudou para que a Aeronáutica ou aprovasse?

A impressão que se tem é de que há indignação da imprensa pelo uso que se fará do hotel. Mas, se fosse dedicado a atividades beneficentes, e não à prática do amor pago, continuaria atrapalhando os vôos.

Enfim, o prédio é ou não um obstáculo? Se for (e tudo indica que é) caberia uma reportagem mostrando os caminhos seguidos para sua aprovação…”

 

 

SUGESTÃO DE LEITURA – Clique aqui para ler a íntegra da coluna “Circo da Notícia”, assinada por Carlos Brickmann, no Observatório da Imprensa.

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