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Os males da inflação – por Giuseppe Riesgo

Consequências da elevação de preços não são pequenas, mostra o articulista

Não é novidade para absolutamente ninguém que a inflação de preços, essencialmente depois da pandemia, voltou com tudo. Do supermercado aos combustíveis podemos rapidamente perceber o quanto a elevação dos preços vem atingindo bens e serviços essenciais em cheio e, assim, prejudicando justamente os mais pobres. No entanto, há outros males desse processo que vão além da perda do poder de compra e que, geralmente, os governos não contam.

Como sabemos, a inflação tem como efeito imediato uma diminuição nos padrões de vida das classes mais pobres. Isso porque a alta nos preços corrói os salários e, consequentemente, diminui a qualidade de vida das famílias menos abastadas.

Nesses momentos, nem mesmo decisões políticas de aumentos no salário-mínimo, por exemplo, atenuam o problema. Isso porque esse tipo de indexação, via correção monetária, gera um efeito de novos aumentos nos preços que levam à novas correções nos salários.

Ato contínuo: a moeda perde valor ao longo do tempo e o desemprego aumenta -, visto a impossibilidade do setor privado em bancar aumentos salariais oriundos “das canetadas” de políticos caridosos.

Só que deste primeiro efeito deriva um segundo ainda mais preocupante: o aumento da desigualdade na dispersão da renda. Isso ocorre porque a perda do poder de compra da moeda nacional faz com que os pobres fiquem a cada dia mais pobres, enquanto aqueles que possuem renda assegurada e patrimônio bem protegido enriquecem com esse processo.

Essa condição deriva da situação econômica de ambas as classes. Enquanto o pobre vai ficando sem opção para resguardar o poder de compra do seu pouco dinheiro, o rico (que não precisa gastar tudo o que recebe no mês) aumenta o seu patrimônio com a valorização monetária dos bens que acumula.

Assim, a economia com alta inflação se aproxima de um jogo de soma zero às custas do aumento da pobreza da população. Ou seja, os preços em elevação condenam o país a formar um colchão de miséria para sustentar o banquete de uma pequena classe de privilegiados.

Por fim, o último a ganhar é o governo. Com a inflação em descontrole, dada a regressividade da tributação brasileira, o governo arrecada mais. Dado que o governo, essencialmente no Brasil, gasta muito com funcionalismo e pouco com políticas sociais, pode-se dizer que a inflação é uma forma de transferir recursos dos mais pobres para pequenas castas da elite pública brasileira.

A inflação financia o governo e o governo financia alguns pequenos grupos de apaniguados. Da elite do funcionalismo à empresários amigos do governo, todos enriquecem às custas do povo e do aumento de sua pobreza.

Por esses motivos, o pior programa social que um governo pode realizar é deixar a inflação de preços voltar. Nada é mais indigno de um país que deseja crescer e se desenvolver do que perder o poder de compra da sua moeda.

Nesse arranjo, ganham alguns poucos, perdem outros muitos. Não é à toa que as chagas da hiperinflação dos anos 80 e 90 ainda ecoam em nossa sociedade através da miséria e da desigualdade presentes. Se queremos um país próspero e desenvolvido, o primeiro passo é construirmos e solidificarmos uma moeda forte. Infelizmente, a realidade atual está cada vez mais distante disso.

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

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2 Comentários

  1. Cadeias de suprimento (importamos muitas coisas que deveriamos produzir aqui), dólar (a divida publica explodindo), coisas erradas não faltam. Nunca vai faltar vagabundos(as), imbecis e maus-caracteres largando um ‘dinheiro não falta, falta é vontade politica, Brasil é um pais rico’. Geralmente vem de alguém que não sabe como e não tem que arranjar a grana para resolver algum problema (tudo é barbada). Falta foco, faltam prioridades, querem resolver da falta de absorventes higienicos nas escolas até o aluguel de tempo em telescopios estrangeiros para procurar planetas em outros sistemas solares (é ciencia estúpido!). Resumo é um chavão da economia, recursos limitados para necessidades ilimitadas. Resumo é falta de gestão e falta da palavra ‘não’,

  2. Socar na cabeça de alguns que a indexação realimenta a inflação porque prejudica o mecanismo de demanda e oferta é luta inglória. Principalmente nos vermelhinhos que vendem um ‘mundo indolor’, soluções simples para problemas complexos e no poder só fazem c4g4d4. Vide Argentina. Saida por lá (inflação supera os 53% ao ano) foi congelamento de preços a la Sarney. Resultado esperado é mercado negro, desabastecimento e campanha de desinformação para jogar a responsabilidade em terceiros. Desigualdade há que ser vista com cautela. Fonte de estatisticas tem que ser confiável (o que é dificil de encontrar). Ir atrás da imprensa enviesada e dos vermelhinhos é coisa de otário. Patrimonio protegido também há que ser visto no detalhe. Vide aldeia. Terrenos baldios de velhas casas antigas demolidas (até para não ser invadidas) começam a proliferar. ‘Aluga-se’ e ‘vende-se’, placas para todo lado. Construção civil aparentemente teve dinheiro barato por tempo considerável (emprega bastante) e emprendimentos não faltam. Impressão de uma bolha existe, gostaria de ver os numeros do ‘estoque’ de imóveis na aldeia. Os verdadeiros, não os que os interessados divulgam para ‘não apavorar a clientela’.

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