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Maria Firmina dos Reis – por Elen Biguelini

Sobre a autora de “Ursula”, 1º romance de autoria feminina negra no Brasil

Já que citamos a magnífica Maria Firmina dos Reis no ARTIGO da semana passada, pensamos que seja coerente falar um pouco sobre esta figura.

Maria Firmina dos Reis (11 de março de 1822 – 11 de novembro de 1917) foi uma escritora cearense, negra, professora, que iniciou uma escola mista em sua pequena região e que escreveu diversos textos em periódicos do Ceará durante a segunda metade do século XIX.

Seu romance “Ursula” (1859) não é sua única obra, visto que escreveu diversos contos que rodaram seu Estado. Mas é, definitivamente, o primeiro romance de autoria feminina negra. Também pode ser considerado o primeiro romance de autoria feminina brasileira (visto que compete este título com o texto de uma autora nascida no Brasil quando este ainda era parte de Portugal, “Aventuras de Diófanes”, publicado em 1752 por Tereza Margarida da Silva e Orta, 1711 – 1793).

Este romance, considerado literatura gótico feminina, foi publicado em 1859 e esquecido pela crítica literária, até que uma única edição foi descoberta por 1962. A obra foi novamente perdida por alguns anos e reencontrada em 1975 sendo então, finalmente, levada novamente ao prelo. Felizmente foi, então, salvo este importante texto para a história da literatura brasileira e abolicionista.

O tema da escravidão é frequente em sua obra, e figura-se fortemente em um conto de sua autoria, que foi felizmente publicado junto à edição de “Ursula” à qual a articulista teve acesso.

Esse texto titulado “A Escrava” é um forte texto em defesa da liberdade dos afrodescendentes. Assim como a magnífica citação que utilizamos no artigo anterior, no qual a autora devolve a voz de uma jovem senhora negra retirada a força de seu lar e daqueles que amava, este texto não mede esforços para demonstrar o sofrimento daqueles que eram colocados sob um regime violento e do qual as pessoas não conseguiam fugir.

O texto retrata a história de uma senhora branca que protege homens e mulheres negros fugidos em sua casa e demonstra que havia pessoas de todas as raças e classes sociais lutando pela causa abolicionista.

A própria autora era negra, como já foi dito. Sua mãe havia sido alforriada, então a autora era filha de uma escrava. Logo, conhecia profundamente o sistema escravocrata e seus resultados sobre a mente e o corpo humano.

Se naquele período ainda eram poucas as mulheres brancas que estudavam (e se tornavam professoras), Maria Firmina fez algo que demorou muito para estar ao alcance da grande maioria de meninas negras. Ela não só aprendeu a ler e escrever, mas expressou a dor e a angustia da experiência de negritude um século antes de falarmos de “lugar de fala”.

Maria Firmina dos Reis é uma escritora brasileira que deveria fazer parte do mais alto podium de genialidade literária. Infelizmente, por mais que sua obra venha sido resgatada, ela ainda não chegou a seu lugar merecido na lista de ilustres brasileiros.

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

Nota do Editor. A ilustração que abre este artigo é uma arte originalmente publicada na revista eletrônica Cult, alojada no portal UOL (AQUI )

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