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Tiradentes, descobrimentos , descolonização e descobertas – por Elen Biguelini

A semana que terminou marca datas importantes da História do Brasil. Esta História com H maiúsculo, que representa uma narrativa oficializada dos acontecimentos históricos que englobam a formação da República Brasileira.

Ao mesmo tempo, um historiador revelou algo que para especialistas era já conhecido, áudios que comprovam aquilo que muitos ainda negam, mas que não pode ser ignorado devido as evidências.

Levantamos então um debate que é já frequente em grupos que discutem questões historiográficas, filosóficas e sociológicas: a construção da identidade (unificada) brasileira.

Quando o Brasil foi oficialmente separado de Portugal, e quando se instituiu como República Federativa, historiadores e geógrafos que se dedicavam ao estudo da História brasileira, especialmente aqueles do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB), debruçaram-se sobre a questão da identidade brasileira.

Quem era o “brasileiro”?

Tiradentes foi uma resposta a este questionamento. Era um homem branco da elite, trabalhador, mas nascido no Brasil. Intelectual, representava a insurreição contra a coroa: o antimonarquismo e o republicanismo. Assim, esta figura que havia sido esquartejada pela monarquia, passava a ser exaltada pelas massas como ídolo republicano.

O descobrimento, por sua vez, foi também envelopado de magia e superstição. Não havia continente antes dos portugueses. Homens brancos chegaram e tornaram as nossas terras dignas, sociais. Deram-lhes vida. Ao menos na interpretação desta história oficial que apaga os inúmeros povos que já existiam por aqui.

Estes indígenas que não são representados por Tiradentes, foram finalmente adicionados ao “brasileiro” por Gilberto Freyre, assim como os negros, embora o autor tenha criado um mito de igualdade entre as “três raças brasileiras”, que é uma das razões da atual negação da existência de preconceito por parte de grande número de pessoas (brancas).

A história é escrita e reescrita com novos fatos, mas negar acontecimentos que são comprovados por evidencias históricas e científicas não é fazer história – é negacionismo.

Havia grupos indígenas no Brasil antes do “descobrimento”, havia culturas e pessoas com experiências tão válidas quanto às dos portugueses. A História (com H maiúsculo) não pode apagar estas experiências da mesma forma como não podem ser apagados ou esquecidos os traumas da ditadura.

Tortura aconteceu, pessoas morreram e sofreram. Famílias se perderam. A ditadura militar é fato.

A identidade brasileira, e a história desta país, são constantemente debatidas. O racismo faz parte de nossa história, assim como as tribos, caciques e povos dos mais variados.

Apagá-los de nossa história é desvalorizar nosso povo.

Dizer que não houve ditadura é apagar a força dos sobreviventes.

Afirmar que todos somos representados apenas pela através da imagem de um homem branco é ignorar todas as cores, folclore, religião, festa, música e alegria do povo brasileiro.

Tiradentes foi sim uma figura marcante pra história, mas também o foi Zumbi, Domingos Fernandes Calabar (de mãe indígena), e outros (e outras) que participaram em movimentos separatistas durante o Brasil Colônia. Tiradentes é uma representação de Brasil, mas não representa TODOS os brasileiros. Somos um povo diverso e alegre e, infelizmente, muitos tentam apagar a diversidade da nossa história.

Celebremos todas as figuras, não apenas os homens brancos.

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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