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Jornalistas notaram que os caminhoneiros estão apanhando quietos? – por Carlos Wagner

Greve? Só se houver a concordância dos grandes empresários do setor

Uma nova greve de caminhoneiros aguarda o próximo presidente do Brasil, a ser eleito em outubro deste ano? (Foto Reprodução)

Seja quem for o próximo presidente do Brasil são grandes as chances de ele ser recepcionado por uma greve dos caminhoneiros. A situação do setor nunca esteve tão a perigo como nos dias atuais. Os reajustes nos preços do óleo diesel elevaram o litro para mais de R$ 6,20. Os insumos, como peças de reposição e pneus, nunca estiveram tão caros por conta da pandemia da Covid-19 e da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Qualquer foca de redação sabe que os caminheiros só entram em greve se houver a concordância dos grandes empresários do setor, como aconteceu em 2018, quando uma paralisação de 10 dias custou ao país um prejuízo de R$ 16 bilhões e implodiu o governo do presidente Michel Temer (MDB-SP). Além de colaborar para a eleição de Jair Bolsonaro (PL) a presidente da República.

Para nós, jornalistas, a greve de 2018 deixou algumas lições que não podem ser esquecidas. A principal delas foi não termos levado a sério o movimento por desconhecimento do que estava acontecendo. Esse desconhecimento contribuiu para que provocássemos um “efeito manada”, uma corrida dos consumidores aos postos de abastecimento, o que acabou gerando muita confusão e fortalecendo a greve.

Antes uma explicação que considero necessária. Uma das vitórias do movimento grevista dos caminhoneiros em 2018 foi a criação da Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte de Rodoviário de Cargas (PNPM–TRC), que foi regulamentado pela Lei 1.3703/2018.

O preço mínimo do frete é controlado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Mas, em última análise, quem determina o preço é o mercado de fretes, que costuma oscilar conforme o andamento da economia ao redor do mundo. E o espaço que o mercado de fretes reserva para o repasse do aumento de custo real é curto. É fantástica a velocidade com que os custos estão aumentando atualmente – há matérias sobre o assunto na internet.

Voltando a nossa conversa. O que sabemos sobre a atual situação do transporte de cargas? Temos noticiado aqui e ali pequenas notas no pé da página dos noticiários. A maioria delas são feitas pelos comentaristas econômicos que defendem com unhas e dentes o direito da Petrobras de manter a sua política de preços dos combustíveis alinhados às oscilações dos mercados internacionais. Mas o que fazer se os caminhoneiros ganham em reais e o diesel e outros insumos são corrigidos em dólar?

Mil coisas têm sido sugeridas, como a formação de um fundo especial que amortize os aumentos dos combustíveis. Mas o que o caminhoneiro autônomo anda falando a respeito do assunto pelos postos de combustíveis à beira das estradas? E os empresários do setor, o que eles andam conversando entre as quatro paredes?

Esse tipo de avaliação é muito escasso nos noticiários. A greve de 2018 nos deixou como ensinamento que as entidades do setor não têm poder sobre a categoria. Para saber o que está acontecendo é necessário colocar repórteres na estrada para conversar com caminhoneiros e donos de transportadoras.

Lembro que, em 2019, houve um rumor de que haveria uma greve. Não aconteceu. Na ocasião, em dezembro daquele ano, publiquei o post “Se os donos das transportadoras aderirem, a greve dos caminhoneiros sai e cresce”. É escassa a possibilidade dos jornais colocarem repórteres nas estradas para conversar com os caminhoneiros e os empresários do setor.

Então, como faremos para informar o nosso leitor? A maioria das cidades do Brasil tem postos de combustíveis onde os caminhoneiros abastecem e dormem. Ali é possível encontrar gente de todos os cantos do país e obter uma ideia aproximada do que está rolando.

Um cuidado que precisamos tomar nas nossas matérias é quanto ao uso dos termos “empresários” e “donos das transportadoras”. Porque muitos caminhoneiros são donos de três ou quatro caminhões. Mas os grandes empresários, donos das maiores empresas de transporte de cargas do país, são poucos e desconhecidos. E poderosos, porque além da sua frota própria eles contratam caminhoneiros autônomos e pequenas empresas para levar as suas cargas.

Quem são os grandes empresários do ramo de cargas? Sabemos que a maioria das grandes empresas teve a sua origem em firmas familiares e hoje são sociedades anônimas administradas por CEOs, um profissional que ocupa o cargo de diretor-executivo e tem como meta fazer a empresa dar lucro e os acionistas ganharem dinheiro.

Pela prática que tenho em quatro décadas como repórter aprendi que a maioria das informações de boa qualidade e com procedência relevante que se consegue nas grandes empresas de transporte são obtidas em off, o que significa que o repórter precisará ter conhecimento do assunto e confiança na sua fonte para não escrever bobagem. Uma explicação para quem não é jornalista. “Em off” é quando a fonte fornece uma informação sigilosa ao repórter sob a condição de não ser identificada.

A pergunta que nós jornalistas precisamos responder de maneira rápida e com um bom grau de certeza para os nossos leitores é simples. Por que os caminhoneiros estão apanhando quietos? Nunca pagaram tanto pelo litro de diesel. Estão quietos porque nós não fomos lá falar com eles? Ou simplesmente estão esperando o governo do presidente Bolsonaro terminar para botarem a boca no trombone?

Não podemos ser surpreendidos e sair por aí escrevendo bobagem. Enchendo linguiça e torrando a paciência do leitor lembrando, a essa altura dos acontecimentos, que o Brasil fez a opção errada de ter apostando no sistema rodoviário para o transporte de cargas, deixado no abandono os trens e barcos.

A nossa realidade é que estamos nas mãos dos caminhoneiros e dos donos das empresas de transporte de carga. E eles estão nas mãos da Petrobras. Uma explicação para quem não é jornalista. Encher linguiça é inserir na matéria um monte de informações desnecessárias.

Voltando à conversa. A disputa pela Presidência da República está polarizada entre Bolsonaro, que concorre à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP). Quem ganhar terá um baita abacaxi para descascar, que é a questão dos preços do diesel, da gasolina e do gás de cozinha. E não terá muito tempo para resolver o rolo.

A Petrobras é uma empresa estatal de economia mista, protegida por uma série de leis e decretos que impedem o seu presidente de vergar a coluna para o ocupante do Palácio do Planalto. Como disse, é um baita abacaxi.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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Um Comentário

  1. Sim, jornalistas sempre sabem o que é melhor para os outros. Olham numa grande bola de cristal que fica no meio das redações.
    A confusão começou no primeiro governo Dilma, a humilde e capaz. BNDES financiou aquisição de caminhões a preço de banana com juros de mãe. Gerou um excesso na oferta de quase 300 mil caminhões e, se persistisse, dobraria a frota a cada dois anos. Por isto que uma provavel eleição de Molusco com L., o honesto, não apavora. Os ‘genios’ irão quebrar o pais novamente e as jJornadas de Junho voltarão com toda a força. Não vai ser só caminhoneiros.

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