Hálux, os Pododáctilos e o Tráfico de Drogas – por Marcelo Arigony
“Em outra vida eles seriam os integrantes de uma banda de rock ‘paulera’”
Para quem não sabe, e eu não sabia, os dedos dos pés também têm nome. Confesso que ficava intrigado: por que não nominamos os dedos dos pés, se os dedos das mãos têm nome e até apelido?
Bem, depois de meia vida de angústia, fui beber do Google, grande ser onipresente, que tudo sabe e agora com o Street View também tudo vê.
Então, os dedos dos pés têm nomes: Hálux (dedão), 2º Pododáctilo, 3º Pododáctilo, 4º Pododáctilo e 5º Pododáctilo (mindinho do pé).
E o tráfico de drogas? Que tem com essas “falanges”? Numa linguagem figurada, muito a ver.
A partir de um novo modelo de polícia, mais estruturado e operacional, temos chegado a números espetaculares em operações, prisões, apreensões de armas e drogas. Só teríamos a comemorar, não fosse um indicador que tem preocupado sobremaneira. O tráfico de drogas não cede!
Cerca 70% da massa carcerária é composta por apenados ligados ao tráfico. Se considerarmos apenas o contingente feminino, a razão é mais alarmante: cerca de 90%. Isso, em termos macro, é algo como um professor que reprova todos os alunos. Algo está errado, e a luz amarela está ligada há bastante tempo!
E os dedos? Uma casa onde há tráfico de drogas pode ser vista como uma mão, onde cada um dos dedos é um morador. Depois de algum tempo de investigação, conseguimos prender o dedo pai de todos (dedo médio), e retirá-lo de circulação. Todavia, medidas como essa não têm mais trazido qualquer eficácia social, porque imediatamente um dos outros quirodáctilos sucede na traficância. Normalmente o dedo anelar (a esposa) assume o papel do marido, por necessidade ou obrigação.
Se a ação policial conseguir também prender e encarcerar o dedo anelar, logo o indicador (um dos filhos) sucederá na posição. E assim por diante, até que retiremos do convívio social todos os quirodáctilos.
Aí pensarão os desavisados que aquele ponto de tráfico foi extinto. Ledo engano. Entrarão em campo os vizinhos (Hálux e os Pododáctilos), que continuarão suprindo o mercado consumidor.
Tira-se um, aparecem dois para fazer o serviço. E pior, cada mulher dessas que é presa por traficância deixa os filhos em situação de maior vulnerabilidade, fadados também a ingressar nas fileiras do álcool, drogas e criminalidade.
Em outra vida Hálux e os Pododáctilos seriam os integrantes de uma banda de rock paulera…
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Ainda não perdi a esperança de ver alguém pensar política criminal sem achismos, populismo e demagogia. A esperança é a última que morde!
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Nota do Editor: excepcionalmente, nesta semana, o cronista reedita (com modificações) texto originalmente publicado no jornal A Razão, periódico santa-mariense que deixou de circular em fevereiro de 2017, mas que mantém sua atualidade.
Hummm…. E os da mão? Seu minguinho, seu vizinho, pai de todos, fura bolo e mata-piolho! Estatistica é naquela base. Olhando por cima o trafico bate nos 30% (SP chega a 40%). Roubo fica perto dos 25%. Os numeros reais estão disponiveis. Basta usar…o Google. Obviamente no planeta Terra todos tem, na media, um testiculo e um seio. Resumo da ópera: para uns, política criminal sem achismos, populismo e demagogia nem olhando no espelho! Kuakuakuakua!