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CAMPO. Com políticas públicas se pode ampliar a produtividade, sem “avançar em novos territórios”

Estudo internacional sobre o tema tem pesquisador da UFSM como coautor

Alencar Zanon, professor e pesquisador da UFSM: “comparando o Brasil com outros dos maiores produtores de soja no mundo – Estados Unidos e Argentina – somos o país que mais pode aumentar sua produtividade por hectare” (Foto Divulgação)

Por Gabrielle Pillon / Da Revista ARCO/UFSM, no site da Universidade

Maximizar o lucro do produtor rural com o mínimo impacto ambiental é um dos objetivos da Equipe FieldCrops e de seu coordenador, o professor Alencar Zanon, do Centro de Ciências Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Desde 2017, dada a sua experiência na área, o docente aliou-se a uma rede de pesquisa interuniversidades, o projeto Global Yield Gap and Water Productivity Atlas . Em 10 de outubro, a parceria resultou na publicação do artigo “Protecting the Amazon forest and reducing global warming via agricultural intensification” (Protegendo a floresta amazônica e reduzindo o aquecimento global por meio da intensificação agrícola, em português) na renomada revista Nature Sustainability. 

O feito é oriundo do trabalho de universidades e instituições de pesquisa brasileiras (UFSM, Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Goiás, Embrapa Arroz e Feijão), argentinas (Universidad de Buenos Aires e Conicet) e norte-americana (University of Nebraska).

O estudo aponta uma alternativa para a questão, outrora antagônica, entre produção agrícola e preservação ambiental: a intensificação.

Isto é, por meio de pesquisas e políticas públicas, pode-se aumentar a produtividade de uma lavoura, sem precisar avançar em novos territórios. Assim, os pesquisadores detém-se à soja, principal nome da exportação brasileira, e ao bioma Cerrado. Com isso, o Brasil poderia aumentar a produção anual do grão em 36% até 2035 e, ainda, reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 58%. 

Além disso, o artigo lembra que a expansão da soja na Amazônia equivale a um terço das terras convertidas para tal finalidade no Brasil entre 2015 e 2019. Dessa forma, os autores das universidades e institutos em pesquisa presentes na publicação querem evitar que se cumpra a previsão de que o Brasil usará 57 milhões de hectares para a produção de soja nos próximos 15 anos, com um quarto da produção em terras ambientalmente frágeis. A Revista Arco conversou com o professor Alencar Zanon para entender mais sobre o assunto:

ARCO: O estudo afirma que o Brasil fez progressos notáveis no fomento da produção agrícola nos últimos 50 anos, tornando-se um grande país exportador de soja, milho e carne bovina. No entanto, grande parte do aumento da produção agrícola ocorreu devido à expansão das terras agrícolas e não à produtividade delas. O que fez com que esta última não fosse realizada?  

Alencar: O que acontece no Brasil, como um país em desenvolvimento, é que temos muitas áreas que são aptas para a agricultura. Por conta dessa aptidão agrícola do nosso país, é natural que os produtores busquem expandir novas fronteiras. Em virtude do espírito empreendedor, da coragem que o produtor tem em semear em novas áreas, e também pela aptidão do nosso solo e clima, é que nós tivemos essa expansão, transformando o Brasil de um produtor incipiente de soja ao maior produtor mundial. Então, eu resumo em: solos aptos para a agricultura e um bom clima, os quais permitem que cultivemos hoje mais de 40 milhões de hectares de soja com sustentabilidade.  

ARCO: Nesses 50 anos de avanços, não foi investido em produtividade de terras? 

Alencar: Na verdade, foi. Nós tivemos grandes revoluções que permitiram o aumento de produtividade nas áreas, só que a área cultivada era pequena. Sendo assim, quando comparamos o aumento de produtividade com o aumento da área cultivada, isso faz com que os maiores aumentos na produção total venham de novas áreas. Se formos analisar, quando a soja ganhou um espaço grande como cultura agrícola no Brasil, a produtividade era de 1,5 mil quilos de soja por hectare. Hoje, a produtividade é de 3 mil quilos de soja por hectare. A produtividade aumentou em 100%. Mas, se olharmos no cenário geral, como houve expansão de 20 milhões de hectares, nos anos 2000, para 42,5 milhões de hectares em 2022, a maior parte da produção vem dessas áreas novas. 

ARCO: O que o artigo sugere, então, é que, mesmo com a grande produtividade que temos até agora, é preciso aumentá-la nas terras já existentes, em vez de avançar para novas áreas?
Alencar: No artigo, dissemos que há uma oportunidade de aumentar a produtividade na atual área agricultável sem precisar adentrar novas áreas. Em outras palavras, comparando o Brasil com outros dos maiores produtores de soja no mundo – Estados Unidos e Argentina – somos o país que mais pode aumentar sua produtividade por hectare. Esse é o grande lance do Brasil, diferente dos países mencionados, que têm uma margem muito pequena para aumentar a produtividade, nós temos uma margem considerável para produzir mais na mesma área, sem a necessidade de expandir para novos espaços. Por mais que nossa produtividade seja boa, podemos melhorar. É isso que o artigo cita como Rendimento Explorável. Nos biomas Pampa e Mata Atlântica, essa oportunidade é pequena. Já no Cerrado, há uma margem grande. Para aumentar a produtividade da soja no Brasil, com sustentabilidade, devemos focar no Cerrado…”

PARA LER A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA, CLIQUE AQUI.

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Um Comentário

  1. Estudo é teórico. Utiliza modelo de safra e analise espacial. ‘Atingir a safra ideal em campos cultivados é dificil, requer grande quantidade de insumos e alto grau de sofisticação para eliminar fatores redutores de safra […]’. Logo objetivo é atingir 80% do ideal (Pareto). A ‘intensificação’ nada mais é que eliminar o gap entre a safra media e os 80% do ideal, o ‘potencial crescimento’. Se isto acontecer não é necessario cultivar mais areas. Pesquisa de escritorio feita com um computador no ar condicionado. Não se sabe o custo para fechar o gap porque não é objetivo da pesquisa. Publicam porque é ‘para salvar a Amazonia e o Cerrado, deter o aquecimento global’. A noticia boa é que as decisões a respeito do assunto será feita por politicos semi-analfabetos em BSB, decisões estas que poderão ou não ter alguma repercussão no mundo real, nos locais citados. Simples assim. Existe uma diferença sutil entre ‘ciencia’ e ‘burocracia academica’ (diferente da burocracia na academia). Alguns entendem, outros não.

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